COLETÂNEAS DE UM MÍSTICO

Max Heindel

 

SUMÁRIO

PREFÁCIO 3

CAPÍTULO I 4

Iniciação: O que é e o que não é 4

Primeira Parte 4

CAPÍTULO II 7

Iniciação: o que é e o que não é 7

SEGUNDA PARTE 7

CAPÍTULO III 10

O Sacramento da Comunhão 10

Primeira Parte 10

CAPÍTULO IV 13

O Sacramento da Comunhão, em minha memória 13

Segunda Parte 13

CAPÍTULO V 17

O Sacramento do Batismo 17

CAPÍTULO VI 20

O Sacramento do Matrimônio 20

CAPÍTULO VII 24

O Pecado Imperdoável e as Almas Perdidas 24

CAPÍTULO VIII 27

A Imaculada Concepção 27

CAPÍTULO IX 30

A Volta de Cristo 30

CAPÍTULO X 33

A Próxima Era 33

CAPÍTULO XI 36

A Carne e a Bebida como fatores na Evolução 36

CAPÍTULO XII 40

Um Sacrifício Vivente 40

CAPÍTULO XIII 43

Magia Branca e Negra 43

CAPÍTULO XIV 46

Nosso Governo Invisível 46

CAPÍTULO XV 49

Preceitos Práticos para Pessoas Práticas 49

CAPÍTULO XVI 52

O Ruído, O silêncio e o Crescimento Anímico 52

CAPÍTULO XVII 56

O "Magno Mistério" da Rosacruz 56

CAPÍTULO XVIII 59

Pedras de Tropeço no Caminho 59

CAPÍTULO XIX 63

A Eclusa da Elevação 63

CAPÍTULO XX 66

O Significado Cósmico da Páscoa 66

Primeira Parte 66

CAPÍTULO XXI 69

O Significado Cósmico da Páscoa 69

Segunda Parte 69

CAPÍTULO XXII 72

O Cristo Recém-Nascido 72

CAPÍTULO XXIII 75

Porque sou um Estudante Rosacruz 75

CAPÍTULO XXIV 78

O Objetivo da Fraternidade Rosacruz 78


PREFÁCIO

 

Os assuntos tratados neste livro estão dentre os últimos escritos de Max Heindel, o místico. Eles contêm alguns de seus pensamentos mais profundos e são o resultado de anos de pesquisa e investigação oculta. Ele poderia dizer também como Parsifal: "Através do erro e do sofrimento, através de muitos fracassos e de incontáveis angústias, eu vim". Finalmente, foi-lhe dada a água vivificante com a qual pôde saciar a sede espiritual de tantas almas. Desenvolveu profundamente a piedade, o amor e pôde sentir o palpitar do coração da humanidade sofredora.

Normalmente, almas fortes são dotadas de grande energia e iniciativa e, através dessas forças, galgam posições de vanguarda, embora, freqüentemente, sofram muito. Em conseqüência, sentem imensa compaixão pelos outros. O autor destes ensinamentos sacrificou seu corpo físico no altar do serviço.

Ao escrever os livros e as lições mensais da Fraternidade, ao proferir palestras e aulas, e no árduo trabalho pioneiro de fundar a Sede Mundial no curto período de dez anos, Max Heindel realizou mais do que muitos poderiam fazê-lo em toda uma vida, mesmo que tivessem saúde perfeita. Seu primeiro livro, sua obra-prima, "O Conceito Rosacruz do Cosmos", foi escrito sob orientação direta dos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz. Este livro leva uma mensagem vital para o mundo. Satisfaz não apenas o intelecto, mas também o coração. O livro "Maçonaria e Catolicismo" pode ser encontrado em muitas bibliotecas maçônicas. O ocultista aprende muito com o livro "A Teia do Destino", que é uma fonte de conhecimentos místicos e de proveitosas verdades ocultas. É também um guia para o investigador, quando indica os sinais de perigo aos aventureiros que desejam tomar o céu por assalto. Para a ciência da astrologia, ele deu, em poucos anos, mais informações do que haviam sido dadas anteriormente, em séculos. Seus dois valiosos trabalhos, "Astrologia Científica Simplificada" e "A Mensagem das Estrelas" tratam amplamente dos aspectos espirituais e médicos da astrologia. O último fornece métodos de diagnóstico e cura, o que constitui um acréscimo valioso para os trabalhos de outros autores, tanto antigos quanto modernos. Estes livros podem ser encontrados nas bibliotecas de muitos médicos da escola antiga.

Em "Coletâneas de um Místico" encontramos vinte e quatro lições que foram, originalmente, enviadas aos estudantes. É desejo da autora deste prefácio, que estas lições levem uma mensagem de amor e alegria aos leitores com sede de conhecimentos espirituais e esperança aos desconsolados.

 

Augusta Foss Heindel


 

CAPÍTULO I

 

Iniciação: O que é e o que não é

Primeira Parte

 

Freqüentemente recebemos perguntas referentes à Iniciação, e pedem-nos para informar se esta ou aquela ordem ou sociedade são genuínas e se as iniciações que elas oferecem aos interessados são de "confiança", Por esta razão, parece-nos necessário fazer uma dissertação sobre o assunto, para que os estudantes da Fraternidade Rosacruz possam ter um esclarecimento que lhes sirva de referência e orientação no futuro.

Em primeiro lugar, gostaríamos de deixar bem claro que consideramos repreensível condenar determinada ordem ou sociedade e fazer qualquer julgamento de suas práticas, pois podem ser sinceras e honestas, de acordo com a sua luz. Não acreditamos poder subir no conceito das pessoas discriminando homens e mulheres em termos depreciativos. Nem temos a ilusão de que nós possuímos toda a verdade e que as outras sociedades estão imersas nas trevas. Reiteramos o que muitas vezes já dissemos, que todas as religiões foram dadas à humanidade pelos Anjos do Destino, que conhecem as necessidades espirituais de cada classe, nação e raça, e têm a sabedoria de dar a cada uma, a forma de adoração adequada à sua necessidade particular. Assim, o Hinduísmo é apropriado ao hindu, o Islamismo ao árabe e a religião Cristã aos nascidos no Hemisfério Ocidental.

As Escolas de Mistérios de cada religião fornecem aos membros mais avançados da raça ou nação que a adote, um ensinamento mais elevado, o qual, se vivenciado, os coloca numa esfera superior de espiritualidade em relação aos seus irmãos. Assim como a religião das raças mais atrasadas é de uma ordem inferior à religião dos pioneiros - as nações Cristãs - assim também os Ensinamentos das Escolas de Mistérios Orientais são mais elementares que os do Ocidente, e os iniciados hindus ou chineses estão num grau de realizações correspondentemente inferior ao do místico ocidental. Consideremos isto profundamente, para que não sejamos vítimas de pessoas mal informadas que tentam persuadir-nos que a religião Cristã é cruel, comparada com os cultos orientais. Sempre para o oeste, seguindo o sol brilhante - a luz do mundo - caminhou a estrela do império. Por que não admitir que a luz espiritual acompanhou a civilização ou mesmo a precedeu, assim como o pensamento precede a ação? Consideramos a religião Cristã como a mais elevada dada ao homem até o momento presente, e repudiá-la, seja ela exotérica ou esotérica, por qualquer sistema antigo, é, o mesmo que preferir desatualizados livros científicos aos mais novos que encerram descobertas recentes.

As práticas do aspirante oriental que pretende obter uma vida mais elevada, não devem ser imitadas pelos ocidentais; referimo-nos, particularmente, aos exercícios respiratórios. Estes são benéficos e necessários ao desenvolvimento do hindu, mas o mesmo não se aplica ao aspirante ocidental. É perigoso praticar tais exercícios de respiração almejando o desenvolvimento anímico. Estes exercícios poderão até prejudicar tal desenvolvimento e são totalmente desnecessários. A razão é a seguinte:

Durante a involução, o tríplice espírito, gradualmente, incrustou-se em um tríplice corpo. Na Época Atlante, o homem estava no nadir da materialidade. Presentemente, a humanidade está passando pelo ponto mais baixo do arco da involução e começa a subir o arco da evolução. Estamos encerrados nesta prisão terrestre e, de tal forma, que as vibrações espirituais permanecem quase extintas. Isto realmente acontece nas raças mais atrasadas e nas classes inferiores do mundo ocidental. Os átomos nos corpos de tais raças atrasadas vibram com intensidade bastante baixa e quando, com o correr do tempo, uma pessoa consegue desenvolver-se e progredir, é necessário elevar esse grau vibratório do átomo para que o corpo vital, que é o agente do crescimento oculto, possa ser, até certo ponto, liberado da força enfraquecedora do átomo físico. Esse resultado é atingido por meio de exercícios respiratórios que, com o tempo, aceleram a vibração do átomo e permitem o crescimento espiritual necessário a cada um.

Esses exercícios também podem ser praticados no mundo ocidental; especialmente por pessoas que não estão realmente preocupadas com o seu desenvolvimento espiritual. Mas, mesmo entre as que desejam o crescimento anímico, muitas ainda não atingiram o ponto em que os átomos de seus corpos evoluíram a um grau suficiente de vibração, portanto, a aceleração deles, além da medida habitual, poderia prejudicá-las. Nestes casos, os exercícios de respiração não causariam grande dano. Mas, se forem dados a uma pessoa que está prestes a trilhar o caminho do desenvolvimento, quase preparada para a Iniciação e poderia ser beneficiada por exercícios espirituais, então, o caso torna-se bem diferente.

Durante as várias eras que percorremos no processo da nossa evolução, desde quando estávamos em corpos hindus, nossos átomos vêm acelerando enormemente seus graus vibratórios e, como foi explicado no caso da pessoa que está próxima da Iniciação, o grau de vibração resulta mais elevado do que o da média humana. Portanto, a pessoa não precisa de exercícios respiratórios para acelerar este grau, mas de certos exercícios espirituais que sejam individualmente adequados para seu progresso no caminho certo. Se neste período crítico, ela encontra alguém que, por ignorância e inescrupulosamente, lhe ensina exercícios respiratórios que praticará corretamente na esperança de obter resultados mais rápidos, na verdade os obterá, mas não da forma que esperava, pois o grau vibratório dos átomos em seu corpo se tornará, em pouco tempo, tão acelerado, que terá a sensação de estar caminhando no ar. Poderá ocorrer também uma divisão imprópria no corpo vital, o que causará um desgaste físico e até mesmo a insanidade. Assim, grave bem em sua consciência e com letras de fogo, o seguinte: A Iniciação é um processo espiritual, e o progresso espiritual não pode ser efetuado por meios físicos mas somente por exercícios espirituais.

Existem muitas ordens no Ocidente que alegam iniciar qualquer pessoa, desde que pague por isso. Algumas dessas ordens têm nomes parecidos com o nosso e muitos estudantes nos perguntam se estão ligadas a nós. Para resolvermos definitivamente essa questão, lembrem-se que a Fraternidade Rosacruz tem constantemente afirmado que nenhum dom espiritual pode ser negociado por dinheiro. Reiteramos que não temos ligação com nenhuma ordem que solicite dinheiro para transmitir poder espiritual. Aquele que tem algo a oferecer de natureza verdadeiramente espiritual, não o trocará por dinheiro. Recebi um especial mandato a este respeito dos Irmãos Maiores no Templo Rosacruz, quando me foi dada a missão de servir como seu mensageiro no mundo de língua inglesa. Não pretendo que acreditem nisso, salvo se virem que ela é justificada por seus frutos.

Porém, voltemos à Iniciação. O que é? É uma cerimônia como é praticada por certas ordens? Se assim for, qualquer ordem poderá elaborar cerimônias com formas as mais diversas. Podem apelar para as emoções através de roupas pomposas e choque de espadas. Podem suscitar sentimentos de admiração e medo ao arrastar correntes e fazer ressoar gongos, e assim produzir em seus seguidores uma "sensação oculta". Muitos se deleitam com as aventuras e experiências do herói do "O Irmão do Terceiro Grau", pensando ser isto a Iniciação, mas eu asseguro que está muito longe de ser assim. Nenhuma cerimônia pode dar a alguém a experiência interna que constitui a Iniciação, não importa quanto foi pago ou quão impressionantes tenham sido os juramentos, quanto a cerimônia decorreu terrível ou admirável, ou quanto as vestimentas eram maravilhosas. Passar por uma cerimônia não converte um pecador em um santo. A conversão é, para o religioso exotérico, exatamente o que a Iniciação é no misticismo elevado. Considerem este assunto profundamente e obterão a chave para o problema.

Acreditam que alguém possa aproximar-se de uma pessoa de caráter depravado, aceitar convertê-la em troca de certa soma de dinheiro e cumprir seu compromisso? Sabemos que nenhuma quantia realizaria essa transformação no caráter de um homem. Perguntem a um verdadeiro convertido onde e como adquiriu sua religião. Um poderá dizer que a recebeu enquanto caminhava; outro dirá que a luz e a mudança alcançaram-no na solidão de seu quarto; outro ainda, que a luz incidiu sobre ele, como aconteceu a Paulo na estrada de Damasco, convertendo-o. Cada um possui uma experiência diferente mas, em cada caso, é uma experiência interna e a manifestação externa desta experiência interna é que transforma toda a vida do homem, em todos os seus aspectos.

O mesmo acontece com a Iniciação: é uma experiência interna, completamente separada e à parte de qualquer cerimonial, portanto, é totalmente impossível que alguém possa comercializá-la. A Iniciação transforma por completo a vida de um homem. Dá-lhe uma confiança que jamais possuiu. Envolve-o com o manto de autoridade que nunca ser-lhe-á tirado. Não importam as circunstâncias que se apresentem na vida, ela difunde uma luz sobre todo seu ser que é simplesmente maravilhosa. Nenhuma cerimônia pode efetuar tal transformação. Portanto, repetimos que aquele que oferecer a iniciação em uma ordem ocultista por dinheiro e através de cerimônias, qualifica-se de imediato como um impostor. Se um aspirante aproximar-se de um verdadeiro Mestre oferecendo-lhe dinheiro para obter conhecimentos espirituais, por certo ouvirá as mesmas palavras indignadas proferidas por Pedro a Simão, o feiticeiro, que lhe ofereceu dinheiro para obter poderes espirituais: "Tua prata morrerá contigo".


 

CAPÍTULO II

 

Iniciação: o que é e o que não é

SEGUNDA PARTE

 

Para compreender melhor o que constitui a Iniciação e quais são os seus pré-requisitos, o estudante deve observar cuidadosamente que uma grande parte da humanidade está evoluindo e, de forma lenta e quase imperceptível, conseguindo atingir estados de consciência cada vez mais elevados. O caminho da evolução é uma espiral quando o observamos unicamente sob o lado físico, mas é uma lemniscata quando visto tanto em seu lado físico como no espiritual (Veja o diagrama do caduceu químico no "O Conceito Rosacruz do Cosmos"). Na lemniscata, ou forma de oito, há dois círculos que convergem para um ponto central e esses círculos podem ser considerados símbolos do espírito imortal, o ego em evolução. Um dos círculos significa sua vida no mundo físico, do nascimento à morte. Durante este curto período de tempo, ele planta uma semente em cada ato praticado e, em troca, colherá uma correspondente experiência. No entanto, do mesmo modo que podemos semear e nada colher daquela semente porque caiu em solo pedregoso, entre espinhos, etc., também a semente da oportunidade pode perder-se devido à negligência no lavrar o solo. A vida será, então, infrutífera. Por outro lado, à medida que a atenção e o cuidado no cultivo aumentam imensamente a força produtiva da semente, assim também a séria dedicação aos vários afazeres da vida - aproveitamento das oportunidades para aprender as lições de cada dia e extrair delas a experiência que contêm - redunda em mais oportunidades e, ao fim de um dia de existência, o ego encontra-se à porta da morte carregado com os mais ricos frutos colhidos através da vida.

Ao terminar o trabalho objetivo da existência física, quando o dia de ação acabou, o ego entra no trabalho subjetivo da assimilação, realizado durante sua permanência nos mundos invisíveis, que compreende o período desde a morte até ao nascimento, simbolizado pelo outro anel da lemniscata. Como o método de realizar esta assimilação já foi minuciosamente descrito em várias partes de nossa literatura, não é necessário repeti-lo aqui. Relembramos, no entanto, que no momento em que um ego chega ao ponto central na lemniscata, a qual divide os mundos físico do psíquico e que chamamos a porta do nascimento ou da morte - designação dependente do lugar onde nós próprios estejamos no momento desse ego entrar ou sair da vida - ele traz consigo um conjunto de faculdades ou talentos adquiridos em suas vidas anteriores, e que poderá usá-los ou não durante sua próxima existência. Seu crescimento anímico dependerá do uso que fizer de seus dons.

Se por muitas vidas ele satisfez principalmente a natureza inferior, viveu para comer, beber e divertir-se, sonhou e passou a vida em especulações metafísicas sobre a natureza de Deus, abstendo-se sempre de todas as ações necessárias, evidentemente será deixado para traz pelos mais diligentes e progressistas. Agrupamentos desses preguiçosos formam o que chamamos "raças atrasadas", enquanto os participantes e dinâmicos que estão despertos para aproveitar todas as oportunidades, são os pioneiros. Contrariamente à idéia comumente aceita, isto se aplica também àqueles que trabalham na indústria. O fato de ganhar dinheiro é uma circunstância, um incentivo. Além desse aspecto, o seu trabalho é tão ou mais espiritual que o daqueles que passam seu tempo orando em prejuízo de uma atividade útil.

Assim, torna-se claro que o método de crescimento da alma, alcançado pelo processo da evolução, requer ação na vida física, seguido de um processo de reflexão no estado "post-mortem". Aqui, as lições da vida são extraídas e completamente incorporadas à consciência do ego, embora as experiências, em si mesmas, sejam esquecidas, do mesmo modo que esquecemos nosso esforço quando aprendemos a tabuada, embora a faculdade de utilizá-la permaneça conosco.

Este processo extremamente vagaroso e monótono está perfeitamente de acordo com as necessidades das massas. Porém, existem alguns que esgotam mais rapidamente as experiências dadas, exigindo e merecendo um campo maior para utilizar suas energias. A diferença de temperamento é a responsável pela divisão em duas classes.

Uma classe, guiada por sua devoção a Cristo, segue os ditames do coração em seu trabalho de amor por seus semelhantes - índoles maravilhosas, tornam-se luzes de amor num mundo sofredor, nunca são movidas por motivos egoístas, mas estão sempre prontas a abdicar de seu conforto pessoal para ajudar os outros. Assim foram os santos que tanto trabalharam como rezaram, nunca se esquivando do dever e da oração. Não estão mortos hoje. A Terra seria um deserto estéril, apesar de toda sua civilização, se eles não tivessem circulado pelo mundo com mensagens de perdão, iluminando a vida dos sofredores com a luz da esperança que irradia de seus semblantes amorosos. Se eles tivessem apenas o conhecimento possuído pela outra classe, certamente não teriam ajudado tanto os que buscam o caminho para o Reino.

A mente é a característica predominante da outra classe. Para ajudá-la em seus esforços na direção do conhecimento, as Escolas de Mistérios foram introduzidas primeiramente onde o drama do mundo estava sendo representado, para dar à alma aspirante, enquanto estava enlevada, respostas às perguntas sobre a origem e o destino da humanidade. Quando desperta, era instruída na ciência sagrada de como ascender mais seguindo o método da natureza - que é Deus em manifestação - plantando a semente da ação, meditando sobre a experiência e incorporando a moral essencial para obter, finalmente, um crescimento anímico correspondente. Com essa importante característica aprendemos que, no curso normal das coisas, uma vida inteira dedicada à semeadura e uma existência "post-mortem" dedicada à meditação e incorporação da substância anímica, farão com que este ciclo de mais ou menos mil anos possa ser reduzido a um dia, como assegura a máxima mística: "Um dia é como mil anos e mil anos como um dia". Portanto, seja qual for o trabalho executado em um único dia, se repassado à noite antes de cruzarmos o ponto neutro entre o estado de vigília e o sono, poderá ser incorporado à consciência do espírito como valioso poder anímico. Quando este exercício é executado fielmente, os pecados de cada dia assim revistos são apagados e o homem começa uma nova vida, com uma força anímica acrescentada, obtida em todos os dias de sua vida de probacionista.

Mas! - sim, há um grande MAS; a natureza não deve ser enganada, Deus não pode ser escarnecido. "O homem colherá aquilo que semear". Não devemos pensar que uma revisão superficial dos acontecimentos de um dia, admitindo simplesmente: "gostaria de não ter feito isto", ao rever uma cena onde tenhamos feito algo evidentemente errado, salvar-nos-á das conseqüências futuras. Quando ao morrer abandonamos o corpo denso e entramos no purgatório, o panorama de nossa vida passada desenrola-se em ordem inversa, para mostrar-nos primeiro os efeitos e depois as causas de nossas ações. Aí sentimos intensamente a dor que causamos aos outros. A menos que efetuemos nossos exercícios de modo que vivamos todas as noites nosso inferno, sentindo severamente toda dor que infligimos, estes exercícios de nada valerão. Da mesma forma, devemos procurar sentir, de maneira intensa, a gratidão pela bondade que recebemos de outros e a aprovação pelo bem que tenhamos feito.

Somente assim estaremos realmente vivendo a existência "post-mortem" e avançando cientificamente em direção à Iniciação. O maior perigo do aspirante que está trilhando esse caminho é prender-se na armadilha do egoísmo, e sua única proteção deve advir do cultivo das faculdades da fé, da devoção e da compaixão para com todos. É difícil, mas pode ser feito, e quando isto acontece, a pessoa torna-se uma maravilhosa força para o bem do mundo.

Se o estudante ponderou bem os argumentos anteriores, provavelmente compreendeu a analogia entre o ciclo longo da evolução e os ciclos curtos ou degraus percorridos no caminho da preparação. Deve ficar bem claro que ninguém poderá fazer este trabalho "post-mortem" por nós e transmitir-nos crescimento anímico, assim como uma pessoa não pode comer o alimento físico de outra, transmitindo-lhe o sustento e o crescimento. Achamos absurdo quando um padre se propõe a diminuir a permanência de uma alma no purgatório. Então, como podemos acreditar que alguém - não importa quais as considerações feitas - possa evitar que passemos por algumas existências purgatoriais para o nosso próprio benefício e pretenda transmitir-nos a força anímica que deveríamos adquirir no curso normal da vida, até o dia que estivéssemos preparados para a Iniciação? É absurda a oferta para iniciar uma pessoa que ainda está no limiar do caminho. Devemos ter a indispensável força anímica para a Iniciação, caso contrário ninguém poderá iniciar-nos. Se tivermos essa força, estaremos nesse limiar pelos nossos próprios esforços e podemos solicitar a Iniciação como um direito que ninguém ousará refutar ou deter. Se fosse possível comprá-Ia, seria muito barato mesmo por vinte e cinco milhões de dólares, e a pessoa que a oferece por vinte e cinco dólares é tão inescrupulosa como aquela que foi lograda. Lembremo-nos que se alguém se oferece para iniciar-nos numa ordem ocultista, não importa se é chamada "Rosacruz" ou qualquer outro nome, exigindo pagamento por uma taxa de iniciação, devemos considerá-lo um impostor. Explicações de que a taxa será usada para comprar insígnias, etc., são outras evidências da natureza fraudulenta da ordem. Repito, enfaticamente, que "a Iniciação não é uma cerimônia externa, mas uma experiência interna". Posso acrescentar ainda que os Irmãos Maiores da Rosacruz no Templo Místico, onde eu recebi a Luz, impuseram a condição de que sua ciência sagrada nunca deveria ser negociada por dinheiro. Gratuitamente a recebi e gratuitamente a dou. Tenho obedecido este preceito, tanto em espírito como em tudo o que escrevo, como é do conhecimento dos que se relacionam com a Fraternidade Rosacruz.


 

CAPÍTULO III

 

O Sacramento da Comunhão

Primeira Parte

 

Para obtermos um conhecimento completo do profundo e abrangente significado de como o Sacramento da Comunhão foi instituído, é necessário considerar a evolução do nosso planeta e a composição do homem, assim como a química dos alimentos e sua influência sobre a humanidade. Para elucidar melhor, recapitularemos rapidamente os Ensinamentos Rosacruzes e os vários assuntos tratados, conforme foram dados no "Conceito Rosacruz do Cosmos" e em outros trabalhos nossos.

Os Espíritos Virginais, que hoje são a humanidade, começaram sua peregrinação através da matéria na aurora dos tempos e, pelo atrito da existência concreta, suas forças latentes puderam ser transformadas em energia motriz como força anímica utilizável. Três véus sucessivos de matéria, cada vez mais densa, foram adquiridos pelos espíritos evoluintes durante os Períodos de Saturno, Solar e Lunar. Assim, cada espírito foi separado de todos os outros, e a consciência que não podia penetrar as paredes da prisão da matéria e comunicar-se com os outros, foi forçada a interiorizar-se e, ao fazê-lo, descobriu-se A SI Mesma. Desta maneira foi obtida a consciência própria.

Uma cristalização ulterior dos véus acima mencionados ocorreu no Período Terrestre durante as Épocas Polar, Hiperbórea e Lemúrica. Na Época Atlante, a mente foi acrescentada como um ponto focal entre o espírito e o corpo, completando a constituição do homem que ficou, então, equipado para conquistar o mundo e gerar força anímica pelo seu esforço e experiência, tendo individualmente vontade própria e livre-arbítrio, exceto quando limitado pelas leis da natureza e por suas próprias ações anteriores.

À medida que o homem em formação evoluía, grandes Hierarquias Criadoras guiavam os seus passos. Nada era deixado ao acaso. Até o alimento era escolhido, para que obtivesse daí o material necessário para construir os vários veículos de consciência necessários para realizar o processo do crescimento anímico. A Bíblia menciona essas várias etapas, embora coloque Nimrod em lugar errado ao fazê-lo simbolizar os reis da Atlântida que viveram antes do Dilúvio.

Na Época Polar, a matéria mineral pura tornou-se uma parte constituinte do homem. Assim, Adão foi feito de terra, isto é, quanto ao seu corpo denso.

Na Época Hiperbórea, o corpo vital foi acrescentado e assim sua constituição tornou-se semelhante a de uma planta, e Caim, o homem dessa época, viveu dos frutos do solo.

A Época Lemúrica presenciou a evolução de um corpo de desejos que fez o homem semelhante aos animais atuais. O leite, produto dos animais vivos, foi acrescentado à dieta humana. Abel era um pastor, mas em nenhum lugar consta que tenha matado um animal.

Naquele tempo, a humanidade vivia inocente e pacificamente na atmosfera nebulosa que envolvia a Terra durante a última parte da Época Lemúrica, como está descrito no capítulo sobre o "Batismo". Os homens eram como crianças sob os cuidados de um pai comum, até que receberam a mente no início da Época Atlante. A atividade do pensamento desgasta o tecido que precisa ser reposto. Quanto mais baixo e mais materialista for o pensamento, maior será a destruição e mais premente a necessidade de albumina por meio da qual se efetuam reparos rápidos. Daí a necessidade, a mãe da invenção, de iniciar a repugnante prática de comer carne e, enquanto continuarmos com pensamentos voltados só para os negócios e puramente materialistas, temos que prosseguir usando nosso estômago como receptáculo de nossas vítimas: os corpos em decomposição dos animais assassinados. Contudo, como veremos mais adiante, a alimentação carnívora possibilitou-nos alcançar o maravilhoso progresso material no Mundo Ocidental, enquanto que os vegetarianos hindus e chineses permaneceram num estado quase primitivo. É triste saber que eles serão forçados a seguir nossos passos e verter o sangue desses animais quando nós já tivermos acabado com esta prática bárbara, da mesma forma que acabamos com o canibalismo.

Quanto mais crescermos espiritualmente, mais nossos pensamentos se harmonizarão com o ritmo de nosso corpo, e menos albumina será necessária para reconstituir os tecidos. Conseqüentemente, uma dieta vegetariana preencherá nossas necessidades. Pitágoras pregou abstinência de vegetais aos alunos mais avançados por achar que eram ricos em albumina e reavivariam os apetites inferiores. Não vá o estudante concluir, apressadamente, que deve eliminar os vegetais de sua dieta. Muitos não estão ainda preparados para tais extremos, e nem mesmo aconselharíamos todos estudantes a absterem-se totalmente da carne. A mudança deve vir de dentro. No entanto, verificamos que a maioria das pessoas come carne demais pensando que lhe faz bem. Mas isto é uma digressão, portanto, voltemos à evolução ulterior da humanidade no que se relaciona ao Sacramento da Comunhão.

Quando a neblina densa que envolvia a Terra esfriou, condensou-se e inundou as diversas bacias, a atmosfera clareou e, em conseqüência dessa mudança atmosférica, houve uma adaptação fisiológica no homem. As fissuras em forma de brânquias, que haviam permitido que ele respirasse no ar denso carregado de água (que são vistas no feto humano até hoje), gradualmente se atrofiaram e sua função foi exercida pelos pulmões, com o ar puro entrando e saindo deles através da laringe. Isso permitiu que o espírito, confinado pelo véu da carne, pudesse expressar-se em palavras e ações.

Foi nos meados da Época Atlante, que o Sol brilhou pela primeira vez sobre o HOMEM como o conhecemos hoje. Foi quando ele nasceu pela primeira vez no mundo. Até então, havia estado sob o controle absoluto das grandes Hierarquias espirituais, mudo, sem voz ou escolha no que se referia à sua educação, do mesmo modo que uma criança está agora sob o controle de seus pais.

Porém, no dia em que finalmente emergiu da atmosfera densa da Atlântida - quando contemplou pela primeira vez e claramente a silhueta das montanhas e os contornos nítidos da abóbada azul-celeste; quando se deparou com a beleza das charnecas, das campinas, das criaturas que se moviam, dos pássaros no ar, e viu seu semelhante, o homem; quando sua visão se tornou clara por não mais existir aquela obscuridade parcial da nebulosa que antes embaraçava a percepção e, acima de tudo, quando tomou conhecimento de SI MESMO como ser separado e à parte de todos os outros, brotou de seus lábios o grito glorioso e triunfante, "EU SOU".

Agora, já possuía faculdades que o possibilitavam entrar na escola da experiência, o mundo fenomenal, como um agente livre para aprender as lições da vida, sem impedimentos, exceto pelas leis da natureza e pela reação de suas próprias ações anteriores, que se converteram em destino.

A dieta contendo um excesso de albumina proveniente da carne, com a qual se fartava, sobrecarregava seu fígado além de sua capacidade e obstruía o sistema, tornando-o moroso, obstinado e brutal. Assim, foi perdendo a visão espiritual que lhe revelava os anjos guardiães nos quais confiava, e viu somente as formas dos animais e dos homens. Os espíritos, com os quais viveu em amor e fraternidade durante o início da Época Atlante, foram obscurecidos pelo véu da carne. Tudo era muito estranho e ele os temia.

Daí tornou-se necessário dar-lhe um novo alimento que pudesse ajudar seu espírito a dominar as moléculas de carne altamente individualizadas (como é explicado no "O Conceito Rosacruz do Cosmos"; no capítulo sobre Assimilação), apoiá-lo na batalha do mundo e estimulá-lo em sua auto-afirmação.

Assim como nossos corpos visíveis formados de componentes químicos desenvolvem-se somente com alimentos químicos, assim também é necessário o espírito para atuar sobre o espírito, para ajudar a dissolver a pesada substância protéica e estimular o decaído espírito humano.

O emergir da Atlântida inundada, a liberação da humanidade do governo absoluto dos visíveis guardiães sobre-humanos, sua colocação sob a Lei de Conseqüência e as Leis da Natureza, e a dádiva do VINHO são fatos descritos nas narrativas de Noé e Moisés, embora em relatos diferentes de um mesmo acontecimento.

Tanto Noé quanto Moisés conduziram seus prosélitos através da água. Moisés clama aos céus e à terra para que testemunhem que colocou diante deles a bênção e a maldição, exorta-os a escolher o bem ou arcar com as conseqüências de seus atos. Em seguida, deixa-os.

O fenômeno do arco-íris necessita que o Sol esteja perto do horizonte, quanto mais perto melhor, e requer uma atmosfera límpida e uma nuvem escura na parte oposta do céu. Sob tais condições, um observador que permanecer de costas para o Sol, poderá ver os raios deste astro refletidos através das gotas da chuva como um arco-íris. No início da Época Atlante, quando ainda não havia chuva e a atmosfera era uma névoa úmida e quente, através da qual o Sol parecia uma de nossas lâmpadas num dia de neblina, o fenômeno do arco-íris era uma impossibilidade. Só teve condições de aparecer quando a névoa se condensou em chuva, inundou as bacias da Terra e deixou a atmosfera clara como descrita na história de Noé, que assim aponta os ciclos da Lei de Alternância que trazem o dia e a noite, o verão e o inverno, em seqüência invariável, à qual o homem está sujeito na época atual.

Noé cultivou a vinha e forneceu uma bebida alcoólica para estimular o homem. Dessa forma, equipado com uma constituição heterogênea, com uma dieta apropriada à ocasião e leis divinas para guiá-lo, o ser humano tornou-se responsável por suas próprias iniciativas na batalha da vida.


 

CAPÍTULO IV

 

O Sacramento da Comunhão, em minha memória

Segunda Parte

 

"O Senhor Jesus, na mesma noite em que foi traído, tomou o pão em suas mãos e depois de dar graças, partiu-o e disse: Tomai e comei, isto é o MEU corpo que é partido por vós. Fazei isto em minha memória. Do mesmo modo, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no MEU sangue. Toda vez que beberdes, fazei isto em minha memória. Porque toda vez que comerdes este pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber do cálice do Senhor indignamente, peca contra o corpo e contra o sangue do Senhor... Pois quem come e bebe indignamente, come e bebe sua própria condenação... E por causa disso que há entre vós muitos doentes e fracos, e muitos dormem". I Cor: 11:23-30.

Nas passagens anteriores existe um significado esotérico profundamente oculto, obscuro na tradução inglesa, mas em alemão, latim e grego, o estudante pode ter uma idéia do que realmente foi pretendido com a última ordem do Salvador a Seus discípulos. Antes de examinar este aspecto, vamos considerar primeiro as palavras: "em minha memória". Estaremos, então, em melhores condições para compreender o significado do "cálice" e do "pão".

Suponhamos que um homem procedente de uma terra. distante venha ao nosso país e viaje através dele, visitando vários lugares. Por toda parte verá pequenas comunidades reunindo-se ao redor da Mesa do Senhor para celebrar o rito mais sagrado dos Cristãos. Se perguntasse por que fazem isso, eles responder-lhe-iam que é em memória d'Aquele que era a bondade e o amor personificados; d'Aquele que era o servo de todos sem se preocupar em ganhar ou perder. Se este estrangeiro comparasse a atitude dessas comunidades religiosas aos domingos na celebração deste rito, com suas vidas durante o resto da semana, o que veria?

Cada um de nós sai para o mundo a fim de lutar bravamente pela existência. Sob a lei da necessidade, esquecemos o amor que deveria ser o fator principal nas vidas cristãs. A mão do homem está sempre contra seu irmão. Todos lutam por posição, riqueza e pelo poder que adquirem com esses atributos. Esquecem na segunda-feira, o que reverentemente relembraram no domingo. Ressentem-se disso e todos são infelizes. Fazemos também uma distinção entre o pão e o vinho que bebemos na chamada "Mesa do Senhor" e o alimento que ingerimos em outras ocasiões, nos intervalos do comparecimento à Comunhão. Porém, nada, é mencionado nas Escrituras que justifique esta distinção, como podemos verificar mesmo na versão inglesa, que omite as palavras impressas em itálico inseridas pelos tradutores para dar o que pensavam ser o sentido da passagem. Pelo contrário, é-nos dito que tudo o que comermos, bebermos ou qualquer coisa que fizermos, deverá ser feito para a glória de Deus. Todos os nossos atos deveriam ser uma oração. A "ação de graças" superficial que fazemos às refeições é, na realidade, uma blasfêmia. Um pensamento silencioso de agradecimento Àquele que nos dá o pão de cada dia é o suficiente. Devemos lembrar, à cada refeição, que o alimento retirado da substância da terra é o corpo do Espírito de Cristo que ali habita, que aquele corpo está sendo repartido para nós diariamente, e podemos, então, apreciar a bondade amorosa que O impele a dar-Se a nós. Lembremo-nos, também, que não há um momento, dia ou noite, que Ele não esteja sofrendo por estar ligado a esta Terra. Portanto, quando comemos e percebemos a verdadeira situação, estamos realmente proclamando a morte de Cristo, cujo espírito está gemendo e labutando, esperando pelo dia da libertação, quando não haverá necessidade de uma envoltura tão densa como a que necessitamos agora.

Mas há um outro mistério, maior e mais. maravilhoso ainda, oculto nessas palavras de Cristo. Richard Wagner, com a rara intuição de um gênio musical, percebeu isto quando, sentado em meditação à beira do Lago de Zurique numa Sexta Feira Santa, sentiu brotar em seu espírito um pensamento: "Que ligação existe entre a morte do Salvador e os milhões de sementes que germinam na terra nesta época do ano?" Se meditarmos sobre a vida que anualmente brota na primavera, vemo-la como algo maravilhoso e digno de veneração. Há um fluxo de vida que transforma o globo, do inverno de uma aparente massa gelada, em vida primaveril e rejuvenescida num curto espaço de tempo. A vida que assim se propaga nos brotos de milhares e milhares de plantas, é a vida do Espírito da Terra.

Dela vem tanto o trigo como a uva. Representam o corpo e o sangue do aprisionado Espírito da Terra, incumbido de sustentar a humanidade durante a presente fase de sua evolução. Repudiamos a alegação daqueles que julgam que o mundo lhes deve uma vida plena, sem que se esforcem por ela e onde não tenham responsabilidade material. Insistimos que existe uma responsabilidade espiritual ligada ao pão e ao vinho servidos na Ceia do Senhor: devem ser ingeridos condignamente, caso contrário, causarão enfermidades e até mesmo a morte. Superficialmente lido, poderá parecer um conceito forçado, porém, quando meditamos à luz do esoterismo, examinando outras traduções da Bíblia e observando as condições atuais do mundo, veremos que não é assim tão forçado.

Retornemos à época em que o homem vivia sob a guarda dos anjos, construindo, inconscientemente, o corpo que agora usa. Isto foi na antiga Lemúria. Era necessário um cérebro para evolução do pensamento e uma laringe para sua expressão verbal. Portanto, metade da força criadora foi dirigida para cima e usada pelo homem para formar esses órgãos. A humanidade tornou-se assim unissexual, e foi forçada a procurar um complemento quando foi necessário criar um novo corpo para servir de instrumento numa fase mais elevada da evolução.

Enquanto o ato do amor era consumado sob a sábia tutela dos anjos, a existência do homem estava livre de tristezas, dores e morte. Mas quando, sob a custódia dos Espíritos Lucíferos, ele comeu da árvore do Conhecimento e perpetuou a raça sem levar em conta as linhas de força interplanetárias, transgrediu a lei, e os corpos assim formados cristalizaram-se impropriamente e tornaram-se sujeitos à morte, de maneira muito mais perceptível do que haviam estado até então. Por isso, foi forçado a criar novos corpos com mais freqüência à medida que seu período de vida se encurtava. Os guardiães celestiais da força criadora expulsaram o homem do jardim do amor para o deserto do mundo, e ele tornou-se responsável por suas ações sob a lei cósmica que governa o universo. Desde então, e através das eras, vem lutando para conseguir sua própria salvação, e a Terra, em conseqüência, cristalizou-se cada vez mais.

Hierarquias divinas, incluindo o Espírito de Cristo, trabalharam sobre a Terra externamente, assim como o espírito-grupo guia os animais sob sua proteção. Mas, como diz Paulo tão corretamente: "Ninguém pode ser justificado sob a lei, pois sob ela todos pecaram e todos devem morrer". Não existe no antigo pacto nenhuma esperança além da presente, salvo um presságio de "alguém que há de vir" e que restaurará a retidão e a justiça. Por isso, João proclama que a lei foi dada por Moisés e a graça veio através de Cristo. Mas, o que é a graça? Pode ela trabalhar contra a lei e anulá-la completamente? É evidente que não. As leis de Deus são imutáveis e firmes, caso contrário, o universo viraria um caos. A lei de gravidade mantém nossas casas em posição relativa às outras casas e, quando saímos delas, sabemos com certeza que as encontraremos no mesmo lugar ao retornarmos. Pelo mesmo princípio, todas as outras divisões no universo estão sujeitas à leis imutáveis.

Assim como a lei separada do amor originou o pecado, assim também a lei temperada com amor tornou-se a graça. Tomemos um exemplo de nossas condições sociais concretas: temos leis que decretam uma certa penalidade para uma ofensa específica e, quando a lei é observada, chamamos isto de justiça. Porém, uma longa experiência está começando a ensinar-nos que justiça, pura e simples, é como os dentes do dragão Colchian que gera disputas e lutas cada vez maiores. O chamado criminoso permanece criminoso e torna-se cada vez mais embrutecido pelas penalidades da lei. Mas, quando um regime menos rigoroso permite que a sentença imputada àquele que transgrediu a lei seja suspensa, então ele estará sob a graça e não sob a lei. Também o cristão que procura seguir os passos do Mestre é emancipado da lei do pecado pela graça, desde que abandone o caminho do pecado.

Este foi o pecado de nossos progenitores na antiga Lemúria, quando desperdiçaram suas sementes sem levar em conta alei é sem considerar o amor. Mas é privilégio do cristão redimir-se, pela pureza de sua vida, em memória do Senhor. João diz: "Sua semente permanece nele" e este é o. significado oculto do pão e do vinho. Na versão inglesa lemos simplesmente: "Este é o cálice do Novo Testamento", mas no alemão, a palavra que designa cálice é "Kelch" e em latim é "Calix", ambas significando a parte externa que envolve a semente da flor. Em grego temos um significado mais sutil ainda, não expresso em outras línguas, na palavra "poterion", um significado que se torna evidente quando consideramos a etimologia da palavra "pot". Isto nos dá imediatamente a mesma idéia de cálice - um receptáculo. O verbo latino "potare" (beber) também mostra que o "cálice" é um receptáculo capaz de reter um líquido. Nossas palavras inglesas "potente" e "impotente", designando possuir ou ter falta da força viril, mostra o significado desta palavra grega que indica a evolução do homem em super-homem.

Já vivemos uma existência semelhante ao mineral, à planta e ao animal antes de nos tornarmos humanos como o somos hoje. Diante de nós existem ainda outras evoluções até aproximarmo-nos cada vez mais do Divino. Reconhecemos que são nossas paixões animais que nos retêm no caminho da realização. A natureza inferior está constantemente em luta com o Eu superior. Isto acontece com os que já experimentaram um despertar espiritual. Uma guerra está sendo travada silenciosamente no interior do aspirante e pior seria se isso fosse reprimido. Goethe, com arte magistral, exprimiu este sentimento nas palavras de Fausto, a alma aspirante, ao dirigir-se a seu amigo materialista, Wagner:


"Por um só impulso tu estás possuído,
Inconsciente do outro permaneces, ainda não o tens sentido.
Duas almas, oh! moram dentro do meu peito,
E aí lutam por um indivisível reino;
Uma aspira pela terra, com vontade apaixonada,
A íntimas entranhas ainda está ligada.
Acima das névoas, a outra aspira, de certeza,
Com ardor sagrado por esferas onde reine a pureza".


 

Era o conhecimento dessa necessidade absoluta de castidade (exceto quando o objetivo é a procriação) por parte daqueles que já haviam tido um despertar espiritual, que inspirou as palavras de Cristo. O Apóstolo Paulo exprimiu uma verdade esotérica quando disse que aqueles que tomam a comunhão sem viver a vida, estão em perigo de doença e morte. Assim como, sob uma tutela espiritual, a pureza de vida pode elevar o discípulo de maneira maravilhosa, assim também a incontinência produz um efeito muito maior sobre os corpos mais sensibilizados dó que sobre aqueles que estão ainda sob a lei e não se tornaram participantes da graça, pelo cálice da Nova Aliança.


 

CAPÍTULO V

 

O Sacramento do Batismo

 

Tendo estudado o significado esotérico das festividades cristãs do Natal e da Páscoa, como também a doutrina da Imaculada Concepção, dediquemos agora nossa atenção ao significado interno dos sacramentos da Igreja que são ministrados a cada pessoa em todos os países cristãos, desde o berço até o túmulo, e que fazem parte de todos os momentos importantes de sua vida.

Logo que tem início a jornada da vida, a Igreja admite a pessoa na congregação de fiéis pelo rito do Batismo, concedido quando ainda não é responsável por si mesma. Mais tarde, quando sua mentalidade já está um pouco mais desenvolvida, confirma aquele pacto e é admitida na Comunhão, onde o pão é partido e o vinho é bebido em memória do Fundador da nossa fé. Mais adiante, depara-se com o sacramento do Matrimônio e, finalmente, quando seu caminhar na Terra expira e o espírito retorna ao céu, que o deu, o corpo terreno é entregue ao pé de onde veio, acompanhado pelas bênçãos da Igreja.

No atual Protestantismo, o espírito de protesto é excessivo ao extremo e os discordantes erguem suas vozes rebelando-se contra a arrogância ilusória do clero e desaprovam os sacramentos qualificando-os de meras fantasias. Em conseqüência dessa atitude, essas funções tornaram-se de pouco ou nenhum efeito na vida da comunidade. Divergências surgiram entre os próprios clérigos e várias seitas formaram-se e afastaram-se da congregação apostólica original.

Apesar de todos os protestos, as várias doutrinas e sacramentos da Igreja são, contudo, as pedras angulares no arco da evolução, pois inculcam moralidade da mais elevada natureza. Até mesmo cientistas materialistas como Husley, admitiram que, enquanto a proteção efetua "a sobrevivência do mais forte" no reino animal, o que conseqüentemente é a base da evolução animal, o auto-sacrifício é o princípio sustentador do avanço humano. Se isso acontece entre simples mortais, podemos acreditar que isso deva ser assim, em extensão muito maior, no Autor Divino de nosso ser.

Entre os animais, a força é um direito e reconhecemos que os fracos reivindicam a proteção dos fortes. A borboleta põe seus ovos no lado de baixo de uma folha verde e abandona-os sem se importar com o bem deles. Nos mamíferos, o instinto materno é fortemente desenvolvido e vemos a leoa cuidando de seus filhotes, pronta para defendê-los com sua própria vida. Somente quando o reino humano é alcançado, é que o pai começa a desempenhar plenamente sua responsabilidade de pai.

Entre os selvagens, o cuidado com os filhos termina quando estes já são capazes de se cuidarem sozinhos. Porém, quanto mais ascendemos em civilização, mais o jovem recebe cuidados de seus pais e maior esforço é dispendido na sua educação mental, para que, quando alcançar a maturidade, a luta pela vida possa ser travada com mais vantagens do ponto de vista mental do que do físico. Quanto mais avançamos no caminho da evolução, mais desenvolvemos o poder da mente sobre a matéria. Pelo prolongado e cada vez maior auto-sacrifício dos pais, a raça torna-se cada vez mais sensível e o que perdemos em rudeza material, ganhamos em percepção espiritual.

À medida que esta faculdade desabrocha e se torna cada vez mais forte, o desejo ardente do espírito, preso neste corpo denso, busca mais intensamente a compreensão do lado espiritual de seu desenvolvimento. Wallace e Darwin, Huxley e Spencer apontaram como a evolução da forma é conseguida na natureza. Ernest Haeckel esforçou-se em resolver o enigma do universo, mas nenhum deles pôde explicar satisfatoriamente o Autor Divino daquilo que vemos. A grande deusa, a Seleção Natural, está sendo abandonada por todos à medida que os anos passam. Mesmo Haeckel, o eminente materialista, em seus últimos anos demonstrou uma ansiedade quase histérica para dar a Deus um lugar em seu sistema. Dia virá, em futuro não muito longínquo, em que a ciência tornar-se-á tão religiosa quanto a própria religião. A Igreja, embora extremamente conservadora, está abandonando, pouco a pouco, o seu dogmatismo autocrático e tornando-se mais científica em suas explicações. No devido tempo, veremos a união da ciência e da religião como existia nos antigos templos de mistérios e, quando isto acontecer, as doutrinas e sacramentos da Igreja estarão baseadas em leis cósmicas imutáveis, tão importantes quanto a lei da gravidade que mantém as órbitas em marcha nos seus trajetos ao redor do Sol. Assim como os pontos dos equinócios e solstícios são marcos decisivos no caminho cíclico de um planeta, marcados por festividades como o Natal e a Páscoa, assim também o nascimento no mundo físico, a admissão na Igreja, o matrimônio e, finalmente, a saída da vida física, são marcos no caminho cíclico do espírito humano ao redor de sua fonte central - Deus - e são caracterizados pelos sacramentos do batismo, comunhão, matrimônio e extrema unção.

Vamos considerar agora o rito do batismo. Os dissidentes contestaram muito a prática de levar-se uma criança para a Igreja e prometer, em seu nome, uma vida religiosa. Discussões inflamadas quanto ao uso de borrifar a água ou mergulhar nela, resultaram em divisões de igrejas. Se quisermos obter a noção verdadeira do batismo, temos que retroceder aos princípios da história da raça humana, como está gravada na Memória da Natureza. Tudo que já aconteceu está indelevelmente gravado no éter, do mesmo modo que uma cena cinematográfica está impressa sobre uma película, e essa mesma cena pode ser reproduzida sobre uma tela a qualquer momento.

Quando consultamos aquele incontestável registro, observamos que houve uma época em que a nossa Terra saiu do caos, escura e informe, como diz a Bíblia. As correntes desenvolvidas por agentes espirituais nessa nebulosa geraram calor, e a massa inflamou-se na época em que Deus pronunciou: "Faça-se a luz". O calor da massa ígnea e o espaço frio que a circundava geraram umidade; a névoa incandescente ficou cercada por água que fervia, e o vapor foi projetado na atmosfera. Assim, "Deus dividiu as águas... das águas..." - a água densa que estava mais próxima da névoa incandescente do vapor (que é água em suspensão), como está relatado na Bíblia.

Quando a água que contém sedimento ferve, uma crosta é formada. Similarmente, a água que circundava nosso planeta formou uma crosta ao redor do centro ígneo. A Bíblia informa-nos, mais adiante, que uma névoa subiu do solo, e podemos muito bem imaginar como a umidade foi gradualmente se evaporando de nosso planeta naqueles dias longínquos.

Mitos antigos são atualmente tidos como superstições, mas, na realidade, cada um deles contém uma grande verdade espiritual em símbolos pictóricos. Estas histórias fantásticas foram dadas á humanidade infante para ensinar aos homens de então, lições morais que seus intelectos recém-nascidos não estavam ainda preparados para receber. Eram ensinados por mitos - do mesmo modo que ensinamos nossas crianças por meio de livros com ilustrações e fábulas - lições além de sua compreensão intelectual.

Uma das mais famosas histórias desse gênero é "O Anel dos Niebelungos," que nos fala de um maravilhoso tesouro escondido sob as águas do Reno. Era uma massa de ouro em seu estado natural. Colocada sobre um alto rochedo, iluminava todo o cenário submarino, onde ninfas se exibiam inocentemente em alegres brincadeiras. Porém, um dos Niebelungos, levado pela cobiça, roubou o tesouro, tirou-o da água e fugiu. Mas, não conseguiu dar-lhe forma até que renunciasse ao amor. Então, ele o transformou num anel que lhe deu poder sobre todos os tesouros da Terra, mas, ao mesmo tempo, isso deu início à discórdia e às contendas. Por sua causa, amigo traiu amigo, irmão matou irmão, e em todos os lugares causou opressão, tristeza, pecado e morte, até que, finalmente, foi devolvido ao elemento aquoso e a terra consumiu-se em chamas. Mais tarde, como um novo fênix das cinzas da velha ave, ergueu-se um novo céu e uma nova terra onde a retidão foi restabelecida.

Esta antiga história popular dá-nos uma maravilhosa imagem da evolução humana. O nome Niebelungen é derivado das palavras alemãs Niebel (que significa névoa), e ungen (que significa filhos). Assim, a palavra Niebelungen significa filhos da névoa e refere-se à época em que a humanidade vivia na atmosfera nublada que circundava nossa Terra, no estágio de desenvolvimento previamente mencionado. Ali, a humanidade infante vivia numa grande fraternidade, inocente de todo o mal como um bebê de hoje, e iluminada pelo Espírito Universal, simbolizado pelo Ouro do Reno, que irradiava sua luz sobre as ninfas de nossa história. Com o tempo, a Terra foi ficando cada vez mais fria, a neblina condensou-se, a água inundou as depressões da terra e a atmosfera clareou. Os olhos dos homens foram abertos e ele percebeu-se como um ego separado. Então, o Espírito Universal de amor e solidariedade foi substituído pelo egoísmo e interesse próprio.

Esse foi o roubo do Ouro do Reno. Tristeza, pecado, discórdia, traição e assassinato substituíram o amor infantil e puro que existia entre a humanidade daquela época, quando habitava a atmosfera aquosa. Atualmente, esta tendência torna-se cada vez mais marcante e a maldição do egoísmo mais aparente. "A desumanidade do homem para com o homem" pesa como uma mortalha sobre a Terra e deve, inevitavelmente, trazer a destruição das condições existentes. Toda a criação está gemendo e labutando, esperando pelo dia da redenção, e a Religião Ocidental faz soar a nota-chave do caminho da realização, quando nos exorta a amar nosso próximo como amamos a nós mesmos. Dessa forma, o egoísmo deverá ser eliminado pela fraternidade universal e pelo amor.

Portanto, quando uma pessoa é admitida na Igreja, que é uma instituição espiritual onde o amor e a fraternidade são as molas principais da ação, é conveniente colocá-la sob as águas do batismo, como símbolo da condição de inocência infantil e do amor que prevaleceram quando a humanidade vivia sob a neblina naquele período longínquo. Nessa época, os olhos do homem infante ainda não haviam sido abertos para as vantagens materiais deste mundo. A criança que é trazida para a Igreja ainda não está desperta para as atrações da vida, e outros propõem-se a guiá-la para proporcionar-lhe uma existência santa e proveitosa. A experiência adquirida desde o Dilúvio ensinou-nos que o amplo caminho deste mundo está coberto de dor, tristeza e desilusões, e que só pelo caminho reto e estreito podemos escapar da morte e entrar na vida eterna.

Portanto, aprendamos que há um significado maravilhosamente profundo e místico atrás do sacramento do batismo, quando avaliamos as bênçãos que caem sobre os que são membros de uma fraternidade, onde o interesse próprio é abandonado e o serviço ao próximo torna-se a nota-chave e a meta principal de ação. No mundo é considerado o maior aquele que, com sucesso, procura dominar os outros. Na Igreja temos a definição de Cristo: "Aquele que quiser ser o maior entre vós, seja o servo de todos".


 

CAPÍTULO VI


O Sacramento do Matrimônio

 

Quando despojados das coisas supérfluas, os argumentos da religião Cristã ortodoxa podem ser resumidos da seguinte forma:

Primeiro: tentados pelo demônio, nossos primeiros pais pecaram e foram exilados do seu estado anterior de bem-aventurança, colocados sob a lei, sujeitos à morte e incapazes de se libertarem disso por seus próprios esforços.

Segundo: Deus tanto amou o mundo que enviou Cristo, Seu único Filho gerado, para sua redenção e para estabelecer o reino do céu. Assim, a morte será finalmente absorvida pela. imortalidade.

Esta simples crença tem provocado o sorriso dos ateus, dos puramente intelectuais que estudaram filosofias transcendentais com suas sutilezas de lógica e argumentação, e até mesmo de alguns estudantes dos Ensinamentos dos Mistérios Ocidentais.

Tal atitude é inteiramente gratuita. Deveríamos saber que os guias divinos da humanidade não deixariam que milhões de pessoas continuassem em erro por milênios. Quando os Ensinamentos dos Mistérios Ocidentais se despojam de explicações excessivas .e de descrições detalhadas, e quando seus ensinamentos básicos são expostos, vemos que estão em exata concordância com os dos cristãos ortodoxos.

Quando a humanidade vivia em estado livre de pecado, a tristeza, a dor e a morte eram desconhecidas. O tentador pessoal da Cristandade não é um mito. Podemos seguramente dizer que os espíritos Lucíferos são anjos caídos, e a tentação que exercem no homem resultou na focalização da consciência deste na fase material da existência, onde está sob a lei da decrepitude e da morte. Igualmente verdadeira é a missão de Cristo no auxílio à humanidade, elevando-a a um estado mais etérico, onde a dissolução não mais será necessária para livrá-la dos veículos que se tornaram muito pesados para uso futuro. O que temos agora é um "corpo de morte", onde só uma ínfima quantidade de material está realmente viva, visto que parte de seu volume é matéria nutriente que ainda não foi assimilada. Outra grande parte vai ser eliminada, e só entre estes dois pólos é que pode ser encontrado o material que é totalmente vivificado pelo espírito.

Em outros capítulos consideramos o sacramento do batismo e da comunhão, que estão muito ligados ao espírito. Vamos agora procurar entender o lado mais profundo do sacramento do matrimônio, que tem especial ligação com o corpo. Como os outros sacramentos, a instituição do matrimônio teve seu começo e também terá seu fim. Seu início foi descrito por Cristo quando Ele disse: "Não tendes lido que o Criador desde o princípio, os fez homem e mulher?" E disse: "Por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne. Por isso não mais são dois, mas uma só carne". Mateus, 19:4-6. Ele indicou também, o fim do matrimônio ao dizer: "Na ressurreição, nem os homens terão mulheres, nem as mulheres maridos, mas serão como os anjos de Deus no Céu". Mateus, 22:30.

Sob esta luz, a lógica do ensinamento é evidente, pois o matrimônio tornou-se necessário para que o nascimento pudesse proporcionar novos instrumentos para substituir os que foram desfeitos pela morte. Quando a morte for absorvida pela imortalidade e não houver necessidade de novos instrumentos, o matrimônio será, em conseqüência, desnecessário.

A ciência, com admirável audácia, tem tentado resolver o mistério da fecundação e já desvendou como a invaginação se processa dentro das paredes do ovário, como o pequeno óvulo é formado na reclusão de sua cavidade escura, como emerge daí e entra na trompa de Falópio, é penetrado pelo espermatozóide do homem e o núcleo de um corpo humano torna-se completo. Supomos que assim seja a "fonte e origem da vida". Mas a vida não tem começo nem fim, e o que a ciência erradamente considera a fonte da vida é, na realidade, a fonte da morte, pois tudo que vem do útero está destinado, mais cedo ou mais tarde, a terminar no túmulo. A festa do matrimônio, que antecede o ato da geração, e a do nascimento, igualmente fornecem alimento para a ceifa insaciável da morte. Enquanto o matrimônio for necessário para tal fim, a desintegração e a morte serão os resultados inevitáveis. Portanto, é de suma importância conhecer a história do matrimônio, suas leis, as atividades envolvidas, a duração dessa instituição e como pode ser transcendida.

Quando obtivemos nossos corpos vitais na Época Hiperbórea, o Sol, a Lua e a Terra ainda estavam unidas e as forças solares-lunares permeavam cada ser em proporção igual, de maneira que todos eram capazes de perpetuar sua espécie através de brotos e esporos como fazem certas plantas atuais. Os esforços do corpo vital para suavizar o veículo denso e conservá-lo vivo, em nada interferia nele, e estes corpos primitivos, semelhantes à planta, viveram por muitas eras. O homem era, então, inconsciente e estacionário como uma planta; não fazia nenhum esforço, nem se empenhava nisso. O acréscimo de um corpo de desejos forneceu incentivo e desejo, e a consciência resultou da luta entre o corpo vital que constrói, e o corpo de desejos que destrói o corpo denso.

Assim, a dissolução tornou-se apenas uma questão de tempo, principalmente porque a energia construtiva do corpo vital foi também dividida, sendo que uma parte ou pólo foi usada nas funções vitais do corpo e a outra serviu para substituir o veículo destruído pela morte. Mas, como os dois pólos de um ímã ou dínamo são requisitos para a manifestação, assim também dois seres unissexuais tornaram-se necessários para a geração. Dessa forma, o matrimônio e o nascimento foram necessariamente instituídos para compensar o efeito da morte. A morte, então, é o preço que pagamos pela consciência no mundo atual. O matrimônio e os repetidos nascimentos são nossas armas contra a morte, até que nossa constituição mude e nós sejamos como os anjos.

Isto não quer dizer que vamos ser anjos, mas que chegaremos a ser como os anjos. Eles são a humanidade do Período Lunar e pertencem a uma corrente de evolução totalmente diferente da nossa, tão diferente como os espíritos humanos o são dos animais atuais. Paulo diz, em sua carta aos Hebreus, que o homem foi feito por pouco tempo inferior aos anjos, que desceu mais baixo na escala de materialidade durante o Período Terrestre, enquanto os anjos nunca habitaram um globo mais denso que o éter. Da mesma maneira que construímos nossos corpos com os constituintes químicos da terra, os anjos constroem os seus corpos com éter. Esta substância é o caminho direto de todas as forças de vida, e quando o homem, conseguir tornar-se igual aos anjos e aprender a construir seu corpo com éter, é evidente que não haverá mais morte e nem necessidade do matrimônio para efetuar nascimentos.

Porém, considerando o matrimônio sob outro ponto de vista, como uma união de almas mais do que uma união de sexos, entramos em contato com o maravilhoso mistério do amor. Naturalmente, a união dos sexos pode servir para perpetuar a raça, mas o verdadeiro matrimônio é também um companheirismo de almas que, de modo geral, transcende o sexo. Aqueles que realmente alcançam este sublime plano de intimidade espiritual, alegremente entregam seus corpos como sacrifícios vivos no altar do Amor ao não nascido, permitindo que o espírito que vai renascer, habite um corpo imaculadamente concebido. Deste modo, a humanidade poderá ser salva do reinado da morte.

Isto é facilmente compreendido, quando consideramos a ação suave do corpo vital em contraste com o do corpo de desejos num acesso de raiva, quando se diz que um homem "perdeu o auto-controle". Sob tais condições, os músculos tornam-se tensos e a energia nervosa é gasta em grau suicida, de maneira que, depois de tal explosão., o corpo pode ficar prostrado por várias semanas. Um trabalho, por mais árduo que seja, não traz a fadiga proporcionada por um acesso de cólera. Do mesmo modo, uma criança concebida sob paixão, sob as tendências cristalizantes da natureza do desejo terá, certamente, uma existência curta. É lamentável que duração de vida seja, hoje em dia, uma expressão erradamente usada, pois, em vista da espantosa mortalidade infantil, devíamos dizer brevidade de existência.

As tendências construtivas do corpo vital, que é o veículo do amor, não são tão facilmente consideradas, porém, essa observação prova que a satisfação prolonga a vida daquele que cultiva esta qualidade, e podemos seguramente pensar que uma criança concebida em condições de harmonia e amor, terá uma melhor oportunidade de vida do que aquela concebida sob sentimentos de raiva, paixão e até embriaguez.

De acordo com o Gênesis foi dito à mulher: "Darás à luz com dor teus filhos". Tem sido um delicado enigma para aqueles que comentam a Bíblia explicar que conexão lógica poderá existir entre o ato de comer uma fruta e as dores do parto. Quando compreendemos as referências da Bíblia ao ato de geração, percebe-se prontamente essa conexão. Enquanto a mãe negra ou a índia dão à luz e voltam logo aos seus trabalhos no campo, a mulher ocidental, mais sensível e de temperamento mais nervoso, a cada ano que passa acha mais difícil desempenhar a tarefa da maternidade, embora auxiliada pelas melhores e mais sofisticadas ajudas científicas.

As razões que contribuem para isso são várias: em primeiro lugar, enquanto insistimos no "pedigree" dos animais para que possamos obter a melhor linhagem, não agimos com tanto cuidado com respeito à escolha de um pai ou uma mãe para nossos filhos. Unimo-nos por impulso e depois nos lastimamos e arrependemo-nos, auxiliados por leis que tornam muito fácil entrar ou sair dos laços sagrados do matrimônio. As palavras pronunciadas pelos ministros ou juízes são tomadas como permissão para uma indulgência sem limites, como se qualquer lei feita pelo homem pudesse permitir a contravenção da lei de Deus. Enquanto os animais se cruzam somente em certas épocas do ano e a mãe não é molestada durante o período" de gravidez, o mesmo não acontece com a raça humana.

Tendo em vista estes fatos, não é de estranhar que encontremos tanto medo da maternidade. Já não é tempo de solucionar este problema através de uma relação mais sã entre os cônjuges? A astrologia revelará o temperamento e as tendências de cada ser humano; ela capacitará duas pessoas a combinarem suas personalidades de tal maneira que uma vida de amor possa ser vivida, e indicará os períodos em que as linhas de força interplanetárias estão mais propícias para um parto sem dor. Assim, a astrologia permite-nos tirar das entranhas da natureza crianças nascidas do amor, capazes de viver longas vidas com excelente saúde. Finalmente, chegará o dia em que estes corpos serão feitos com tal perfeição em sua pureza etérica, que perdurarão do começo ao fim da próxima Era, tornando assim supérfluo o matrimônio.

Se o amor é possível agora, quando nos vemos um ao outro "obscuramente, como por espelho" através da máscara da personalidade e do véu da incompreensão, mais convictos estamos de que o amor da alma para alma, purificado de paixão no crisol do sofrimento, será nossa jóia mais preciosa e brilhante no céu, assim como o peso de sua sombra está agora na Terra.


 

CAPÍTULO VII

 

O Pecado Imperdoável e as Almas Perdidas

 

Alguns de nossos estudantes já foram esclarecidos sobre o pecado imperdoável, e como este assunto tem uma certa ligação com o do matrimônio, um sendo considerado um sacrilégio e outro um sacramento, faz-se necessário explicar esta matéria sob um ponto de vista diferente daquele abordado anteriormente em nossa literatura.

Vejamos o que significa um sacramento e por que os ritos do batismo, da comunhão, do matrimônio e da extrema unção são considerados como tais. Então, estaremos numa posição de compreender o que é sacrilégio e por que é imperdoável.

Os Rosacruzes ensinam, embora com mais detalhes, a mesma doutrina que Paulo pregou no Capítulo 15 da primeira Carta aos Coríntios, começando no 35º versículo quando diz que, além do corpo de carne e sangue, temos um corpo-alma, soma psuchicon (mal traduzido para corpo "natural"), e um corpo espiritual; que cada um desses corpos cresce de um átomo-semente diferente e que há três estágios de desenvolvimento para Adão ou o homem. O primeiro Adão foi tirado da terra e não tinha vida sensível. A alma foi acrescentada ao segundo Adão; daí ele ter vida interior, um fermento trabalhado para elevar a terra até Deus. Quando o potencial da alma extraído do corpo físico for elevado ao espiritual, o último Adão tornar-se-á um espírito dador de vida, capaz de transmitir o impulso da vida diretamente a outros, do mesmo modo que a chama de uma vela pode passar para muitas outras sem diminuir a magnitude da luz original.

Entretanto, o germe para nosso corpo terreno tinha que ser devidamente colocado em solo frutífero para o crescimento de um veículo adequado e, desde o início, foram fornecidos órgãos generativos para conseguir-se esse propósito. Está escrito em Gênesis 1:27 que Elohim criou-os macho e fêmea. As palavras em hebreu são "lacre va n'cabah". Estes são os nomes doe órgãos sexuais. Traduzido literalmente, sacr quer dizer "portador do germe". Assim, o casamento é um sacramento, pois abre caminho para transmissão de um átomo-semente físico do pai para a mãe, e tende a preservar a raça contra as devastações da morte. O batismo como um sacramento significa a necessidade germinal da alma para uma vida superior. A Santa Comunhão, onde partilhamos do pão (feito da semente de plantas puras), e do vinho (o cálice simbolizando a bolsa da semente desprovida de paixão), aponta-nos para a era que virá, uma época quando será desnecessário transmitir a semente através de um pai e de uma mãe, mas onde poderemos alimentar-nos diretamente da vida cósmica e assim conquistar a morte. Finalmente, a extrema unção é o sacramento que marca o desatar do cordão prateado e a extração do germe sagrado, libertando-o até que possa, novamente, ser implantado em outro n'cabah, ou mãe.

Como a semente e o ovo são as raízes e a base do desenvolvimento racial, é fácil compreender que nenhum pecado pode ser mais sério do que aquele que abusa da função criadora. Por meio deste sacrilégio, impedimos o crescimento de futuras gerações e pecamos contra o Espírito Santo, Jeová, que é guardião das forças criadoras lunares. Seus Anjos anunciam nascimentos, como nos casos de Isac, João Batista e Jesus. Quando queria recompensar seus mais fiéis seguidores, prometia fazer sua semente tão numerosa quanto as areias da praia. Também distribuiu um grande castigo entre os sodomitas que cometeram sacrilégio, por empregarem mal o uso da semente. Puniu, inclusive, os pecados dos pais nos filhos até a terceira e quarta gerações, pois, sob seu regime, a Lei reinava suprema. O homem ainda não evoluiu ao ponto de poder responder ao amor. Age com seus inimigos pela regra do olho por olho e, da mesma maneira como mede, é medido pelos outros.

Embora isto nos pareça muito cruel, pois estamos diariamente e cada vez mais desenvolvendo as faculdades do amor e do perdão, precisamos lembrar que essa forma de justiça se relaciona puramente com o corpo físico, que está sob as leis da natureza tanto quanto qualquer outra composição química no universo. Quando os abusos enfraquecem esse corpo, ele é incapaz de cumprir sua missão e de satisfazer nossas solicitações, como ocorre com qualquer outra maquinaria que tenhamos construído com os materiais que nos rodeiam. Portanto, não há milagre que possa fazer .gerar um corpo sólido e saudável quando os pais, pelos seus abusos, transgrediram as leis da natureza. Conseqüentemente, aquele peçado não pode ser perdoado, mas precisa ser expiado. Porém, quando o tempo e o cuidado restaurarem a necessária força e vigor, ó 'corpo desempenhará novamente suas funções de maneira normal e saudável.

Assim, compreendemos que sob a lei não existe a graça, pois esta é ditada pelo amor. E isto estava em perfeita consonância com a ordem cósmica quando Cristo, o Senhor do Amor, disse que todas as coisas feitas pelos homens contra Ele seriam perdoadas, poiso Amor é a característica predominante de Seu reino. Porém, o que for feito contrário à Lei de Jeová terá seu justo castigo. Nunca poderemos agradecer-Lhe totalmente por ter-nos dado esta maravilhosa religião, especialmente quando a comparamos com aquelas sob as quais povos menos evoluídos estão agora lutando. Tomemos, por exemplo, os budistas: embora seu fundador tenha sido grande e sublime, ele viu somente a dor e tristeza, uma luta constante contra as leis da natureza. Aspirava ensinar seus seguidores a transcender aquela condição através da perfeita obediência, tal como nós conquistamos as leis de eletricidade e outras forças da natureza. O budista nada vê além da lei fria e inclemente. Por outro lado, nós, do Mundo Ocidental, temos diante de nossos olhos, desde o berço até o túmulo, um quadro maravilhoso de Alguém que disse: "Venham a mim todos aqueles que trabalham e que têm uma carga pesada, e Eu lhes darei repouso".

Porém, uma pergunta pode ser feita: "E as almas perdidas", são também frutos da nossa imaginação? Respondemos: "Sim", embora com algumas restrições. Compreenderemos isto se retrocedermos na história da humanidade e examinarmos as experiências dos que transgrediram, pois eles nos fornecerão um exemplo do que pode acontecer. Para demonstrar isto de maneira apropriada, devemos repetir alguns dos Ensinamentos Rosacruzes a respeito da gênese da Terra e do homem que a habita. Três grandes etapas de desenvolvimento precederam o atual Período Terrestre. O Pai é o mais alto Iniciado do Período de Saturno, habitando particularmente o Sol Espiritual. O Filho, o Cristo cósmico, é o mais alto Iniciado do Período Solar, habitando o Sol Central e guiando os planetas em suas órbitas por meio de um raio refletido de Si mesmo, que se torna o espírito interno de cada planeta quando este amadureceu suficientemente para conter tão grande Inteligência. Jeová, o Espírito Santo, é o mais alto Iniciado do Período Lunar e habita o Sol físico visível. Ele é o regente das diversas luas lançadas pelos diferentes planetas, com o propósito de dar aos seres que tenham ficado para trás na marcha de evolução, uma disciplina mais rígida, sob uma lei mais firme, para despertá-los e impeli-los, se possível, na direção certa.

Quando olhamos para o espaço, percebemos que alguns planetas têm um certo número de luas e outros não têm nenhuma. Como existem retardatários em qualquer grupo e como as luas são necessárias para auxiliar estes errantes a recuperarem, se possível, seu estado perdido, podemos estar certos de que os planetas que agora não têm luas, já as tiveram no passado. Aqueles Grandes Seres, os quais no "Conceito Rosacruz do Cosmos" são chamados de "Senhores de Vênus" e "Senhores de Mercúrio" eram, de fato, retardatários daqueles dois planetas. No sombrio e longínquo passado, eles habitavam luas que circundavam seus respectivos planetas. Foram afortunados em recuperar o que desperdiçaram, e alcançaram isto sob a disciplina que lhes foi imposta. Mais tarde, receberam a oportunidade de servir a humanidade de nossa Terra e, por este serviço, asseguraram um retorno ao planeta natal do qual haviam sido expulsos. Estavam perdidos sob a lei, porém redimidos pelo amor. Assim, podemos concluir que as oportunidades para servir também trarão para outros seres, que se "perderam", o ensejo de recuperar o passado.

O estudante pode ficar confuso a respeito do que acontece com as luas, nas quais estes seres habitam por um certo tempo. Podemos dizer que o sistema solar deve ser visto como o corpo do Grande Espírito a quem chamamos Deus. Da mesma maneira que um tumor motivado por um processo anormal no nosso corpo' nos causa dor, assim também essas cristalizações em luas são motivos de desconforto para aquele Grande Ser. Além disso, assim como nosso próprio sistema orgânico se esforça por eliminar as anomalias, tais como os tumores, o universo também esforça-se para expelir luas que já tenham cumprido o seu propósito. Enquanto os seres que foram exilados para uma lua lá permanecem, o Espírito Planetário do planeta primitivo, por seu desvelo para com estes seres, conserva a lua em sua órbita. Seu amor por eles é motivado pelo que chamamos a Lei de Atração. No entanto, quando eles retornam ao planeta-pai, o Espírito Planetário não tem mais interesse em sua habitação. Então, lentamente, a órbita da lua desocupada dilata-se, começando a desintegrar-se e finalmente é expelida para o espaço inter-estelar. Os asteróides são remanescentes de luas que, certa vez, circundaram Vênus e Mercúrio. Há, também, outras luas e fragmentos lunares semelhantes em nosso sistema solar, porém o "Conceito Rosacruz do Cosmos" não se interessa por elas, por estarem fora do limite da evolução.


 

CAPÍTULO VIII

 

A Imaculada Concepção

 

O periódico fluxo e refluxo das forças materiais e espirituais que envolvem a Terra, são as causas invisíveis das atividades físicas, morais e mentais do nosso globo.

De acordo com o axioma hermético "assim. como é em cima, assim é embaixo", uma atividade similar precisa acontecer no homem, que não é mais do que uma edição menor da Mãe Natureza.

Os animais têm vinte e oito pares de nervos espinhais e estão agora em seu estágio lunar, em perfeita sintonia com os vinte e oito dias que a Lua leva para passar ao redor do Zodíaco. Em seu estado selvagem, o espírito-grupo regula seu acasalamento. Conseqüentemente, não existe excesso de fluxo com eles. O homem, por outro lado, está num estágio de transição. Progrediu o suficiente para não ser influenciado pelas vibrações lunares, pois tem trinta e um pares de nervos espinhais. Mas não está, ainda, em sintonia com o mês solar de trinta e um dias e casa-se em qualquer época do ano. Daí o fluxo periódico na mulher que, sob condições apropriadas, é utilizado para formar parte do corpo de uma criança que deverá ser mais perfeita que seus pais. Do mesmo modo, o fluxo periódico na humanidade torna-se a fonte de energia e a espinha dorsal do avanço racial, e o fluxo periódico das forças espirituais da Terra, que ocorrem por ocasião do Natal, resulta no nascimento dos Salvadores que, de tempos em tempos, dão um impulso renovador para o avanço espiritual da raça humana.

Nossa Bíblia tem duas partes: o Antigo e o Novo Testamento. Depois de fazer um breve relato de como o mundo surgiu, o Antigo Testamento conta-nos a história da "Queda". Considerando o que tem sido escrito em nossa literatura, compreendemos que a "Queda" foi ocasionada pelo homem, no impulsivo e ignorante uso das forças sexuais em épocas em que os raios interplanetários eram adversos à concepção de melhores e mais puros veículos. Assim, gradualmente, o homem tornou-se prisioneiro num corpo denso, cristalizado pela paixão pecaminosa e, conseqüentemente, um veículo imperfeito, sujeito à dor e à morte.

Dessa forma começou a sua peregrinação através da matéria, e por milênios tem vivido neste duro e cruel envoltório do corpo que oculta a luz do céu ao espírito interno. O espírito écomo um diamante bruto, e os lapidários celestiais, os Anjos do Destino, estão constantemente esforçando-se para remover essa camada bruta a fim de que o espírito possa brilhar através do veículo que ele anima.

Quando o lapidário coloca o diamante no esmeril, essa pedra emite um som semelhante a um grito de dor à medida que a camada opaca é removida. Gradualmente, com sucessivas aplicações no esmeril, o diamante bruto pode transformar-se numa gema de transcendente esplendor e beleza pura. Da mesma maneira, os seres celestiais encarregados de nossa evolução manUm-nos próximos ao esmeril da experiência. Daí resultam a dor e o sofrimento, que despertam o espírito que está adormecido dentro de nós. O homem que se contenta com as conquistas materiais, tolerante com seus sentidos e com o sexo, torna-se imbuído de uma inquietação divina que o impele a procurar uma vida superior.

Contudo, a obtenção dessa aspiração não é normalmente alcançada sem uma luta árdua com a nossa natureza inferior. Foi durante uma luta semelhante que Paulo exclamou com toda a angústia de um coração devoto e aspirante: "Oh! como sou infeliz... Não faço o bem que quero, mas faço o mal que não quero... Deleito-me na lei de Deus se sigo meu interior; mas em meus membros percebo outra lei que se opõe à lei de meu espírito e me amarra à lei do pecado que reina em meus membros". Rom. 7:19-24.

Quando uma flor é amassada, seu perfume é liberado e invade o ambiente com uma agradável fragrância, deliciando todos aqueles que se encontram próximos. Os golpes do destino podem abater uma pessoa que tenha alcançado o estágio de eflorescência, mas servem para. exteriorizar a doçura da natureza e intensificar a beleza da alma, até que ela brilhe com um esplendor que marque com uma auréola a pessoa que a possui. Então, ela está no caminho da Iniciação. Aprende como o uso desenfreado do sexo, sem levar em conta os raios estelares, aprisionou-a ao corpo e como este a restringe. Aprende também que o uso apropriado desta mesma força em harmonia com as estrelas pode, aos poucos, melhorar e eterizar seu corpo e, finalmente, libertá-la da existência concreta.

Um construtor naval não pode construir um bom navio de carvalho com a casca de um abeto. "O homem não colhe uvas dos abrolhos". O semelhante atrai o semelhante, e um ego possuidor de uma natureza apaixonada é atraído para pais de natureza semelhante, onde seu corpo é concebido pelo impulso do momento, num sopro de paixão.

A alma que já experimentou o cálice do sofrimento em conseqüência do abuso da força criadora, e sentiu intensamente o gosto amargo contido nele, procurará pais de natureza cada vez menos passional, até que alcance a Iniciação.

No processo da Iniciação, tendo sido mostrada a influência dos raios estelares sobre o parto, o próximo corpo será gerado por pais Iniciados sem paixão, sob a constelação mais favorável ao trabalho que é contemplado pelo ego. Por isso, os Evangelhos (que são fórmulas de Iniciação) começam com o relato sobre a Imaculada Concepção e terminam com a crucificação, ambos ideais maravilhosos que devemos um dia alcançar. Cada um de nós é um Cristo em formação e, algum dia, iremos passar tanto pelo nascimento místico como pela morte mística prenunciados nos Evangelhos. Através do conhecimento podemos apressar o dia cooperando inteligentemente ao invés de, como fazemos muitas vezes, frustrar pela ignorância a finalidade do desenvolvimento espiritual.

Em relação à Imaculada Concepção, prevalecem interpretações errôneas em vários pontos: a virgindade perpétua da mãe, mesmo depois de ter dado à luz a outros filhos; a humilde profissão de José, o suposto padrasto, etc. Vamos examiná-las brevemente, sob a luz dos fatos como são revelados na Memória da Natureza.

Em algumas partes da Europa, pessoas de classes mais altas são chamadas de "bem-nascidas" ou mesmo de "muito bem-nascidas", indicando que são filhos de pais de elevada posição social. Tais pessoas, normalmente, olham com desprezo aquelas de posição mais modesta. Nada temos contra a expressão "pessoa bem-nascida". Gostaríamos que todas as crianças fossem bem-nascidas, isto é, nascidas de pais possuidores de elevada reputação moral, não importando sua posição na vida. Existe uma virgindade de alma que é independente do estado do corpo, uma pureza de mente que levará quem a possue ao ato de gerar sem mácula de paixão, e permitirá que a mãe carregue seu filho em gestação com o coração cheio de um amor assexuado.

Isto teria sido impossível antes de Cristo. Nos primeiros tempos da caminhada do homem na Terra, a quantidade era desejável e a qualidade era de menor importância. Daí a ordem: "Ide, sede férteis e multiplicai-vos". Além disso, era necessário que o homem esquecesse, temporariamente, sua natureza espiritual e concentrasse suas energias nos objetivos materiais. A indulgência com a paixão sexual favoreceu este objetivo e foi dada força plena à natureza de desejos. A poligamia floresceu e quanto maior o número de filhos, mais dignos de respeito se tornavam o homem e a mulher, enquanto a esterilidade era tida como a pior das desgraças.

A natureza de desejos estava sendo reprimida em outras direções pelas leis de Deus, e a obediência aos mandamentos divinos era imposta com punição imediata sobre o transgressor, tal como guerras, pestes ou fome. Recompensas pelo fiel cumprimento da lei não eram poucas. Os filhos, o gado e as colheitas do homem "honrado" eram numerosas, sentia-se vitorioso sobre seus inimigos e o cálice de sua felicidade estava completo.

Mais tarde, quando a Terra já estava suficientemente povoada, depois do Dilúvio Atlante, a poligamia tornou-se cada vez mais antiquada, o que resultou numa melhor qualidade dos corpos e, na época de Cristo, a natureza de desejos tornou-se tão suscetível de ser controlada pelos mais avançados da humanidade, que o ato de gerar um filho podia ser executado sem paixão, advindo do amor puro, de maneira que a criança podia ser concebida imaculadamente.

Assim aconteceu com os pais de Jesus. Diz-se que José era um carpinteiro, mas ele não trabalhava com madeira. Ele era um "construtor", no sentido mais elevado. Deus é o Grande Arquiteto do Universo. Sob Ele estão muitos construtores de diversos graus de esplendor espiritual, alguns ainda abaixo dos Maçons. Todos estão empenhados em construir um templo sem o ruído de martelo, e José não era exceção.

Pergunta-se, algumas vezes, porque os Iniciados são sempre homens. Não é assim. Nos vários graus existem muitas mulheres, porém, quando um Iniciado tem permissão de escolher seu sexo, normalmente escolhe o positivo corpo masculino, uma vez que a vida que o levou á Iniciação espiritualizou seu corpo vital e tornou-o positivo sob todos os aspectos, de maneira que ele consegue ter um instrumento altamente eficiente.

No entanto, há ocasiões em que as exigências requerem um corpo feminino do mais elevado grau para gerar outro corpo semelhante, adequado para receber um ego superlativamente evoluído. Então, um alto Iniciado pode tomar um corpo feminino, disposto a passar pela experiência da maternidade -possivelmente experiência nunca realizada nas várias vidas anteriores - como aconteceu com o belíssimo caráter que conhecemos como Maria de Belém.

Concluindo, lembremo-nos dos principais pontos apresentados. Explicamos que: todos nós somos Cristos em formação; precisamos cultivar o nosso caráter de forma cada vez mais pura para que sejamos dignos de habitar em corpos imaculadamente concebidos; quanto mais cedo começarmos a purificar nossas mentes de pensamentos passionais, mais cedo alcançaremos este grau. Numa análise final, isto depende exclusivamente da seriedade de nossos propósitos e da força de nossa vontade. As condições atuais permitem que possamos viver vidas puras, quer estejamos casados ou solteiros, não sendo exigidas as frias relações do gênero irmã-irmão.

Será que uma vida de absoluta pureza ainda está fora do nosso alcance? Não nos devemos desencorajar. Roma não foi construída num dia. Continue aspirando, mesmo que erre muitas vezes, pois o único fracasso é deixar de lutar.

Que Deus fortaleça suas aspirações para a pureza.


 

CAPÍTULO IX

 

A Volta de Cristo

 

Vimos anteriormente como a infante humanidade da Atlântida vivia em unidade sob a direção direta dos guias divinos, e como foi tirada da água e colocada numa atmosfera clara, onde a separação de cada indivíduo dos demais tornou-se imediatamente evidente.

"Deus é Luz" - a Luz que se tornou vida no homem. Era fraca e acromaticamente difusa na atmosfera nebulosa dos primórdios da Atlântida, tão incolor quanto o ar o é num dia de intensa neblina na época atual, daí a unidade de todos os seres que viviam nessa luz. Mas, quando o homem se elevou acima das águas, quando emergiu no ar onde a manifestação divina, Luz, era refratada em numerosos matizes, esta luz multicolorida era absorvida de forma diferente por cada pessoa. Assim, a diversidade teve início quando a humanidade contemplou o grandioso arco-íris com suas várias e belas cores. Este arco pode ser considerado como o portão de entrada para "a terra prometida", o mundo como está atualmente constituído. Aqui, a luz de Deus não é mais um único e insípido matiz como no início da Atlântida. O atual e deslumbrante jogo de cores diz-nos que o lema da época atual é a segregação. Portanto, enquanto permanecermos na condição atual, sob a lei de ciclos alternantes, onde o verão e o inverno, as marés alta e baixa sucedem-se numa seqüência ininterrupta, enquanto o arco de Deus permanecer no céu - um símbolo da diversidade - ainda estaremos no reinado dos homens, e o reinado de Deus permanecerá suspenso.

Tão certo como as condições edênicas sobre o cinturão de fogo das ilhas da antiga Lemúria terminaram na separação dos sexos, cada um expressando um elemento do fogo criador, assim também a união do homem e da mulher foi tão necessária à geração de um corpo, como a união do hidrogênio e oxigênio o é para a produção da água. A emersão da atmosfera aquosa da Atlântida no meio ambiente aéreo da Ariana - o mundo de hoje -estimulou uma segregação posterior entre nações e indivíduos, que lutam e se oprimem uns aos outros (porque as formas nitidamente diferenciadas que eles observam não os permitem ver a unidade inalienável de cada alma com as demais); e é certo que a condição atual deste mundo dará lugar a um "novo céu e uma nova terra, onde habitará a justiça".

No início da Atlântida vivíamos nas bacias mais profundas da Terra, onde a neblina era mais densa, respirávamos por meio de brânquias e seria impossível viver numa atmosfera como a de agora. Com o decorrer do tempo, o desejo de explorar mais além proporcionou a invenção de naves espaciais que eram impulsionadas pela força expansiva do grão germinante. A história da "arca" é uma lembrança deturpada desse fato. Aquelas naves, na verdade, soçobraram nos topos das montanhas onde a atmosfera era muito escassa para suportá-las. Hoje, nossas naves flutuam sobre o elemento no qual as naves atlantes estiveram imersas. Atualmente, já foram inventadas vários meios de propulsão capazes de transportar-nos sobre as montanhas da Terra, e estamos começando a alcançar a atmosfera para conquistar este elemento, da mesma maneira que subjugamos as águas. Assim como nossos ancestrais atlantes fizeram o seu caminho pelo elemento aquoso onde respiravam e depois se elevaram acima dele, para viver em um novo elemento, do mesmo modo conquistaremos o ar e depois nos elevaremos acima dele, para o recém descoberto elemento que chamamos éter.

Como vemos, cada época tem suas condições e leis peculiares. Os seres que evoluem têm uma constituição fisiológica adequada ao meio ambiente de sua época, porém, são dominados pelas forças da natureza prevalecentes no momento, até que aprendam a se ajustar a elas. Então, essas forças tornam-se auxiliares de imenso valor como, por exemplo, o vapor e a eletricidade, parcialmente dominadas. A lei de gravidade ainda nos segura com sua força poderosa, apesar de, através de meios mecânicos, estarmos tentando escapar para um novo elemento. Devemos, dentro de pouco tempo, obter o domínio do ar. Como as embarcações da Atlântida soçobraram nas montanhas da Terra porque seu poder de flutuação era insuficiente para permitir que se elevassem acima da névoa daquelas altitudes; e porque a respiração era difícil, assim também a rarefação cada vez maior de nossa atual atmosfera impedirá que entremos no "novo céu e na nova terra", que servirão de cenário para a Nova Dispensação.

Antes de atingirmos esse estado, mudanças fisiológicas e também morais e espirituais ocorrerão. O texto grego do Novo Testamento não deixa dúvidas quanto a isso, embora a falta de conhecimento dos ensinamentos dos mistérios tenha impedido os tradutores de mencioná-los na versão inglesa. Se tivéssemos somente acreditado na Bíblia, teríamos poupado muitas desilusões e inquietações concernentes a esse assunto. Comunidades inteiras desfizeram-se de seus pertences em antecipação do advento de Cristo que, segundo eles, aconteceria num determinado dia, e sofreram incontáveis privações posteriores. Impostores fizeram-se passar por Cristo ou mesmo por Deus, casaram-se, constituíram família e morreram, deixando a seus filhos a crença que eram Cristos e que lutassem por seu reino. Um governo secular foi forçado a banir um desses "Cristos" militantes para uma ilha do Mediterrâneo e outro para uma cidade asiática onde está hoje sob vigilância militar. Não há sinais de que tais pretendentes venham a diminuir no futuro, pelo contrário, a impostura sacrílega tende a aumentar.

Podemos estar certos de que os guias divinos da evolução não erraram quando deram a religião Cristã ao Mundo Ocidental - o mais avançado ensinamento para os mais precoces da humanidade. Portanto, pode ser considerado um dano quando uma organização se propõe introduzir uma religião hindu (que é excelente para as pessoas a quem foi divinamente dada) sobre nosso povo. Os exercícios de respiração importados dos orientais levaram muitas pessoas para manicômios.

Se acreditássemos nas palavras de Cristo: "Meu reino não é deste mundo" (kosmos, a palavra grega usada para "mundo", significa "ordem das coisas", e a palavra para nosso planeta, a Terra, é gaea), saberíamos melhor como procurar Cristo.

"A carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus", do mesmo modo que a criatura que respirava por meio de brânquias, no início da Época Atlante, não estava preparada para viver sob as condições naturais que prevalecem hoje, onde se instalou "o reino dos homens". Paulo, falando sobre a ressurreição, não diz como na versão inglesa: "Há um corpo natural e um corpo espiritual". - 1 Cor. 15-14. Ele afirma que há um "soma psuchicon" , um corpo-alma e diz, nos versículos anteriores, como isto é gerado de uma "semente", da mesma forma como é explicado nos Ensinamentos Rosacruzes. A Bíblia afirma que nossos corpos são corruptíveis. (Também diz que um órgão, o coração, é uma exceção. Isto se refere ao átomo-semente no coração - Ps. 22:26). Conseqüentemente, nossos corpos precisam ser mudados antes que Cristo retorne.

Se acreditássemos verdadeiramente nisso, poucas pessoas procurariam impostores, pois o trabalho deles nada representaria. Mas, infelizmente, os jornais ocidentais dão notoriedade a tais embusteiros, embora os tratem como uma pilhe. ria, como o são realmente. Seria absurdo acreditar que o grande e sábio Ser que guia a evolução, pudesse ter tão pouca visão para não saber que o Mundo Ocidental nunca aceitaria seguir um caminho que reputa semi-bárbaro, e que essa missão fosse atribuída ao seu Salvador.

Quando os preparativos para a vinda do Salvador do mundo foram feitos, há 2.000 anos atrás, a Galiléia era a Meca dos espíritos errantes. Para lá afluíam povos da Ásia, África, Grécia, Itália e de outras partes do mundo. As condições lá existentes eram excepcionalmente agradáveis e atraentes, e a Galiléia era, de acordo com muitos estudiosos do assunto, tão cosmopolita quanto Roma. Na verdade, era o "crisol" daqueles dias. José e Maria, os pais de Jesus, também haviam emigrado da Judéia para Nazaré, na Galiléia, antes do nascimento de seu primogênito, e o corpo gerado naquele ambiente era diferente do corpo comum da raça judaica.

É um fato incontestável que o ambiente desempenha um grande papel no processo da evolução. Temos hoje na Terra, três grandes raças. Uma, a Negra, tem o fio do cabelo de secção chata e a cabeça é alongada, estreita e achatada nos lados. A órbita do globo ocular é também alongada e estreita. Os Negros são descendentes da Raça Lemúrica.

Os Mongóis e povos semelhantes têm cabeças arredondadas. O fio de seu cabelo tem secção redonda, assim como as órbitas de seus olhos. São os descendentes da Raça Atlante.

A Raça Ariana tem o fio do cabelo, assim como o crânio e as órbitas dos olhos, com secção oval, sendo que estes traços são mais pronunciados nos Anglo-Saxões, que são os mais avançados da raça atual.

Na América, a Meca das nações de hoje, estas várias raças estão claramente representadas. Este é o "crisol" onde elas estão sendo misturadas. Verifica-se que aqui existe uma, diferença entre as crianças que pertencem a uma mesma família. O crânio das que nasceram na América são mais ovais do que o de seus irmãos mais velhos nascidos em outra parte do mundo.

Através deste e de outros fatos, que não precisam ser mencionados aqui, é evidente que uma nova raça. está nascendo no continente americano. Partindo do fato de que Cristo veio da parte mais cosmopolita do mundo civilizado há 2.000 anos atrás, seria lógico esperar que, se um renascimento estivesse sendo preparado para esse Ser Supremo, Seu corpo seria, provavelmente, formado de uma nova raça, ao invés de uma raça antiga. Por outro lado, se fosse conveniente buscar um Salvador nas raças antigas, porque não um aborígene australiano (Bushmen) ou um hotentote?

Podemos ter certeza que, embora os impostores nos iludam por algum tempo, mais cedo ou mais tarde serão descobertos e seus planos aniquilados. Enquanto isto, o progresso continua levando-nos para mais próximo da Era Aquariana, e um Mestre está vindo para dar à Religião Cristã um impulso numa nova direção.


 

CAPÍTULO X

 

A Próxima Era

 

Quando falamos da "Próxima Era", do "Novo Céu e Nova Terra" mencionados na Bíblia, e também da "Era Aquariana", as diferenças entre elas podem não ser claras para os nossos estudantes. A confusão de palavras é um dos campos mais férteis para o erro, e os Ensinamentos Rosacruzes procuram evitar isto usando uma nomenclatura particularmente definida. Algumas vezes, um esforço extra faz-se necessário para dissipar a confusão gerada por concepções nebulosas engendradas por outros, tão sinceros como o que está escrevendo isto, porém, não tão afortunados em ter acesso aos incomparáveis Ensinamentos da Sabedoria Ocidental.

Em nossa literatura aprendemos que quatro grandes épocas de desenvolvimento precederam a atual ordem das coisas. A densidade da Terra, suas condições atmosféricas e as leis da natureza que prevaleciam numa época, eram diferentes das de outras, assim como a correspondente constituição fisiológica da humanidade.

Os corpos de ADM (o nome significa terra vermelha), a humanidade da ígnea Lemúria, foram formados do "pó da terra", a lama vermelha, quente e vulcânica, e estavam adaptados ao seu meio ambiente. A carne e o sangue teriam encolhido no calor intenso daquele dia e, embora adaptados às condições presentes, Paulo diz que eles não podiam herdar o Reino de Deus. É evidente, portanto, que antes que uma nova ordem de coisas possa ser inaugurada, a constituição fisiológica da humanidade precisa ser radicalmente mudada, isto sem mencionar a atitude espiritual. Serão necessários milhões de anos para regenerar toda a raça humana e torná-la apta a viver em corpos etéricos.

Por outro lado, um novo ambiente também não surge de um momento para o outro, tuas a Terra e os povos vêm evoluindo juntos, desde os mais obscuros e primitivos tempos. Quando a névoa da Atlântida começou a assentar, alguns de nossos antepassados já haviam desenvolvido pulmões embrionários, e foram compelidos a subir para as montanhas muito antes de seus companheiros. Vagaram no "deserto" enquanto a "terra prometida" estava emergindo. das névoas mais tênues e, ao mesmo tempo, seus pulmões em crescimento estavam preparando-os para que pudessem viver sob as condições atmosféricas de então.

Mais duas raças nasceram nas bacias da Terra antes que uma sucessão de enchentes as levassem para as montanhas. A última enchente aconteceu quando o Sol entrou no signo aquoso de Câncer, há cerca de dez mil anos atrás, como disseram os sacerdotes egípcios a Platão. Como vimos, não existe uma mudança súbita na constituição ou no ambiente para toda a raça humana quando uma nova época é anunciada, mas uma sobreposição de condições que tornam isto possível para a maioria dos da raça, através de um ajustamento gradual que os torna aptos para a nova condição, embora essa mudança preparatória possa parecer brusca à pessoa que a alcançou inconscientemente. A metamorfose do sapo, como um habitante da água passando depois até o elemento aéreo, dá uma analogia do passado, e a transformação de uma lagarta em borboleta voando pelo espaço, é uma ilustração apropriada da mudança que está por vir. Quando o celestial marcador do tempo entrou em Áries, por precessão, um novo ciclo teve início e as "boas novas" foram pregadas por Cristo. Ele enfatizou que o Novo Céu e a Nova Terra não estavam ainda prontos, quando disse a Seus discípulos: "Para onde Eu vou, vós não podeis seguir-Me agora, mas podeis seguir-Me depois. Eu vou preparar um lugar para vós e voltarei e vos receberei".

Mais tarde João viu, numa visão, a nova Jerusalém descendo do céu e Paulo exortou os Tessalonicenses "pela palavra do Senhor", que aqueles que vivem em Cristo serão na Sua próxima vinda arrebatados no ar para encontrá-Lo e estar com Ele para a Era.

Porém, durante essa mudança, há pioneiros que entram no reino de Deus antes de seus irmãos. Cristo disse: Mateus 11:12 "O reino dos céus sofre violência e os violentos arrebatam-no". Esta não é uma tradução correta. Ela deve ser: "O reino dos céus foi invadido (biaxetai) e os invasores dele se apoderaram". Homens e mulheres já aprenderam, através de vidas santas e úteis, a colocar de lado o corpo de carne e de sangue, intermitente ou permanentemente, e caminhar pelos céus com pés alados, atentos aos assuntos do seu Senhor, vestidos no etérico "Manto Nupcial" da nova dispensação. Esta mudança pode ser conseguida através de uma vida de serviço e de prece, como a praticada pelos cristãos devotos, não importando a que igreja estejam filiados, e também pelos exercícios específicos recomendados pela Fraternidade Rosacruz. Estes últimos não trarão nenhum resultado se não forem acompanhados por freqüentes atos de amor, pois o Amor será a nota-chave da próxima era, do mesmo modo que a Lei é a nota-chave da presente ordem. A expressão intensa das qualidades anteriores aumentam a luminosidade fosforescente é a densidade dos éteres em nossos corpos vitais; as correntes ígneas cortam a ligação com o anel mortal, e o homem, uma vez nascido da água em sua emersão da Atlântida, agora nasce do espírito, para o reino de Deus. A força dinâmica de seu amor abriu um caminho para a terra do amor, e é indescritível a alegria daqueles que já se encontram lá quando surgem novos companheiros, pois cada um que chega apressa a vinda do Senhor e o estabelecimento definitivo do Reino.

Entre os fervorosos há um clamor definido e incessante: "(Quanto tempo, Senhor, quanto tempo?" E, apesar da afirmação enfática de Cristo de que o dia e a hora são desconhecidos mesmo para Ele, há falsos profetas que ainda são ouvidos quando predizem Sua volta para uma determinada data. Sentem-se frustrados quando o dia passa e nada acontece. Esta questão também tem sido debatida entre nossos estudantes, e este capítulo é uma tentativa de mostrar o erro de esperarmos pelo Segundo Advento nos próximos cinco, cinqüenta ou quinhentos anos. Os Irmãos Maiores recusam-se a expressar uma opinião e assinalam só o que deve ser realizado primeiramente.

Nos dias de Cristo, o Sol estava ao redor dos sete graus de Áries. Foram necessários quinhentos anos para, por precessão, chegar ao décimo terceiro grau de Pisces. Durante esse tempo, a nova Igreja viveu fases de violência, justificando bem as palavras de Cristo: "Eu não vim trazer a paz, mas uma espada". Passaram-se mais mil e quatrocentos anos sob a influência negativa de Pisces, que fomentou o poder da Igreja e manietou as pessoas pelo credo e pelo dogma.

Em meados do último século, o Sol entrou na órbita de influência do signo científico de Aquarius e, embora ainda leve cerca de setecentos anos para que essa Era comece, é interessante notar as mudanças que o simples contato com este signo trouxe ao mundo. Nosso limitado espaço impede-nos de enumerar os maravilhosos avanços realizados desde então, mas devemos atestar que a ciência, a criatividade, as invenções e a indústria decorrente deste desenvolvimento, mudaram o mundo completamente, tanto na vida social como nas condições econômicas. Os grandes progressos realizados por meio da comunicação, muito contribuíram para quebrar as barreiras do preconceito racial, preparando-nos assim para viver a verdadeira situação de Fraternidade Universal. Instrumentos de destruição foram elaborados tão assustadoramente eficientes, que as nações serão forçadas, dentro de pouco tempo, a "fundir suas espadas em arados e suas lanças em podadeiras". A espada tem reinado durante a Era de Pisces, mas a ciência reinará na Era Aquariana.

No país do sol poente podemos esperar vislumbrar as condições ideais da Era Aquariana; uma mescla de religião e ciência, formando uma ciência religiosa e uma religião científica, que proporcionarão a abundância, a saúde, a felicidade e a satisfação plena da vida.

O Açúcar pelo Álcool

No capítulo referente à Lei de Assimilação, no "Conceito Rosacruz do Cosmos" ; afirmamos que os minerais não podem ser assimilados porque lhes falta um corpo vital, impossibilitando o homem de elevar o grau vibratório deles até o seu próprio. As plantas têm um corpo vital, mas não têm consciência própria, daí serem mais facilmente assimiladas e permanecerem com o homem por mais tempo do que as células da carne animal, que são permeadas por um corpo de desejos. O grau vibratório destas últimas é elevado, e muita energia é necessária para sua assimilação; suas células também escapam rapidamente e o carnívoro tem necessidade de alimentar-se mais freqüentemente.

Estamos cientes de que o álcool é um "espírito estranho" e um "espírito de decadência", porque é gerado pela fermentação FORA do sistema daquele que bebe. Sendo um "espírito", vibra com rapidez tão intensa que o espírito humano é incapaz de regula-lo e controlá-lo como o faz com o alimento e, por isso, o metabolismo torna-se nulo. Ainda mais, como não podemos reduzir seu grau vibratório ao de nossos corpos, esse espírito estranho pode acelerar os nossos e controlar-nos como acontece no estado de embriaguez. O álcool é um grande perigo para a humanidade e precisamos libertar-nos dele antes que possamos realizar nossa natureza divina.

Um espírito estimulante é necessário enquanto vivemos numa dieta de carne, ou o progresso pararia. Assim, um alimento foi dado aos pioneiros do Ocidente para preencher todos os requisitos necessários. Chama-se "açúcar". Do açúcar, o próprio Ego gera o álcool DENTRO do sistema pelo simples processo do metabolismo. Este produto é, portanto, alimento e estimulante, perfeitamente em sintonia com o grau vibratório do corpo. Tem todas as boas qualidades do álcool, em proporção maior e nenhuma das suas desvantagens. Para percebermos claramente os efeitos deste alimento, vamos tomar como exemplo os povos da Europa oriental onde pouco açúcar é consumido. São servis, falam de si mesmos em termos depreciativos. O pronome "eu" é sempre escrito em letra minúscula e "você" em maiúscula. A Inglaterra consome cinco vezes mais açúcar "per capita" do que a Rússia. Na primeira, há um espírito diferente: o maiúsculo "Eu" (I) e o minúsculo `você" (you). Na América, as confeitarias são as grandes rivais dos bares, pois o homem que come doces não bebe, e não há cura melhor para o alcoólatra do que induzi-lo a comer doces em quantidade. O beberrão tem aversão ao açúcar enquanto seu sistema está sob a influência do "espírito estranho".

O movimento de moderação no uso de bebidas alcoólicas começou na terra onde mais açúcar é consumido, e gerou "o espírito de auto-respeito".


 

CAPÍTULO XI

 

A Carne e a Bebida como fatores na Evolução

 

Em capítulos anteriores, vimos como a humanidade infantil era cuidada por guardiães sobre-humanos que lhe forneciam alimento apropriado, afastavam-na dos perigos, protegiam-na sob todos os aspectos até alcançar a estatura humana, preparavam-na para entrar na escola da experiência e aprender as lições da vida no mundo fenomenal. Vimos, também, como o arco-íris indica as leis naturais peculiares da época atual; como foi dado ao homem o livre-arbítrio sob estas leis, e como o espírito do vinho foi-lhe ofertado para alegrar e estimular seu próprio espírito tímido e temeroso, e assim proporcionar-lhe coragem para enfrentar a batalha do mundo.

De maneira análoga, a criancinha irresponsável é trazida para as águas do batismo por seus guardiães naturais, é cuidada durante os anos de infância enquanto seus vários veículos estão sendo organizados. (guando o sangue dos pais, armazenado na glândula timo, se extingue, a criança emancipa-se deles e desperta para a individualidade, para o sentimento do "EU SOU". Está, então, preparada para o conhecimento do bem e do mal, com o qual enfrentará a batalha da vida. Neste momento, o jovem é levado à igreja e lá recebe o pão e o vinho para dar-lhe vigor e coragem, e também para nutri-lo espiritualmente. Isto simboliza que ele é, daqui em diante, um agente livre e responsável perante as leis de Deus. Esta liberdade pode ser uma bênção ou uma maldição, dependendo da maneira como for usada.

Nos primórdios da Atlântida, a humanidade era uma fraternidade universal, composta de criaturas submissas, sem incentivo para lutar ou brigar. Mais tarde, foram segregando-se em nações e as guerras inculcaram a lealdade à família e ao país. Cada soberano era um autocrata absoluto, com poder sobre a vida e pertences de seus súditos, que chegavam a ser centenas de milhares. Estes rendiam-lhe pronta e servil submissão, atitude mantida até o presente entre os milhões de asiáticos que são vegetarianos e, conseqüentemente, não precisam de álcool.

Quando se iniciou o hábito de comer carne, o vinho tornou-se, cada vez mais, uma bebida comum. Em conseqüência da alimentação carnívora, houve um grande progresso material antes da vinda de Cristo e, devido à prática de beber vinho, muitos homens declararam-se líderes. Disso resultou que, em lugar de poucas grandes nações como algumas da Ásia, muitas nações pequenas se formaram no sudoeste da Europa e Ásia Menor.

Porém, embora esta grande massa de pessoas que formaram estas várias nações estivessem à frente de seus irmãos asiáticos como artesãos, continuavam submissos a seus dirigentes e viviam tão arraigados às suas tradições como esses últimos. Cristo repreendeu-os, pois gloriavam-se de ser a semente de Abraão. Ele lhes disse: "Antes de Abraão existir, EU SOU", querendo dizer que o ego sempre existiu.

É Sua missão emancipar a humanidade da Lei e conduzi-la para o AMOR, para destruir "o reino dos homens" com todos os seus antagonismos, e construir sobre suas ruínas, "o reino de Deus,". A seguinte ilustração elucidará melhor este ponto.

Se temos um certo número de construções de alvenaria e desejamos uni-las numa única e grande estrutura, é necessário demoli-las primeiro, e limpar cada tijolo do cimento que as liga. Do mesmo modo, cada ser humano precisa ser libertado dos grilhões da família, por isso, Cristo ensinou-nos que: "A menos que um homem deixe pai e mãe, ele não poderá ser Meu discípulo". E necessário superar o partidarismo religioso e o patriotismo, e aprender a dizer o que o incompreendido e caluniado Thomas Paine disse: "O mundo é minha pátria e fazer o bem é minha religião":

Cristo não quis dizer que abandonemos aqueles que pedem a nossa ajuda e apoio, mas que não devemos permitir a anulação de nossa individualidade em condescendência às tradições familiares e às crenças.

Conseqüentemente, Cristo veio "não para trazer a paz, mas uma espada". E enquanto as religiões orientais desencorajam o uso do vinho, o primeiro milagre de Cristo foi transformar a água em vinho. A espada e o cálice de vinho são sinais da religião Cristã pois, através deles, nações se destroçaram e o indivíduo emancipou-se. O governo pelo povo e para o povo é uma realidade no noroeste da Europa, onde os governantes são mais de nome que de fato.

Porém, o alimentar o espírito marcial, como prevalece na Europa, foi somente um meio para atingir um fim. A segregação que causou deve dar lugar a um regime de fraternidade, como declarou Paine. Um novo passo foi necessário para que isto se realizasse, um novo alimento precisava ser encontrado para agir sobre o espírito de maneira a encorajar a individualidade através da afirmação de si próprio, sem opressão de outras e sem perda do auto-respeito. Já enunciamos isto como uma lei, isto é, somente o espírito pode agir sobre o espírito e, conseqüentemente, este alimento precisa ser um espírito, mas diferindo em outros aspectos dos tóxicos.

Antes de explicar isto, vejamos o que a carne representou para a evolução do mundo.

Vimos anteriormente que durante a Época Polar, o homem tinha somente um corpo denso. Era como os minerais de hoje nesse aspecto, e por natureza era inerte e passivo.

Ao absorver os cristalóides preparados pelas plantas, desenvolveu um corpo vital durante a Época Hiperbórea e tornou-se semelhante à planta, tanto em constituição quanto em natureza, pois vivia sem esforço e tão inconsciente quanto as plantas.

Mais tarde, extraiu leite dos então estacionários animais. O desejo por este alimento de mais fácil digestão estimulou-o a esforçar-se e, gradualmente, sua natureza de desejos evoluiu durante a Época Lemúrica. Assim, sua constituição tornou-se semelhante aos atuais Herbívoros. Embora possuidor de uma natureza passional, era dócil e não se sentia induzido a lutar, a não ser para defender-se, aos seus companheiros e à sua família. Só a fome tinha o poder de torná-lo agressivo.

Portanto, quando os animais começaram a movimentar-se e procuraram fugir desse implacável explorador, a dificuldade cada vez maior que o homem encontrou para obter o tão cobiçado alimento, elevou seu desejo a tal extremo que, quando tinha de caçar um animal, não mais se contentava em sorver seus úberes até secá-los, mas começou a alimentar-se de seu sangue e de sua carne. Assim, tornou-se tão feroz quanto nossos atuais Carnívoros.

A digestão da carne requer uma reação química mais poderosa e uma eliminação mais rápida dos resíduos do que aquela produzida por uma dieta vegetariana, como ficou provado pelas análises químicas dos sucos gástricos dos animais. Também se provou que os intestinos dos herbívoros são muitas vezes mais longos do que os dos animais carnívoros de igual tamanho. Os carnívoros, em geral, tornam-se sonolentos e adversos ao trabalho.

Quando incitado pela agonia da fome, o lobo feroz segue sua caça com uma inabalável perseverança, e o agachamento e o posterior salto do leão, o rei dos animais, supera, em muito, a velocidade do veado. Por meio de emboscadas, a família dos felinos frustra os mais velozes na tentativa de fugir. A astúcia da raposa é notória, e os hábitos noturnos de ataque da hiena e de outros animais que se alimentam de carniça, ilustram a profunda perversão resultante de uma dieta de carne putrefata.

Os vícios resultantes da ingestão da carne podem ser fadiga, ferocidade, astúcia inferior e depravação. Podemos domar o boi e o elefante, que são herbívoros. São dóceis e armazenam uma enorme força que, obedientemente, usam ao nosso serviço executando longos e árduos trabalhos. A ingestação de carne necessária às peculiaridades constitucionais dos carnívoros, faz com que se tornem perigosos e incapazes de serem completamente domesticados. Um gato pode arranhar a qualquer momento, e os regulamentos nas cidades para que os cães sejam amordaçados são provas suficientes desse perigo. Além disso, a energia contida na dieta dos carnívoros é tão utilizada na digestão, que eles ficam indolentes e incapazes de executar trabalhos mais árduos, como os desempenhados pelos cavalos e elefantes.

A sonolência verificada após uma refeição à base de carne é tão conhecida que dispensa qualquer comentário. O costume de tomar estimulantes com o alimento é a conseqüência do desejo de contrabalançar o efeito ruinoso da carne morta. Conhecemos bem o resultado pernicioso de fazer-se uma comemoração com carne em estado avançado de putrefação, e isto é comum na "sociedade", onde "elegantes" banquetes de caça são acompanhados de orgias da mais primitiva natureza, seguidas pela indulgência aos instintos inferiores.

O ocidental que vive de uma dieta pura, suave e completa à base de vegetais, cereais e frutas, não fica sonolento com sua alimentação e não precisa de estimulantes. Não existem bêbados vegetarianos. Os efeitos calmantes de uma alimentação vegetariana manifestam-se através de uma sensibilidade mais aguçada, que substitui a ferocidade fomentada pela alimentação carnívora. Muitos ainda necessitam de uma dieta mista, pois o hábito da ingestão de carne acelerou o progresso do mundo mais do que qualquer outro fator, com exceção de seu vício companheiro - a embriaguez. Embora não possamos dizer que estes vícios tenham sido bênçãos disfarçadas, no entanto, não se tornaram calamidades. No reino do Pai existe "a força que mesmo o mal planejando, para o bem está trabalhando", e isto muitas vezes não é notado. Veremos isso mais adiante.

Uma companhia particular, a Companhia das Índias Orientais, começou e praticamente conseguiu a sujeição da Índia com seus trezentos milhões de habitantes, porque os ingleses são vorazes consumidores de carne, enquanto a dieta hindu favorece a docilidade. Porém, quando a Inglaterra lutou contra os carnívoros Boers, frente a frente, o valor demonstrado por ambos os lados é um fato digno de ser registrado. A coragem, tanto física quanto moral, é uma virtude e a covardia um vício. A carne propiciou a auto-afirmação e ajudou-nos a desenvolver uma espinha dorsal, muitas vezes a expensas de outros seres que ainda conservam a parte superior do esterno, a fúrcula. Mais ainda, como ilustraremos a seguir:

Já dissemos anteriormente que o gato se agacha e é forçado a usar de estratégia para economizar forças quando está à procura de sua caça, e assim ter energia suficiente para digerir sua vítima. Portanto, o cérebro torna-se o aliado da força muscular. Na antiga Atlântida, o desejo pela carne desenvolveu a engenhosidade do homem primitivo e levou-o a colocar armadilhas para. caçar os ardilosos habitantes dos campos e das florestas. A armadilha do caçador estava entre os INVENTOS PARA POUPAR TRABALHO. Isso marca o início da evolução da mente e da luta inflexível e incansável na época em que a carne alimentou a mente para obter a supremacia sobre a matéria.

Dissemos e repetimos que "a carne alimentou a mente", porque desejamos enfatizar que as nações que adotaram a carne como alimento tiveram um progresso muito mais notável. Os asiáticos vegetarianos permanecem, ainda, nos mais baixos degraus da civilização. Quanto mais caminhamos para o Oeste, mais verificamos que o consumo de carne aumenta. Como há também pouca inclinação para exercícios físicos, consequentemente a atividade mental é desenvolvida cada vez mais em inventos para poupar trabalhos. Os agricultores americanos possuem milhares de acres em terras, e conseguem colheitas muito maiores e com menos trabalho do que os camponeses do Oriente nos seus pequenos pedaços de terra. Isto porque o oriental pobre trabalha com dificuldade, alimenta-se só de cereais e tem somente suas mãos e sua enxada que usa durante todo o ano, dia após dia. O agricultor que ingere carne, o ocidental progressista, possui aparelhos mecanizados que trabalham sobre solos férteis, enquanto ele os observa sentado numa cadeira confortável. Um usa os músculos, o outro a mente.

Esta é a razão da indomável coragem e da energia que transformaram a face do Mundo Ocidental. Essas virtudes estão diretamente ligadas ao alimento carnívoro, que também estimula o amor pelas facilidades e pela invenção de engenhos que poupem trabalho, enquanto o álcool estimula o espírito empreendedor na execução de planos que objetivem o máximo de conforto com o mínimo de esforço.

Porém, o espírito do álcool é obtido por um processo de fermentação. E um espírito de decomposição, completamente diferente do espírito de vida no homem. Este espírito contraditório atrai o homem cada vez mais, colocando diante de sua visão sonhos de grandezas futuras, e estimulando-o a extenuantes esforços físicos e mentais com o objetivo de atingi-las e obtê-las. Então, quando consegue alcançá-las, desperta para a inutilidade de seu prêmio. A posse frustra logo a ilusão anterior e ele começa a questionar quanto ao valor daquilo que conseguiu adquirir. Conclui que: Nada que o mundo possa dar consegue realmente satisfazer. Assim, o trago fatal afoga o desapontamento, e a mente arquiteta novas ilusões. Por isso prossegue com entusiasmo renovado e grandes esperanças, mas encontra novamente desenganos, vida após vida. Finalmente aprende que "o vinho é um zombador" e que "tudo é vaidade, exceto servir a Deus e fazer a Sua vontade".


 

CAPÍTULO XII

 

Um Sacrifício Vivente

 

Existem centenas de livros em livrarias e bibliotecas que foram escritos para explicar a natureza de Deus. Provavelmente é uma experiência universal que quanto mais lemos a respeito das explicações dadas por outros, menos compreendemos o que nos transmitem. Mas há uma descrição dada pelo inspirado apóstolo João: "Deus é Luz", tão esclarecedora para a mente, quanto as outras são confusas. Qualquer um que medite sobre esta passagem achará, seguramente, uma maravilhosa recompensa à sua espera. Não importa quantas vezes tenhamos levantado esse problema. Nosso próprio desenvolvimento, conforme os anos passam, vai-nos dando melhor e mais completa compreensão do assunto. Cada vez que mergulhamos nestas três palavras, sentimo-nos banhados por uma fonte espiritual de inesgotável profundidade e, em todas as vezes subseqüentes, percebemos mais detalhadamente a grandeza divina e ficamos mais perto de nosso Pai Celestial.

Para mantermo-nos nesse assunto, retrocedamos no tempo para obter a posição e a direção de nossa futura linha de progresso.

A primeira vez que nossa consciência se dirigiu para a Luz, foi logo após sermos dotados da mente. (guando entramos definitivamente em nossa evolução como seres humanos na Atlântida - a terra da névoa - nas profundezas das bacias de nosso planeta, a neblina quente, emitida da terra que se resfriava, pairava como um denso nevoeiro sobre a Terra. Nessa época, as estrelas nas grandes alturas do universo nunca eram vistas, e nem a luz prateada da Lua podia penetrar a atmosfera densa e nebulosa que pairava sobre aquela antiga terra. Mesmo o esplendor ígneo do Sol estava quase totalmente extinto, e quando estudamos a Memória da Natureza daquela época, vemos que ele se assemelhava a um lampião colocado num poste num dia enevoado. Era bastante obscuro e tinha uma aura de variadas cores, muito similar àquelas observadas ao redor de um arco de luz.

Mas, esta luz tinha um fascínio. Os antigos Atlantes foram instruídos pelas Hierarquias Divinas que os acompanhavam, que aspirassem a luz. Como a visão espiritual já estava, então, em declínio (até mesmo os mensageiros ou Elohim eram percebidos com dificuldade pela maioria), aspiravam cada vez mais ardentemente a nova luz, pois temiam as trevas das quais se tornaram conscientes pela dádiva da mente.

Então, ocorreu o inevitável dilúvio, quando a neblina esfriou e se condensou. A atmosfera tornou-se clara e o "povo escolhido" foi salvo. Aqueles que trabalharam internamente e aprenderam a construir os órgãos necessários para respirar numa atmosfera semelhante à atual, sobreviveram e vieram para a luz. Não foi uma escolha arbitrária; o trabalho do passado consistiu na construção do corpo. Aqueles que só possuíam as aberturas das brânquias, tal como o feto que ainda as usa em seu desenvolvimento pré-natal, não estavam preparados fisiologicamente para entrar na nova era, como não estaria o feto se nascesse antes de construir os pulmões. Este morreria como morreram aqueles povos antigos quando a atmosfera rarefeita tornou inúteis as aberturas das brânquias.

Desde o dia que saímos da antiga Atlântida, nossos corpos estão praticamente completos, isto é, não tivemos o acréscimo de novos veículos. Porém, desde aqueles tempos e de agora em diante, os que desejam seguir a luz precisam esforçar-se para obter o crescimento anímico. Os corpos que cristalizamos ao nosso redor precisam ser dissolvidos, e a quintessência da experiência extraída pode ser amalgamada como "alma" ao espírito, para trazê-lo da impotência à onipotência. Por isso, o Tabernáculo no Deserto foi dado aos antigos e a luz de Deus desceu sobre o Altar dos Sacrifícios. Isto tem um significado muito importante: o Ego tinha acabado de entrar em seu tabernáculo, o corpo. Todos nós conhecemos a tendência do instinto primitivo para o egoísmo e, se tivéssemos estudado as éticas superiores, saberíamos como a indulgência às tendências egoístas é destruidora do bem. Em razão disto, Deus imediatamente colocou ante a humanidade, a Luz Divina sobre o Altar dos Sacrifícios.

Sobre este altar, eles foram forçados, por uma terrível necessidade, a oferecer seus mais preciosos pertences por cada transgressão cometida, pois imaginavam Deus como um chefe severo, a cujo desagrado era perigoso incorrer. Mesmo assim, a Luz os atraia. Eles sabiam que era inútil tentar escapar das mãos de Deus. Sem ter ouvido as palavras de João: "Deus éLuz", de certo modo já tinham luz, pois ouvimos Davi exclamar: "Para onde devo ir sem Teu Espírito? Ou, para onde buscarei refúgio longe de Tua presença? Se subo aos céus, Tu lá estás. Se faço minha cama no inferno, Tu lá estás. Se tomo as asas da manhã e habito as partes mais remotas do oceano, até lá Tua mão me guiará e Tua mão direita me sustentará. Se digo, certamente as trevas me cobrirão, mesmo a noite teria luz ao meu redor. Sim, as trevas não me ocultariam de Ti, porque a noite brilha como o dia, pois as trevas e a luz são ambas semelhantes a Ti".

Com o passar dos anos, com a ajuda dos mais poderosos telescópios que o talento e a habilidade do homem foram capazes de construir para penetrar as profundezas do espaço, tornou-se mais evidente que a infinidade da luz nos mostra a infinidade de Deus. Quando ouvimos que "os homens amavam mais as trevas do que a Luz porque suas ações eram más", isso também se amolda aos fatos atuais, iluminando a natureza de Deus para nós. Não é verdade que sempre que nos sentimos ameaçados no escuro, a luz nos dá uma sensação de segurança semelhante ao sentimento de uma criança que se sente protegida pela mão de seu pai?

Tornar permanente esta condição de estar na Luz, foi o passo seguinte do trabalho de Deus para conosco, o qual culminou com o nascimento de Cristo que, como presença física do Pai, trouxe em Si aquela Luz, pois a Luz veio ao mundo para que todos que acreditassem em Cristo não morressem, mas tivessem vida eterna. Ele disse: "Eu sou a Luz do Mundo". O Altar no Tabernáculo ilustrou o princípio do sacrifício como meio de regeneração, por isso, Cristo disse a Seus discípulos: "Nenhum homem tem maior amor que este, o que dá sua vida por seus amigos. Vós sois meus amigos". E, imediatamente, Ele começou um sacrifício que, contrário à opinião ortodoxa vigente, não foi consumado em poucas horas de sofrimento físico numa cruz material, mas é tão perpétuo quanto eram os sacrifícios feitos no altar do Tabernáculo no Deserto, pois impõe uma descida anual para dentro da Terra. Calculamos o enorme sofrimento que, pelas constrangedoras condições deste planeta, esse tão grande espírito precisa suportar.

Isto deve continuar até que um número suficiente de pessoas tenha evoluído a ponto de suportar a carga desta densa massa de escuridão chamada Terra, que gravita como uma pedra de moinho sobre a humanidade impedindo seu futuro crescimento espiritual. Até que aprendamos a seguir "Seus passos", não nos elevaremos em direção à Luz.

Conta-se que quando Leonardo da Vinci completou sua famosa obra "A Última Ceia", pediu a um amigo para observá-la e dizer-lhe o que pensava a respeito.

O amigo olhou-a criticamente por alguns minutos e depois disse:

"Acho que você cometeu um erro ao pintar os cálices dos apóstolos tão ornamentados e parecendo ser de ouro. Pessoas na posição deles não iriam beber em recipientes tão caros".

Da Vinci, então, passou o pincel sobre os cálices que tinham sido alvo das críticas de seu amigo. Porém, ficou profundamente desgostoso, pois havia pintado aquele quadro com toda a sua alma, mais do que com suas mãos, na intenção de que este pudesse transmitir uma mensagem para o mundo. Havia colocado toda a grandeza de sua arte e -a mais sincera devoção de sua alma no esforço de pintar um Cristo que, através de Sua palavra, levasse os homens a seguir Seus passos.

Podemos vê-Lo, sentado à mesa da significativa reunião, A INCORPORAÇÃO DA LUZ, proferindo aquelas maravilhosas palavras místicas: "Este é meu corpo,- este é meu sangue, dados a vós" - um sacrifício vivente.

No período anterior de nosso caminho espiritual, estávamos procurando uma Luz exterior, porém, agora, chegamos ao ponto em que devemos procurar a luz de Cristo dentro de nós e tentar imitá-Lo, tornando-nos "sacrifícios viventes", como Ele está fazendo. Vamos relembrar que, quando o sacrifício que está à nossa porta parece agradável e ao nosso gosto, quando nos sentimos capazes de escolher nosso trabalho "na vinha do Senhor" e fazer o que nos agrada, não estamos fazendo um verdadeiro sacrifício como Ele o fez, nem quando somos vistos pelos homens e aplaudidos por nossa benevolência. Porém, quando estamos prontos para segui-Lo, desde aquela reunião onde Ele era o mais honrado entre os amigos, até o jardim de Getsêmani onde Ele ficou sozinho, lutando com o grande problema diante Dele enquanto Seus amigos dormiam, então, sim, estamos fazendo um sacrifício vivente.

Quando nos sentirmos ,satisfeitos em seguir "Seus passos" ao ponto do auto-sacrifício, e quando pudermos dizer do fundo do coração "Tua vontade e não a minha", certamente teremos conquistado a luz interior e, desde esse momento, nunca mais existirá em nós o que entendíamos ser a escuridão. Andaremos na luz.

Este é nosso glorioso privilégio, e a meditação sobre as palavras do apóstolo: "Deus é Luz" ajudar-nos-á a perceber este ideal, desde que acrescentemos obras à nossa fé e digamos pelos nossos atos o mesmo que disse o Cristo: "Este é o meu corpo e este é o meu sangue", um sacrifício vivente sobre o altar da humanidade.


 

CAPÍTULO XIII

 

Magia Branca e Negra

 

De tempos em tempos, conforme a exigência da ocasião, advertimos os estudantes da Fraternidade Rosacruz em nossas cartas individuais, para não participarem de sessões espíritas, de demonstrações hipnóticas ou de lugares onde o incenso é queimado pelos diletantes do ocultismo. A Magia Negra é praticada tanto consciente como inconscientemente e, de tal forma, que chega a ser inacreditável. O "perverso magnetismo animal", que é somente outro nome dado à Força Negra, é responsável por mais fracassos nas atividades profissionais, na perda da saúde e infelicidade nos lares, do que a maioria das pessoas pode imaginar. Mesmo os que perpetram tais ultrajes são, muitas vezes, inconscientes do mal que praticam. Portanto, parece oportuno dedicar um capítulo à explicação de algumas leis de magia, que são as mesmas para a branca e para a negra. Existe somente uma força, e esta pode ser usada para o bem e para o mal. De acordo com as razões que a motivam e do uso que é feito dela, torna-se negra ou branca.

É um axioma científico que "Ex nihil, nihil fit" (do nada, nada vem). E necessário haver uma semente antes que haja uma flor, porém, de onde veio a primeira semente é algo que a ciência. não consegue explicar. O ocultista sabe que todas as coisas vieram do arche, a essência infinita do caos, usada por Deus, o Grande Arquiteto, para a construção de nosso universo. O mago competente, obtendo o núcleo de alguma coisa, pode extrair a mesma essência para uma necessidade posterior. Cristo, por exemplo, tinha alguns pães e alguns peixes e, por meio desses núcleos, Ele tirou a essência primordial do caos para suprir o que Lhe faltava, executando assim, o milagre de alimentar uma multidão. Um mago humano, cujo poder não é tão elevado, pode mais facilmente atrair as coisas que já se tenham materializado, vindas do caos. Pode pegar flores ou frutas pertencentes a alguém, numa distância de quilômetros ou centenas de quilômetros, desintegrá-las em seus constituintes atômicos, transportá-las através do ar e fazer com que elas assumam sua forma física regular na sala onde está com amigos, só para diverti-los. Esta magia é, no mínimo, cinza, ainda que ele envie o pagamento pelo que tirou. Se não o fizer, será Magia Negra, pois roubou um bem de alguém. A magia para ser branca precisa ser usada de maneira altruísta, com propósitos nobres, como o evitar que um companheiro sofra. Cristo, quando deu de comer à multidão a partir do caos, justificou Sua atitude pelo fato dessas pessoas estarem com Ele há vários dias e, se tivessem que voltar para suas casas sem alimento físico, por certo desmaiariam pelo caminho e sofreriam privações.

Deus é o Grande Arquiteto do Universo e os Iniciados das Escolas Brancas são também "arche-tektons", construtores da essência primordial em seu trabalho benéfico à humanidade. Esses Auxiliares Invisíveis necessitam um núcleo do corpo vital do paciente que, como sabem os estudantes da Fraternidade Rosacruz, lhes é fornecido pelos eflúvios vindos da mão do solicitante e que impregnam o papel quando ele assina pedindo auxílio e cura. Com este núcleo do corpo vital do paciente, eles podem atrair a matéria virgem necessária para restaurar a saúde, reconstruindo e fortalecendo o organismo afetado.

Os Magos Negros são espoliadores, motivados pelo ódio e pela maldade. Também precisam de um núcleo para suas abomináveis ações e conseguem mais facilmente obtê-lo do corpo vital da vítima nas sessões espíritas ou hipnóticas, onde os assistentes relaxam, colocam-se num estado mental negativo, deixam cair os maxilares enfraquecendo suas individualidades por meio de outras diferentes práticas mediúnicas. Mesmo pessoas que não freqüentam esses lugares, não estão totalmente imunes. Há certas partes do corpo vital, como os cabelos e as unhas, que ignorantemente espalhamos e que podem ser usados pelos Magos Negros. Os negros, em sua magia "vodu", usam a placenta para seus horríveis propósitos. Um homem perverso, cujas práticas foram expostas há alguns anos atrás, obtinha de meninos o fluído vital que usava para seus atos demoníacos. Até mesmo uma coisa tão simples como um copo de água colocado bem próximo a certas partes do corpo de uma vítima em perspectiva, pode absorver uma parte do seu corpo vital enquanto o Mago Negro conversa com ela. Isto dará ao Mago Negro o núcleo necessário, que também poderá ser obtido de um pedaço de roupa da pessoa. A mesma emanação invisível contida em uma vestimenta que orienta um cão de caça na pista de determinada pessoa, não só guiará o mago branco ou negro à residência dessa pessoa, como ainda fornecerá a chave do seu organismo que poderá ser beneficiado ou prejudicado de acordo com a intenção do mago.

Existem, porém, métodos para proteger-nos destas influências inimigas, as quais faremos menção na última parte deste capítulo. Debatemos longamente o fato de ser ou não prudente chamar a atenção do estudante para essas realidades, e chegamos à conclusão de que não devemos imitar o avestruz, que esconde sua cabeça num buraco na areia quando o perigo se aproxima. É melhor estarmos esclarecidos quanto às coisas que nos ameaçam para que, numa emergência, possamos tomar as precauções necessárias. A batalha entre as forças do bem e do mal está sendo travada com tal intensidade, que quem não estiver empenhado no verdadeiro combate não poderá compreender. Os Irmãos Maiores da Rosacruz e outras ordens afins, que representam em sua totalidade o Santo Graal, vivem do amor e da essência do serviço altruísta. Da mesma forma que as abelhas juntam o mel, eles recolhem e armazenam o bem e o serviço de todos que estão se esforçando para viver a vida. Acrescentam isto ao brilho do Santo Graal, que se torna mais esplendoroso irradiando uma influência mais forte sobre aqueles que estão espiritualmente receptivos, imbuindo-os de maior ardor, zelo e dedicação ao trabalho amoroso, lutando pelo bem. Ao contrário, as forças do mal do Graal Negro florescem através do ódio, da traição, da crueldade e por todos os atos demoníacos do calendário do crime. Tanto as forças do Graal Branco como as do Negro necessitam de um sustento - um fornecido pelo bem, o outro pelo mal - para a continuidade de sua existência e para a força de lutar. Se não conseguirem obter o que necessitam, tornam-se famintos ç enfraquecidos. Em conseqüência, a luta sem tréguas é travada entre eles.

Todas as noites, à meia-noite, os Irmãos Maiores em seu serviço abrem o coração para atrair os dardos do ódio, inveja, malícia e todo o mal que tenha sido perpetrado nas últimas vinte e quatro horas. Primeiro, para impedirem as forças do Graal Negro de obter seu alimento. Segundo, para que possam transformar o mal em bem. Da mesma maneira que as plantas juntam o inerte dióxido de carbono exalado pela humanidade e daí constroem seus corpos, os Irmãos do Santo Graal transformam o mal dentro do templo. Da mesma maneira que as plantas expelem o oxigênio renovado tão necessário à vida humana, os Irmãos Maiores devolvem à humanidade a essência do mal transformado em senso moral e consciência, para que, juntamente com o bem, o mundo se torne melhor cada dia que passa.

Os Irmãos Negros, ao invés de transmutar o mal, infundem-lhe uma energia dinâmica maior e lançam-no em vãos esforços para conquistar os poderes do bem. Para esses fins, usam elementais e outras entidades desencarnadas, as quais, sendo de uma ordem inferior, estão disponíveis para tais práticas repulsivas. (guando os homens queimavam óleo animal ou velas feitas do sebo de animais, os elementais aglomeravam-se ao seu redor como diabos ou demônios, procurando obsedar aquele que oferecesse urna oportunidade. Até mesmo as velas de cera oferecem alimento para essas entidades. Porém, os modernos métodos de iluminação por eletricidade, carvão ou mesmo velas de parafina são inadequados para eles que, não obstante, ainda gravitam por bares, matadouros e lugares semelhantes onde existem animais e homens parecidos com os animais. Gostam muito de lugares onde se queime incenso, pois isto oferece-lhes um meio de acesso fácil, e quando os participantes de sessões inalam o odor do incenso, estão inalando também os espíritos elementais que os vão afetar de acordo com o caráter de cada um.

E aqui onde podemos usar a proteção da qual falamos anteriormente. Quando vivemos vidas puras, quando nossos dias são preenchidos em serviços para Deus e para nossos irmãos com pensamentos e ações elevadas, estamos criando para nós o Dourado Manto Nupcial, que é uma força radiante para o bem. Nenhum mal é capaz de penetrar essa armadura, pois o mal age, então, como um bumerangue e retorna para aquele que o enviou, devolvendo-lhe o mal que engendrou.

Mas, nenhum de nós é completamente bom. Conhecemos muito bem a guerra travada entre a carne e o espírito. Não podemos ignorar o fato de que, assim como Paulo, "o bem que deveríamos fazer, não o fazemos, e o mal que deveríamos evitar, é o que fazemos". Freqüentemente nossas boas resoluções redundam em nada e fazemos o mal porque é mais fácil. Portanto, todos temos o núcleo do mal dentro de nós, que permite o "abre-te-sésamo" para que essas forças demoníacas possam agir. Por essa razão, é melhor não nos expormos sem necessidade em lugares onde são efetuadas sessões com espíritos invisíveis, mesmo que seus ensinamentos pareçam elevados para os mais incautos. Mesmo como espectadores, não devemos participar de demonstrações hipnóticas, pois uma atitude negativa pode deixar a pessoa sujeita ao perigo da obsessão. Deveríamos seguir sempre o conselho de Paulo e revestir-nos com a completa armadura de Deus. Devemos ser positivos em nossa luta pelo bem contra o mal, e nunca perder uma oportunidade de ajudar os Irmãos Maiores através da palavra e da ação na Grande Luta pela supremacia espiritual.


 

CAPÍTULO XIV

 

Nosso Governo Invisível

 

É do conhecimento dos estudantes da Filosofia Rosacruz, que cada espécie de animal é dominada por um espírito-grupo, que é seu guardião e que os protege com o objetivo de guiá-los no caminho da evolução que for mais conveniente para o seu desenvolvimento. Não importa qual a posição geográfica desses animais; o leão nas selvas da África é dominado pelo mesmo espírito-grupo do leão que está na jaula de um zoológico em países do hemisfério norte. Portanto, esses animais são semelhantes em todas as suas principais características: têm os mesmos gostos e aversões com respeito à alimentação, e agem de maneira quase idêntica sob circunstâncias similares. Se alguém deseja estudar a classe dos leões ou dos tigres, basta estudar um deles, pois este não tem o poder de escolha ou prerrogativa, mas age inteiramente de acordo com o que dita o espírito-grupo. O mineral não pode escolher se vai cristalizar-se ou não; a rosa é impelida a desabrochar, o leão é obrigado a caçar e, em cada caso, a atividade é ditada completamente pelo espírito-grupo.

Porém, o homem é diferente quando queremos estudá-lo, percebemos que cada indivíduo é uma espécie única em si mesmo. O que um faz sob determinada circunstância, não indica o que o outro fará em circunstância idêntica. O alimento que um ingere bem, pode ser veneno para outro. Cada um tem diferentes prazeres e desprazeres. O homem, como o vemos no mundo físico, é a expressão de um espírito interno individual com escolha e privilégios.

Mas, na realidade, o homem não é tão livre quanto parece. Os estudiosos da natureza humana já observaram que, em certas ocasiões, um grande número de pessoas agirá corno se estivesse dominado por um espírito. E fácil notar, também, sem recorrer ao ocultismo, que as várias nações têm certas características físicas próprias. Todos nós conhecemos os tipos alemães, franceses, ingleses, italianos e espanhóis. Cada um desses povos tem características que diferem das de outros, indicando assim que deve existir um espírito de raça na raiz dessas peculiaridades. O ocultista que é dotado de visão espiritual tem conhecimento desse fato, que cada nação tem um espírito de raça diferente que a protege e paira como uma nuvem sobre o país. Nele as pessoas vivem, movimentam-se e têm o seu ser. Ele é seu guardião ,e está constantemente trabalhando para seu desenvolvimento, construindo sua civilização e amparando ideais da mais elevada natureza, compatíveis com sua capacidade para o progresso.

Lemos na Bíblia que Jeová, Elohim, que era o espírito de raça dos judeus, guiou-os numa coluna de nuvem, e no Livro de Daniel tomamos conhecimento do trabalho desses espíritos de raça. A imagem que Nabucodonosor viu com cabeça de ouro e pés de argila, mostrava claramente como uma civilização construída inicialmente com ideais dourados, pouco a pouco degenerou até que, na última parte de sua existência, os pés de argila fracionaram-se e a imagem foi condenada a ruir. Assim, todas as civilizações quando iniciadas pelos diferentes espíritos de raça têm grandes e dourados ideais, mas a humanidade, por ter algum livre-arbítrio e escolha, não segue implicitamente os ditames dos espíritos de raça, como os animais seguem os comandos dos espíritos-grupo. Por essa razão, com o correr do tempo, uma nação pára de crescer, e, como não pode haver imobilidade no cosmos, começa a degenerar até que os pés são só argila. Então, é necessário um golpe para destruí-Ia, para que outra civilização possa ser construída sobre suas ruínas.

Mas, os impérios não caem sem um forte golpe físico e, conseqüentemente, um instrumento do espírito de raça de uma nação aparece quando esta nação está condenada a cair. Os Capítulos X e XI de Daniel dão-nos uma visão dos trabalhos dos governos invisíveis dos espíritos de raça, as forças por detrás do trono. Daniel estava muito perturbado espiritualmente; jejuava por três semanas completas rezando por luz e, ao final desse período, um Arcanjo, um espírito de raça, apareceu-lhe dizendo: "Não temas, Daniel, pois desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a mortificar-te na presença de teu Deus, foram ouvidas as tuas palavras e eu vim por causa dos teus rogos. Porém, o príncipe do reino dos Persas resistiu-me por vinte e um dias; mas eis que veio em meu socorro Miguel, um dos primeiros príncipes, e eu fiquei lá junto do rei dos Persas". Em seguida, explica a Daniel o que irá acontecer: "Sabes tu porque eu vim ter contigo? Agora volto a pelejar contra o príncipe dos Persas, e quando eu sair virá o príncipe dos Gregos, e em todas as coisas ninguém me ajuda senão Miguel, que é o vosso príncipe". O Arcanjo também disse: "E eu, desde o primeiro dia de Dario, o Meda, estava junto dele para o sustentar e o fortificar".

Assim, quando a sentença é dada, alguém se erguerá para gerir o golpe; poderá ser um Ciro, um Dario, um Alexandre, um César, um Napoleão ou um "Kaiser". Este poderá pensar que é o primeiro a iniciar tal movimento, um indivíduo livre agindo por sua própria escolha e vontade. Na verdade, é somente o instrumento do governo invisível do mundo, o poder por detrás dos tronos, os espíritos de raça, que vêem a necessidade de destruir civilizações que já viveram além de sua utilidade, de modo que a humanidade possa ter um outro começo e possa evoluir sob novo ideal, mais elevado do que aquele que a animava antes.

O próprio Cristo quando na Terra disse: "Vim não para trazer a paz, mas uma espada", pois era evidente para Ele que, enquanto a humanidade estivesse dividida em raças e nações, não poderia haver "paz na Terra e boa vontade entre os homens". Somente quando as nações se unirem numa fraternidade universal é que a paz será possível. As barreiras do nacionalismo precisam ser abolidas e, para este fim, os Estados Unidos da América estão-se convertendo num crisol, onde tudo o que é bom das nações antigas está sendo reunido e amalgamado para que uma nova raça com ideais mais elevados e sentimentos de fraternidade universal possa nascer para a Era Aquariana. Entrementes, as barreiras do nacionalismo já foram parcialmente destruídas na Europa, através do terrível conflito que teve seu fim há pouco tempo (a 1ª Grande Guerra). Isto faz aproximar o dia da amizade universal e a realização da Fraternidade humana.

Outro objetivo deve ser também conquistado. De todos os sofrimentos aos quais a humanidade está sujeita, nenhum é maior do que a morte, que nos separa daqueles que amamos, pois somos incapazes de vê-los depois que deixaram os seus corpos. Mas, tão certo como ao dia se segue a noite, assim também todas as lágrimas vertidas destruirão a camada que agrara cega os olhos do homem ocultando-lhe a terra dos mortos que vivem. Já dissemos repetidas vezes e reafirmamos agora, que uma das maiores bênçãos que advirá da guerra será a visão espiritual que se desenvolverá num grande número de pessoas. A intensa aflição de milhões de seres, o anseio de rever os entes queridos que lhes foram arrebatados tão brusca e cruelmente, são uma força de incalculável energia e força. Da mesma maneira, aqueles que morreram prematuramente e se encontram agora no mundo invisível, estão igualmente desejosos de rever seus entes próximos e queridos para transmitir-lhes palavras de conforto que possam convencê-los de seu bem-estar. Portanto, podemos dizer que dois grandes exércitos compostos de milhões e milhões estão, com enorme energia e intensidade, abrindo um túnel com o propósito de ligar o mundo invisível ao visível. Dia após dia, este véu está ficando mais tênue e, mais cedo ou mais tarde, os vivos e os mortos que vivem encontrar-se-ão no meio do túnel. Antes que percebamos, a comunicação será estabelecida e isto constituirá uma experiência tão comum que, quando nossos entes amados saírem de seus corpos gastos e doentes, não sentiremos tristeza nem perda, porque seremos capazes de vê-los em seus corpos etéricos, movimentando-se entre nós como costumavam fazer. Então, sairemos vitoriosos do grande conflito com a morte e poderemos dizer: "Oh, morte, onde está teu aguilhão? Oh, tumba, onde está tua vitória?"


 

CAPÍTULO XV

 

Preceitos Práticos para Pessoas Práticas

 

"Se eu tivesse que fazer negócios seguindo os princípios formulados no Sermão da Montanha, estaria totalmente arruinado em menos de um ano", disse um crítico recentemente. "Isto porque é impraticável seguir a Bíblia em nossas atuais condições econômicas; é impossível viver de acordo com ela".

Se isto é verdade, há uma boa razão para existir o ateísmo no mundo, mas como num tribunal é sempre permitido ao à acusado um julgamento justo, vamos examinar a Bíblia do começo ao fim antes de julgá-la. Quais são as acusações específicas? "Realmente são incontáveis", responde o crítico, "mas para citar apenas algumas, vamos tomar certas passagens como: `Bem-aventurados são os pobres de espírito pois deles será o Reino dos Céus', `Bem-aventurados os humildes pois estes serão os herdeiros da Terra', `Não nos preocupemos com o amanhã, com o que iremos comer ou beber'. Estas idéias indicam o caminho certo para a pobreza".

"Muito bem", diz o defensor, consideremos primeiramente a última asserção. A versão do Rei Jaime diz: "nenhum homem pode servir a dois senhores; não podeis servir a Deus e ao diabo, portanto vos digo: não andeis inquietos, nem com o que vos é preciso para vestir o vosso corpo. A vida não vale mais que o alimento e o corpo mais que o vestido? Considerai os corvos, que não semeiam, nem ceifam, nem têm celeiro, e Deus, seu Pai celestial, contudo, sustenta-os. Quanto mais valeis vós do que eles? Mas qual de vós, por muito que penseis, podereis acrescentar um côvado á vossa estatura? Se vós, pois, não podeis fazer o que é o mínimo, por que estais em cuidado sobre as outras coisas? Considerai como crescem os lírios no campo, eles não trabalham, nem fiam; e, contudo, digo-vos que nem Salomão com toda a sua glória se vestia como um deles. Se a erva que hoje está no campo e amanhã lançada ao forno Deus veste assim, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Vós, pois, não procureis o que haveis de comer ou beber, e não andeis com o espírito preocupado. Porque são os homens do mundo que buscam todas essas coisas. Mas o vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. Buscai, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo".

Se isto significa que devemos dissipar completamente tudo o que temos, vivendo de maneira pródiga ou descomedida, então, é realmente uma idéia impraticável e desmoralizante. Contudo, tal interpretação não está de acordo com o conteúdo e o ensinamento da Bíblia, que não quis dizer exatamente isso. A palavra grega merimnon significa ser muito cuidadoso ou ansioso, e se lermos a passagem com esta alteração veremos que ela ensina uma lição diferente, que é totalmente praticável. "Mammon" é a palavra síria para as riquezas desejadas pelas pessoas levianas. No parágrafo anterior, Cristo exortou-os a não se tornarem servos ou escravos das riquezas, as quais são abandonadas quando o cordão prateado se rompe e o espírito retorna a Deus. Exortou-os a procurarem viver vidas de amor, de serviço e acumular tesouros de boas ações que poderão levar consigo para o Reino do Céu. Também disse que não ficassem muito ansiosos quanto ao que irão comer, beber ou vestir. Por que tanta preocupação? Não acrescentaremos nem um milímetro a mais na nossa altura, nem um fio de cabelo em nossa cabeça com esta ansiedade. A preocupação é a mais inútil e extenuante de todas as nossas emoções e não traz nenhum bem. Nosso Pai celestial sabe que precisamos de coisas materiais, portanto, procuremos primeiro Seu reino e a retidão, e tudo que precisarmos será alcançado. Em duas ocasiões, quando multidões acompanhavam Cristo em lugares distantes de seus lares e longe de cidades onde podiam obter o necessário para o sustento, Ele demonstrou isso. Deu-lhes primeiro o alimento espiritual que procuravam, e depois atendeu suas necessidades físicas diretamente de uma fonte espiritual de abastecimento.

Isso funciona nos dias modernos? Certamente tem havido tantas demonstrações a esse respeito que não é necessário relatar nenhuma em especial. Quando trabalhamos e oramos, oramos e trabalhamos fazendo de nossas vidas uma prece viva de oportunidades para servir os outros, então, todas as coisas terrenas virão naturalmente conforme nossas necessidades, e continuarão vindo, cada vez em maior escala, de acordo com o grau em que forem usadas à serviço de Deus. Se percebermos que somos somente guardiães e zeladores dos bens terrenos que possuímos, realmente somos "pobres de espírito" no que se refere a esses tesouros efêmeros, porém, seremos ricos nos tesouros mais duradouros do Reino do Céu. Se não somos materialistas, certamente compreenderemos que esta é uma atitude prática.

Não faz muito tempo que "caveat emptor", "o comprador que tome cuidado", era o lema dos negociantes que procuravam riquezas terrenas e tinham o comprador como sua presa legítima. Quando já tinham vendido suas mercadorias e recebido o dinheiro, não consideravam se o comprador ficava satisfeito ou não. Gabavam-se por ter vendido um artigo inferior que logo se desgastaria, como fica evidente no lema: "a fragilidade da mercadoria é a força do comércio". Porém, aos poucos, as mesmas pessoas que desprezavam a idéia de introduzir religião em seus negócios, estão rejeitando este "caveat emptor" como conduta e, inconscientemente, começam a adotar o preceito de Cristo: "Aquele que quiser ser o maior entre vós, seja o servo de todos". Universalmente, os mais esclarecidos homens de negócio dão assistência ao comprador. E uma política que tem retorno e pode, conseqüentemente, ser classificada como outro dos preceitos práticos da Bíblia.

Algumas vezes pode acontecer que, apesar de seu desejo em servir corretamente seus clientes, alguma coisa não correu bem, e um comprador insatisfeito chega enfurecido, depreciando o artigo adquirido. Sob o antigo e imprevisível regime de "caveat emptor", o comerciante teria simplesmente sorrido e expulsado o cliente. Mas isto não acontece com o negociante moderno, aquele que aplica a Bíblia em seu' trabalho. Este faz uso da sabedoria de Salomão que dizia: "uma resposta delicada afasta a ira" e da afirmação de Cristo: "os humildes herdarão a terra": Desculpa-se pelos defeitos da mercadoria, oferece restituição, e o freguês, anteriormente insatisfeito, sai sorrindo e ansioso para contar a forma corretíssima como a empresa o tratou. Assim, obedecendo os preceitos práticos da Bíblia, mantendo-se numa atitude de humildade e compreensão, o negociante ganhará mais clientes que confiam que receberão um tratamento correto. O lucro nas vendas equilibrará a perda ocasionada pelos artigos que causaram a insatisfação de outros fregueses.

Manter-se equânime e humilde produz dividendos que irão converter-se em dinheiro real, mas bem maiores serão os dividendos sob o ponto de vista moral e espiritual. Não existe um lema melhor para os negócios do que aquele que se encontra no Eclesiástico: "A sabedoria é melhor do que armas de guerra. Não sejas precipitado em tua boca, não sejas apressado em falar com ira, pois esta habita o coração dos tolos". Tato e diplomacia são sempre melhores que a força, pois como diz a Bíblia: "Se o ferro estiver sem corte devemos usar mais força; porém, a sabedoria é mais proveitosa quando a usamos". A linha de menor resistência, desde que seja reta e honrada, é sempre a melhor. Assim, "Ama teus inimigos, faze-lhes o bem, ainda que te tratem desdenhosamente':

É uma boa política de negócios tentar reconciliar-nos com aqueles que nos fazem mal a fim de que não o façam outra vez. E melhor. superarmos nossos maus sentimentos do que alimentá-los, pois o que o homem semear, isso também colherá. Se semeamos ódios e maldades, criamos e alimentamos em outros os mesmos sentimentos. Tudo isto se aplica também à vida particular, aos relacionamentos sociais e aos negócios. Quantas brigas não poderiam ser evitadas se cultivássemos a virtude da humildade em nossos lares. Quanto prazer teríamos, quanta felicidade entraria em nossas vidas se em nossas relações sociais e profissionais aprendêssemos a fazer aos outros o que gostaríamos que fizessem a nós!

Devíamos evitar a grande tensão mental que muitos despendem na preocupação do que irão comer e beber. Nosso Pai Celestial possui a terra e toda abundância que nela há. O gado e tudo o mais em milhares de campos são Dele. Sé aprendermos verdadeiramente a entregar nossos cuidados a Ele, não há dúvida que o caminho para sair de nossas dificuldades será providenciado. É um fato conhecido por todos que investigaram o assunto que, comparativamente, poucas pessoas morrem por falta de recursos necessários à vida, porém, muitos morrem pela indulgência excessiva aos seus apetites. E uma experiência prática e constante do autor e de muitas outras pessoas que, se trabalhamos diariamente com boa vontade e dispostos a fazer o melhor possível o trabalho que se apresenta diante de nós, os recursos para o amanhã sempre surgirão. Se seguirmos as instruções da Bíblia, fazendo tudo "como se fosse para o Senhor", não importa que linha de trabalho honesto realizemos, estaremos também, ao mesmo tempo, procurando o Reino de Deus. Mas se somos apenas servos temporários, trabalhando por temor ou favor, não podemos esperar sucesso a longo prazo. Saúde, riqueza e felicidade podem servir-nos por pouco tempo, mas fora dos fundamentos sólidos da Bíblia não pode existir prazer duradouro na vida e verdadeira prosperidade nos negócios.


 

CAPÍTULO XVI

 

O Ruído, O silêncio e o Crescimento Anímico

 

Estudantes da ciência da alma sentem-se, naturalmente, ansiosos por crescer em graça com o objetivo de servir o melhor possível no Grande Trabalho da Elevação do Gênero Humano. Sendo sinceros, estão cientes de suas faltas mas, enquanto procuram os meios de progredir, perguntam-se freqüentemente: "Qual o fator do impedimento?" Alguns, especialmente no passado quando a vida era menos intensa do que agora, perceberam que a vida cotidiana entre os homens apresentava muitos obstáculos. Para vencê-los e alcançar o crescimento anímico, isolavam-se da comunidade indo para os mosteiros ou para as montanhas onde podiam dedicar-se à vida espiritual sem serem perturbados.

Sabemos, no entanto, que não é este o caminho. A maioria de nossos estudantes já compreendeu que se fugimos de uma experiência hoje, iremos enfrentá-la novamente amanhã, e que a palma da vitória é conseguida conquistando o mundo, não fugindo dele. O ambiente no qual fomos colocados pelos Anjos do Destino foi de nossa própria escolha, quando estávamos no momento decisivo de nosso ciclo de vida no Terceiro Céu. Éramos, então, espíritos puros, livres da matéria que agora cobre nossa visão. Assim, essa escolha é feita para aprendermos as lições necessárias ao nosso desenvolvimento, e estaríamos cometendo um grave erro se tentássemos fugir desse compromisso.

Porém, recebemos a mente para um determinado propósito: raciocinar sobre coisas e condições; aprender a distinguir o essencial do supérfluo; discernir quais os obstáculos que nos levam a conquistar uma virtude e os que abalam nossa sensibilidade e nosso sistema nervoso, sem ganharmos com isso qualquer compensação espiritual. Será de grande benefício aprendermos a diferenciar estas situações, pois assim conservaremos nossa força e aprenderemos a aceitar somente aquilo que devemos cumprir para o nosso bem-estar espiritual. Com esse procedimento economizaremos muita energia, e teremos a maior satisfação em seguir rumos mais proveitosos cada dia. Os detalhes desse problema são diferentes em cada existência, contudo, há certos princípios gerais que nos ajudarão a compreender e a aplicá-los em nossas vidas, e entre eles está o efeito do silêncio e do ruído no crescimento anímico.

À primeira vista, pode surpreender-nos a afirmação de que o ruído e o silêncio são fatores muito importantes no crescimento anímico; porém, quando examinamos o problema, percebemos que isto não é uma noção improcedente. Consideremos primeiro a expressão: "Guerra é inferno", e depois vamos imaginar uma cena de guerra. A visão é aterrorizante, maior para aqueles que possuem uma clara visão espiritual do que para os que estão limitados somente à visão física. Estes últimos podem fechar seus olhos se o quiserem, porém, o verdadeiro horror da situação é sentido no coração do Auxiliar Invisível, que não só ouve e vê, mas também sente em seu próprio ser, o sofrimento e a dor de tudo que o circunda. Sofre, como Parsifal -que sentia em seu coração a ferida de Amfortas, o rei ferido do Graal - e, realmente, sem um sentimento intensamente íntimo de unidade com o sofrimento, não poderia haver cura nem ajuda. No entanto, existem realidades das quais ninguém pode escapar: o terrível barulho das granadas e bombas, o troar ensurdecedor dos canhões, o metralhar violento das armas de fogo, os gemidos dos feridos e as blasfêmias de uma certa classe de participantes. Não precisamos de nenhum outro argumento para concordar que, realmente, esse "ruído infernal" é maléfico para o crescimento anímico. O campo de batalha é o último lugar que alguém, possuidor de uma mente sã, escolheria para obter um crescimento anímico. Contudo, não devemos esquecer que muito deste crescimento foi alcançado por ações nobres e de auto-sacrifício aí realizadas. Porém, observemos que tais resultados foram alcançados apesar das condições e não por causa delas.

Por outro lado, vamos considerar uma igreja ressoando com acordes de um canto gregoriano ou de um oratório de Haendel. Envolvidas por esses sons, as orações da alma aspirante voam em direção ao Autor do nosso Ser. Esta música pode ser chamada de "celestial" e o templo considerado o que oferece condições ideais para o crescimento anímico. Mas, se lá permanecermos, esquecendo-nos de nossos deveres no mundo, fracassaremos, apesar da condição ideal.

No entanto, resta-nos um método seguro que nos possibilita permanecer entre os estrondos dos campos de batalha. É o esforço que devemos fazer para extrair a matéria necessária para o crescimento anímico, mesmo sob as mais adversas condições, através do serviço altruísta. E, ao mesmo tempo, construir dentro de nós um santuário repleto daquela música silenciosa que soa sempre na alma de quem serve amorosamente, como uma fonte de elevação acima de todas as vicissitudes da existência terrena. Possuindo aquele "templo vivo" interno, tornando-nos de fato "templos vivos", podemos voltar e entrar nesta casa espiritual a qualquer momento, sem descuidar dos nossos legítimos deveres com os assuntos temporais. Essa casa espiritual, que não foi construída com as mãos, envolve-nos em sua harmonia. Podemos fazer isto muitas vezes durante o dia, e assim restaurar, continuamente, a harmonia que foi perturbada pelas discórdias das relações mundanas.

Portanto, como devemos construir este templo e enchê-lo com a música celestial que tanto desejamos? O que ajudará e o que estorvará? Estas são perguntas que pedem uma solução prática. Tentaremos respondê-las da maneira mais simples possível, pois esta é uma questão vital. As pequenas coisas são particularmente importantes, pois o neófito precisa considerar até as coisas mais insignificantes. Se acendermos um fósforo em meio a um vento muito forte, ele se apagará imediatamente. Mas, se o acendermos com cuidado e calma próximo a um monte de galhos secos, conseguiremos que a chama cresça, pois o vento irá reavivá-la ao invés de apagá-la. Adeptos ou Grandes Almas podem permanecer serenos sob condições que perturbariam o aspirante comum, por isso, este tem que usar de discernimento e não se expor desnecessariamente à condições contrárias ao crescimento anímico. O que mais precisa ter é equilíbrio, e nada é mais nefasto para conseguí-lo do que o ruído.

Não podemos negar que nossas comunidades são "manicômios" e que temos um direito legítimo de fugir, se possível, de alguns ruídos tais como os dos carros ao fazerem uma curva. Não precisamos viver nessas esquinas em detrimento dos nossos nervos ou em prejuízo de nossos esforços de concentração. Porém, se temos uma criança doente, chorando, que depende dia e noite de nossa atenção, mesmo que isso afete os nossos nervos, não temos o direito, perante Deus e os homens, de fugir ou negligenciar o nosso dever para concentrar-nos. Estes fatos são óbvios e aceitos imediatamente. No entanto, as coisas que mais ajudam ou impedem são, como já dissemos, as tão pequenas que escapam inteiramente à nossa atenção. Ao enumerá-las, poderão provocar um sorriso de incredulidade, porém, se meditarmos sobre elas e as pusermos em prática, concluiremos que, segundo o axioma, "por seus frutos os conheceremos". Assim, nossa afirmativa de que "o silêncio é um dos maiores auxiliares no crescimento anímico", deveria ser cultivado pelo aspirante em seu lar, em seu comportamento pessoal, em seus passeios, seus hábitos e, por mais paradoxal que pareça, até em sua conversação.

Uma prova do bem que faz a religião é que ela torna as pessoas felizes. Não obstante, a maior felicidade está, geralmente, muito profunda para ser mostrada externamente. Preenche todo nosso ser com tal plenitude, que é quase atemorizante, e uma conduta tumultuada nunca segue junta com a verdadeira felicidade, pois o ruído é o sinal da superficialidade. A voz alta, a risada vulgar, os hábitos barulhentos, os saltos dos sapatos que soam como marretas, o bater de portas e o barulho dos pratos são sinais de pessoas de sentimentos grosseiros, que amam o barulho e quanto maior ele for mais felizes ficam, uma vez que excitam os seus corpos de desejos. Para seu gosto, a música sacra é um anátema. Um conjunto de instrumentos metálicos de alta intensidade é preferível à qualquer outra forma de diversão, e quanto mais selvagem for a dança, melhor. Isto não acontece ou não deveria acontecer com o aspirante à vida superior.

Quando o menino Jesus foi perseguido por Herodes com intenção criminosa, sua única salvação estava na fuga e, por meio desse expediente, foram preservados sua vida e seu poder para assim crescer e cumprir sua missão. Do mesmo modo, quando o Cristo interno nasce no aspirante, a melhor maneira de preservar essa vida espiritual é fugir dos ambientes prejudiciais onde estas coisas que retardam são praticadas, e procurar um lugar entre pessoas de ideais semelhantes, desde que possa fazê-lo. Mas, se colocado numa posição de responsabilidade para com uma família, é seu dever lutar para alterar as condições através de preceitos e exemplos, de maneira que, com o tempo, aquela atmosfera refinada e suave que transmite harmonia e força possa reinar sobre toda a casa. Não é essencial para a felicidade das crianças que elas possam gritar ou correr freneticamente pela casa, batendo portas e quebrando móveis em sua desabalada carreira; é, sem dúvida, decididamente prejudicial, pois ensina a desrespeitar os sentimentos dos outros para sua própria gratificação. Elas se beneficiarão mais se seus sapatos tiverem sola de borracha e se forem ensinadas a reservar suas brincadeiras barulhentas para o jardim, brincando calmamente dentro de casa, fechando as portas com cuidado e falando em tom moderado, como as mães devem fazer.

E na infância que começamos a destruir os nossos nervos, os quais, mais tarde, nos incomodarão. Assim, se ensinarmos nossas crianças a lição acima indicada, nós as pouparemos de muitos problemas na vida, e também estaremos ajudando o nosso próprio crescimento anímico. Talvez sejam necessários alguns anos para corrigir um lar desses erros aparentemente insignificantes e assegurar uma atmosfera que contribua para esse crescimento, especialmente se as crianças já se tornaram adultas e ressentem-se de correções dessa natureza, mas devemos sempre tentar. Precisamos cultivar a virtude do silêncio ou nosso próprio crescimento anímico será mínimo. Se considerarmos esse problema sob o ponto de vista oculto em conexão com o importante veículo, o corpo vital, essa necessidade ficará bem mais evidente.

Sabemos que o corpo vital está sempre armazenando força no corpo físico para ser utilizada nesta "escola de experiência", e que, durante o dia, o corpo de desejos está constantemente dissipando esta energia em ações que constituem a experiência, a qual é eventualmente transmutada em crescimento da alma. Sabemos isso muito bem. No entanto, o corpo de desejos tem tendência a exceder-se se não for contido com rédea curta. Diverte-se em movimentos sem restrições, quanto mais loucuras praticar melhor, e descontrolado age sobre o corpo fazendo-o assobiar, cantar, pular, dançar e tantas outras coisas desnecessárias que são tão prejudiciais a esse crescimento. Enquanto estiver sob a influência da desarmonia e da discórdia, a pessoa estará morta para as oportunidades espirituais no mundo físico e, à noite, quando deixa seu corpo, o processo de restauração desse veículo vai consumir quase todo o tempo do sono, restando-lhe muito pouco para o serviço, mesmo que a pessoa esteja inclinada e pense seriamente em fazê-lo.

Portanto, devemos por todas as maneiras fugir de ruídos que não somos obrigados a ouvir, e cultivar pessoalmente o comportamento quieto e bondoso, a voz modulada, o andar silencioso, a presença discreta e todas as outras virtudes que conduzem à harmonia. Assim, o processo de restauração será rapidamente realizado e *estaremos livres a maior parte da noite para trabalhar nos mundos invisíveis, para adquirir o almejado crescimento anímico. Lembremo-nos que é necessário melhorar sempre, não desanimar com fracassos ocasionais, recordando a advertência de Paulo: "paciente perseverança em fazer o bem".


 

CAPÍTULO XVII

 

O "Magno Mistério" da Rosacruz

 

De vez em quando, recebemos cartas de estudantes queixando-se por se sentirem sozinhos no estudo da Filosofia Rosacruz. Seus maridos, esposas, filhos ou outros parentes não simpatizam e são até contrários aos ensinamentos, apesar de todos os esforços dos referidos estudantes para despertar o interesse dessas pessoas e assim obter sua companhia em seus estudos ou, pelo menos, liberdade para seguir seu caminho. Isto lhes causa uma certa infelicidade, de acordo com cada temperamento, e esses estudantes pedem para aconselhá-los como vencer o antagonismo de seus parentes e convertê-los. Já elucidamos isto através de cartas pessoais e tivemos o privilégio de ajudar a mudar as condições em muitos lares quando nossos conselhos foram seguidos. Sabemos, porém, que os que sofrem mais não se manifestam, portanto, resolvemos tornar a discorrer sobre esse assunto.

Diz-se muito acertadamente que "um pequeno conhecimento é uma coisa perigosa", e isto se aplica inteiramente tanto aos Ensinamentos Rosacruzes como a outros assuntos. Sendo assim, o primeiro passo é avaliar se temos o conhecimento suficiente para sentirmo-nos seguros. Em decorrência disso, faço uma pergunta: "O que é o Ensinamento Rosacruz que tanto querem compartilhar com os outros e aos quais eles se opõem? Serão as Leis Gêmeas de "Causa" e "Renascimento?" Elas são excelentes para explicar muitos problemas da existência, são um grande conforto quando o ceifeiro da vida aparece e nos rouba um ente próximo e querido. Mas não devemos esquecer que existem muitas pessoas que não têm interesse por tais assuntos. São tão incapazes de utilizar esses conhecimentos, quanto um surdo-mudo o é para usar um telefone. É verdade que trabalhamos com um aproveitamento maior quando conscientes da lei e seus objetivos. Porém, não esqueçamos que essas leis trabalham para o bem de todos, quer tenhamos conhecimento disso ou não. Portanto esse conhecimento não é essencial. As pessoas não sofrerão nenhuma grande perda por não seguirem esta doutrina e podem até escapar do perigo de possuir um "pequeno conhecimento".

Na Índia onde estas verdades são conhecidas e milhões de pessoas acreditam nelas, sabemos que fazem pouco esforço para o progresso material, porque sabem que têm tempo infinito e o que não conseguirem nesta vida, conseguirão em próximos renascimentos. Muitos ocidentais que adotaram a doutrina do renascimento pararam de ser membros úteis e ativos em sua comunidade e passaram a adotar uma vida de indolência. Com isso, acarretaram a reprovação e o antagonismo de muitos para os chamados ensinamentos superiores. Se seus amigos não quiserem aceitar esses ensinamentos, deixem-nos em paz. Fazer conversões não é o ponto essencial dos Ensinamentos Rosacruzes. O Guardião do Umbral não os examinará pelos conhecimentos que têm. Poderá até admitir alguns totalmente ignorantes quanto a este assunto, e fechar a porta a outros que devotaram toda sua vida ao estudo e ao ensino destas leis.

Então, se as doutrinas de "Causa" e "Renascimento" não são essenciais, o que dizer da constituição complexa do homem? Certamente é essencial saber que não somos simplesmente este corpo visível. Temos um corpo vital que deve ser carregado com energia, um corpo de desejos para gastar essa força, uma mente para guiar nossos esforços pelos canais da razão, e somos espíritos virginais envolvidos num véu tríplice como egos. Será essencial saber que o corpo físico é a contraparte material do Espírito Divino; que o corpo vital é uma réplica do Espírito de Vida; que o corpo de desejos é a sombra do Espírito Humano, enquanto a mente forma a conexão entre o tríplice espírito e o tríplice corpo?

Não, não é essencial saber essas coisas. Esse conhecimento quando usado adequadamente é uma vantagem, mas pode ser, também, uma desvantagem evidente no caso dos que possuem somente um "pequeno conhecimento". Existem muitos que estão sempre meditando sobre "o Eu superior" enquanto esquecem-se completamente dos muitos "egos inferiores" gemendo de miséria em suas portas. Existem muitos que sonham dia e noite com o momento de empreenderem seus vôos de alma diários como "Auxiliares Invisíveis", e assim aplacarem os sofrimentos dos enfermos e infelizes, porém, são incapazes de gastar um só centavo numa corrida de táxi para levar uma flor ou uma palavra de carinho a uma pobre e solitária alma que está num hospital. Repito que o Guardião do Umbral admitirá mais facilmente aquele que faz o que pode, do que aquele que sonhou muito e nada fez para ajudar seus irmãos sofredores.

Se pudéssemos fazer com que as pessoas estudassem os Ensinamentos Rosacruzes sobre a morte e a vida "post-mortem", acharíamos importante que tomassem conhecimento da existência do cordão prateado, que permanece sem se romper por um período de aproximadamente três dias e meio depois que o espírito deixa definitivamente o corpo denso. Ele não deve ser perturbado enquanto o panorama da vida que acaba de findar está sendo gravado no corpo de desejos, que servirá de árbitro de sua vida no mundo invisível. Gostaríamos que as pessoas conhecessem tudo sobre a vida do espírito no purgatório - como as más ações refluem sobre ele em forma de dor com a finalidade de criar a consciência e evitar que repita, numa vida posterior, os atos que causaram sofrimento a alguém. Faríamos com que soubessem como as boas ações da vida são transformadas em virtudes que serão utilizadas em vidas posteriores, como já foi explicado várias vezes em nossa filosofia.

Os estudantes devem ficar surpreendidos com a afirmação de que o conhecimento das grandes leis gêmeas não é essencial. A próxima afirmação de que não é importante se outros expliquem a constituição do homem de forma diferente, poderá escandalizá-los. Certamente sentir-se-ão chocados ao ouvir que os Ensinamentos Rosacruzes, referentes à morte e à passagem do espírito para os mundos invisíveis, são comparativamente desnecessários para o objetivo que visamos alcançar. Não importa se seus parentes compreendam ou acreditem nesses ensinamentos. No que diz respeito ao nosso próprio passamento, é recomendável fazer um pedido por escrito para que deixem nosso corpo em paz e sem ser perturbado pelo período de tempo necessário. Isso naturalmente será respeitado, pois as pessoas vêem estas "últimas vontades" com uma certa superstição. Se algum dos nossos amigos morrer, nós deveremos estar lá com nosso conhecimento, e poderemos proceder de maneira correta para com ele. Entretanto, não nos aborreçamos se eles se recusarem a admitir esta parte dos Ensinamentos Rosacruzes.

Mas o estudante pode dizer: "Se o conhecimento dos assuntos mencionados acima, que parecem de tanta importância prática, é secundário para a evolução, segue-se que os estudos sobre os Períodos, Revoluções, Globos do Mundo, etc., também são totalmente desnecessários. Isto refuta tudo o que foi ensinado no "Conceito" e nada resta dos Ensinamentos Rosacruzes que adotamos e aos quais depositamos a nossa fé!"

Nada resta? Na verdade, TUDO RESTA, pois os pontos acima mencionados são somente a casca que precisamos remover para chegar ao fruto, à essência, ao cerne de tudo. Talvez já tenha lido o "Conceito" muitas vezes. Talvez já o tenha estudado e esteja orgulhoso de seu conhecimento dos mistérios do mundo, porém, você algum dia já leu o mistério escondido em cada linha? Este é o maior ensinamento e o mais essencial. Seus amigos serão susceptíveis se você conseguir encontrá-lo e passá-lo a eles. O "Conceito" prega, em todas as páginas, o EVANGELHO DO SERVIÇO.

Por nossa causa, a Divindade manifestou o universo. As grandes Hierarquias Criadoras já foram e algumas ainda são nossas servas. Os luminosos anjos estelares, cujos corpos ígneos vemos movendo-se no espaço, trabalharam conosco durante eras e, no devido tempo, Cristo veio para dar-nos o ímpeto espiritual necessário para aquela época. Também é extremamente significativo que na parábola do Juízo final, Cristo não diz: "Bem fizeste, ó grande e erudito filósofo, que conheces a Bíblia, a Kabala, o "Conceito" ; e todas as outras literaturas misteriosas que revelam os intrincados trabalhos da natureza", mas Ele disse: "Bem fizeste tu,, bom e fiel servo... entrarás na alegria do teu Senhor... Pois Eu estava com fome e Me deste de comer, Eu estava com sede, e Me deste de beber..." Não há menção alguma à palavra conhecimento. Toda a ênfase está na fidelidade e no serviço.

Existe uma profunda razão oculta para isto: o serviço constrói o corpo-alma, o Dourado Manto Nupcial, sem o qual nenhum homem pode entrar no reino dos Céus, ocultamente chamado de "A Nova Galiléia" Não importa se estamos conscientes ou não da marcha dos acontecimentos, contanto que efetuemos fielmente o nosso trabalho. Além do mais, à medida que o luminoso corpo-alma cresce internamente e ao redor de uma pessoa, essa luz ensinar-lhe-á os Mistérios sem a necessidade de livros. Aquele que assim aprende sobre Deus, sabe mais do que tudo que está contido nos livros do mundo. No devido tempo, a visão interna ser-lhe-á aberta e o caminho para o Templo ser-lhe-á mostrado. Se queremos ensinar nossos amigos, não importa quão céticos sejam, acreditarão em nós se pregarmos o evangelho do serviço.

Mas precisamos pregar através da prática. Precisamos tornar-nos servos dos homens se quisermos que acreditem em nós. Se quisermos que nos sigam, precisamos dar o exemplo, caso contrário, terão o direito de questionar nossa sinceridade. Lembre-se: "Tu és uma cidade sobre uma colina", e quando fazemos afirmações, eles têm o direito de julgar-nos através de nossos frutos, portanto: falemos pouco, sirvamos muito.

Existem muitos que gostam de falar durante uma refeição como a vida deve ser inofensiva e pacífica mas, obviamente, o assado vermelho sobre a mesa e o cigarro na boca anulam essa asserção. Existem outros que fazem do estômago um Deus e preferem estudar mais sobre dietas do que sobre a Bíblia, e estão sempre dispostos a fazer com que seus amigos os ouçam discorrer sobre as últimas novidades em alimentação. Conheci um homem que era dirigente de um grupo esotérico. Sua esposa era contra o ocultismo e contra a abstenção de carne. Ele a obrigava a preparar seus legumes e avisou-a que se ousasse trazer carne para sua mesa, contaminando seus pratos e sua alimentação, ele a expulsaria de casa juntamente com todas as panelas. Acrescentou ainda que se ela quisesse proceder como um suíno, deveria ir comer carne num restaurante.

Estranharemos que ela tenha julgado a religião por este homem e não a quisesse seguir? Certamente ele foi o culpado, pois era o "tutor de seu irmão", e embora este seja um caso extremo, torna a lição mais óbvia. É uma glorificação eterna para Maomé, sua esposa ter sido sua primeira discípula e ter elogiado sempre a sua bondade e consideração em casa. Este é um exemplo que todos deveríamos seguir se quisermos levar nossos amigos para a vida superior, pois embora todos os sistemas religiosos difiram externamente, a essência de todos é o AMOR.


 

CAPÍTULO XVIII

 

Pedras de Tropeço no Caminho

 

Freqüentemente, pessoas que não concordam em viver uma vida superior ou não têm aspirações para vivê-Ia, dizem que esta os desprepara para o trabalho do mundo. Infelizmente não podemos negar que existe uma razão aparente nesta afirmativa, embora o primeiro requisito para viver-se uma vida superior envolva a obrigação de um comportamento irrepreensível ao lidar com assuntos materiais, pois, a menos que sejamos honestos nas pequenas coisas, como podemos esperar que nos confiem maiores responsabilidades? Portanto, julgamos conveniente dedicar uma lição à respeito de algumas coisas que atuam como pedras de tropeço no caminho dos aspirantes.

Um relato da Bíblia conta-nos que quando o rei enviou seus servos com convites para o banquete que havia preparado, alguns convidados não compareceram por diversas razões. Cada um tinha algum motivo material para desculpar-se, isto é, compras, vendas, casamentos, portanto não podiam participar de algo espiritual. Podemos dizer que tais pessoas representam a maior parte da humanidade de hoje. Estão muito absorvidas com os interesses do mundo para devotarem um pensamento à aspiração de um objetivo superior. Existem outros, porém, que se tornam tão entusiasmados com a primeira experiência dos ensinamentos superiores, que estão prontos a desistir do trabalho no mundo, repudiar toda a obrigação e devotar seu tempo àquilo que, com prazer, chamam de "ajudar a humanidade". Admitem que é necessário despender muito tempo para aprender a ser um relojoeiro, um sapateiro, um engenheiro ou um músico, mas não sonhariam, nem por um momento, em abandonar sua atual atividade para se estabelecerem como sapateiros, relojoeiros ou professores de música só porque se animaram com esses trabalhos ou se sentiram inclinados a aprender esta ou aquela profissão. Perceberiam que sem o preparo e o treinamento adequados estariam destinados ao fracasso. Mesmo assim, pensam que só porque se entusiasmaram pelos ensinamentos superiores estão imediatamente capacitados para deixar o trabalho do mundo e devotar seu tempo, embora em menor grau, a um serviço semelhante àquele prestado por Cristo em Seu ministério.

Alguém escreveu para nossa Sede: "Desisti de comer carne e estou ansioso para viver uma vida ascética, longe do barulho do mundo que me atordoa. Quero dar minha vida pela humanidade". Outro diz: "Quero viver a vida espiritual mas tenho uma esposa que precisa de carinho e apoio. Acham que seria justo abandoná-la para ajudar meus semelhantes?" Outro desabafa: "Meu trabalho não é espiritual, todos os dias tenho que fazer coisas que estão em oposição à minha natureza superior, mas tenho uma filha cuja educação depende de mim. Que devo fazer, continuar ou desistir?" Existem muitos outros problemas que nos são apresentados, mas estes servem como bons exemplos, pois representam uma classe que está pronta para desistir do mundo à menor palavra de encorajamento, e correr para as montanhas na esperança de imediatamente criar asas. Se essas pessoas tiverem qualquer laço que as prendam, rompem-no sem escrúpulos ou qualquer consideração.

Outras pessoas ainda sentem alguma obrigação, mas seriam facilmente persuadidas a abandoná-la para viver o que chamam de "a vida espiritual". Não podemos ignorar que quando as pessoas chegam a este estado de espírito, quando perdem sua ambição de trabalhar no mundo, quando se tornam incapazes e negligentes com suas obrigações, merecem a reprovação da comunidade.

Como já foi dito, tal conduta está baseada na incompreensão dos ensinamentos superiores e não é, de maneira alguma, aprovada pela Bíblia ou pelos Irmãos Maiores.

E um passo na direção certa quando uma pessoa pára de ter uma alimentação carnívora porque sente compaixão pelo sofrimento dos animais. Há muitas pessoas que se abstêm de comer carne só por motivos de saúde, e sendo este um motivo particular, o sacrifício não tem mérito. Quando o aspirante à vida superior está preparado para abster-se de comer carne, só porque percebe que a influência purificadora de uma dieta isenta de carne sobre o corpo o ajudará a fazê-lo mais sensível às influências espirituais, também não tem grande mérito. Na verdade, as pessoas que se abstêm de comer carne por motivos de saúde serão muito beneficiadas. As que não comem carne para que seu corpo se torne mais sensível, também terão sua recompensa, porém, do ponto de vista espiritual, nenhuma alcançará o verdadeiro objetivo. Por outro lado, aquela que se abstém de comer carne porque percebe que a vida de Deus está imanente em todos os animais, assim como nela mesma; porque, em última análise, compreende que Deus sente todos os sofrimentos experimentados pelos animais e que existe uma lei divina: "Não matarás"; que esta abstenção foi movida pela compaixão, esta pessoa será beneficiada não somente na saúde, tornando seu corpo mais sensível aos impactos espirituais, mas, devido aos motivos que a impelem, obterá uma recompensa no seu crescimento anímico infinitamente mais precioso do que qualquer outro valor. É por essa razão que aconselhamos a abstenção da alimentação carnívora, mas devemos certificar-nos de que tomamos esta decisão por motivos espirituais corretos, caso contrário, nossos interesses espirituais em nada serão afetados.

Quando um entusiasta diz que quer. retirar-se do mundo e do barulho que o atordoa para viver a vida ascética, isto é realmente uma idéia estranha de servir. A razão de estarmos neste mundo é para podermos acumular experiência que depois será transmutada em crescimento anímico. Se um diamante bruto for colocado numa gaveta e aí permanecer por muitos anos, permanecerá exatamente igual, em nada mudará. Mas se for levado a uma pedra de esmeril, o processo de lapidação removerá até a última partícula da camada bruta e o transformará numa bela e preciosa gema. Cada um de nós é um diamante bruto, e Deus, o Grande Lapidário, usa o mundo como uma pedra de esmeril que, pela .lapidação, retira a camada áspera e feia, deixando que nosso Eu espiritual brilhe e se torne luminoso. Cristo foi um exemplo vivo disto. Ele não se afastou dos centros da civilização; Ele estava sempre entre os sofredores e os pobres, ensinando, orando e ajudando até o momento em que, pelo glorioso serviço prestado, Seu corpo fez-se luminoso no Monte da Transfiguração e Ele, que havia trilhado o Caminho, exortou Seus seguidores a estarem "no mundo mas não serem do mundo". Esta é a grande lição que todo aspirante deve aprender.

Uma coisa é ir para as montanhas onde não há uma só pessoa para nos contradizer ou ferir nossa sensibilidade, e assim é mais fácil permanecer equilibrados. Outra coisa, completamente diferente, é manter nossas aspirações espirituais e permanecer equilibrados num mundo onde tudo nos afeta. Porém, quando estamos neste caminho, ganhamos um auto-controle que não é possível alcançar de outra maneira.

Contudo, ainda que sejamos cuidadosos ao preparar nossa comida, deixemos de comer carne ou evitemos qualquer outra influência contaminadora externa; ainda que desejemos fugir para as montanhas para escapar às coisas sórdidas da vida da cidade e queiramos nos livrar de tudo que possa constituir um empecilho para nosso progresso, que dizer das coisas que vêm de dentro, os pensamentos que temos em nossas mentes, o nosso alimento mental? Em nada nos ajudará o alimentarmos nossos corpos de néctar e ambrosia - a comida etérica dos Deuses - quando nossa mente é um sepulcro, um "habitat" de pensamentos baixos. Seremos somente sepulcros caiados, belos para serem contemplados por fora, mas, internamente, possuidores de um nauseante mau cheiro. Este delito mental pode ser cultivado muito facilmente, talvez até com mais facilidade na solidão das montanhas ou num retiro espiritual do que numa cidade onde estamos ocupados com o nosso trabalho. É verdadeiro o axioma popular que diz: "um cérebro desocupado é a oficina do diabo", e a maneira mais segura para atingirmos a pureza e a limpeza interna é manter a mente ocupada, encaminhando nossos desejos, sentimentos e emoções em direção aos problemas práticos da vida, e trabalhando, cada qual no seu próprio ambiente, para ajudar os pobres e necessitados e assim levar-lhes a ajuda que seu caso requeira e mereça. As pessoas que não têm laços próprios podem, com muito proveito, fazer laços de amor e amizade com aqueles que estão carentes de amizade.

Quando cuidamos de um parente - esposa, filha, marido ou qualquer um que nos peça ajuda - lembremo-nos das palavras de Cristo quando Ele disse: "Quem é minha mãe e quem é meu irmão?" E Ele respondeu à própria pergunta, dizendo: "Aqueles que fazem a vontade de Meu Pai". Esta afirmação foi interpretada erroneamente por alguns, que julgaram que Cristo repudiou Suas relações físicas pelas espirituais. Porém, basta lembrar que nos últimos momentos de Sua vida na Terra, Ele chamou o discípulo que amava e disse à sua mãe: "Mulher, eis aí o teu filho". Depois disse ao discípulo: "Eis aí a tua mãe" - encarregando-o de cuidar de Sua mãe. O amor é a força unificante na vida e, de acordo com os ensinamentos elevados, devemos amar nossa família, mas também estender nossa natureza amorosa para todos os nossos semelhantes. É bom que amemos os nossos pais, entretanto, devemos amar também os pais, irmãos e irmãs dos outros, pois a fraternidade universal nunca se tornará uma realidade enquanto nosso amor estiver confinado somente à família. E preciso que todos sejam incluídos.

Entre os discípulos de Cristo existia um que Ele amava especialmente e, seguindo Seu exemplo, podemos ter uma afeição especial por alguns, embora devamos amar todos e fazer o bem mesmo àqueles que nos prejudicam. Estes ideais são muito elevados e difíceis de serem alcançados em nosso atual estágio de desenvolvimento. Porém, assim como o capitão que dirige o seu navio, orientando-se pela estrela-guia, atinge seu porto desejado embora nunca a própria estrela, assim também ao colocarmos os nossos ideais em planos elevados, viveremos vidas mais nobres e melhores do que se nada aspirássemos e, futuramente, com o tempo e através de muitos nascimentos, alcançaremos este estágio, porque a divindade inerente em nós torna-o imperativo.

Devemos salientar que não importa as condições em que estejamos colocados na vida, se numa posição elevada ou em outra qualquer. O ambiente atual, com suas oportunidades e limitações, está exatamente de acordo com nossas necessidades individuais determinadas pelo destino auto-criado em existências anteriores. Portanto, isto encerra uma lição que precisamos aprender para progredirmos adequadamente. Se temos uma esposa, uma filha ou outros membros de família que nos ligam a um ambiente, devemos considerar esse fato como parte da nossa prestação de contas e, ao cumprirmos nosso dever para com eles, aprendemos a lição requerida. Se são contrários à nossa crença, se não vêem com simpatia nossas aspirações, se temos que levar adiante um trabalho por causa deles e fazer coisas que não nos agradam, é porque precisamos aprender algo sobre isso, e o caminho correto para um aspirante sincero é analisar a sua situação, enfrentá-la firmemente, tentando descobrir com exatidão o que é necessário. Isto pode não ser uma consideração fácil. Pode levar semanas, meses ou anos para resolver o problema. Mas, se o aspirante dedicar-se devotamente a esta tarefa, ele pode estar certo de que a luz brilhará um dia e, então, verá porque essas condições lhe foram impostas. Tendo aprendido a lição ou descoberto seus propósitos, piedosamente suportará a carga, e com espírito esclarecido saberá que está no caminho certo. Terá a certeza absoluta que, assim que a lição naquele ambiente tiver sido aprendida, um novo horizonte ser-lhe-á aberto indicando o próximo passo na senda do progresso. Dessa forma, as "pedras de tropeço" terão sido transformadas em "degraus ascendentes", o que nunca aconteceria se ele as tivesse evitado. Com relação a isto queremos transcrever este lindo poema:


"Não desperdicemos nosso tempo ardentemente desejando
Feitos brilhantes, mas impossíveis.
Não fiquemos indolentemente esperando
O nascimento de asas angelicais visíveis.
Não desprezemos as pequenas luzes brilhando,
Pois nem todos podem ser uma estrela reluzente;
Mas vamos realizar nossa missão, iluminando
O lugar onde estamos presentemente.
As velas pequenas são tão indispensáveis
Como o é no céu o Sol fulgente.
E as ações mais nobres são realizáveis
Quando as fazemos dignamente.
Talvez agora não consigamos, caminhando,
Alumiar a escuridão das distantes regiões, claramente.
Mas vamos realizar nossa missão, iluminando
O lugar onde estamos presentemente".


 

CAPÍTULO XIX

 

A Eclusa da Elevação

 

Alguma vez já observaram como os navios que sobem um canal ou um rio são elevados de um nível para outro? É um processo muito interessante e instrutivo. Primeiro, o navio é levado para uma pequena eclusa onde o nível da água é o mesmo que o da parte mais baixa do rio em que antes navegava. Depois, as entradas da eclusa são fechadas e o navio fica isolado do mundo externo pelos altos muros do recinto. Não pode voltar para o rio; a própria luz torna-se fraca ao seu redor mas, em cima, as nuvens em movimento ou o brilho do Sol estão presentes como se estivessem acenando. O navio não pode subir sem ajuda, e a lei de gravidade impossibilita a água, naquela parte do rio onde o navio estava navegando, a elevar-se a um nível mais alto, uma vez que não há possibilidade de ajuda por esse lado.

Também existem comportas na parte superior desta eclusa que impedem que as águas do nível superior invadam a parte inferior, caso contrário, a água invasora inundaria a eclusa rapidamente, afundando o navio que está na parte inferior, em conformidade com a mesma lei de gravidade. Contudo, é de cima que deve vir a força para o navio atingir um nível mais elevado do rio. Para isto ser feito com segurança, uma pequena correnteza é dirigida para o fundo da eclusa para elevar o navio muito lenta e gradualmente, mas com segurança, ao nível do rio acima. Quando este nível é alcançado, os portões superiores podem ser abertos sem perigo para o navio, e este pode prosseguir a viagem na ampla superfície do curso mais elevado do rio. Então, a eclusa é esvaziada lentamente e a água nela contida junta-se à água do nível mais baixo, que se eleva por essa maneira, mas levemente. Assim, a eclusa está pronta para levantar outro navio.

Esta é, como foi dito no começo, uma operação física muito interessante e instrutiva, que mostra como a capacidade e o engenho humano vencem grandes obstáculos pelo uso das forças da natureza. Porém, é uma fonte de iluminação ainda maior quando se refere a assuntos espirituais que são de vital importância para todos aqueles que aspiram e se esforçam por viver a vida superior, pois isto ilustra bem o único método seguro pelo qual o homem pode elevar-se do mundo temporal para o espiritual. Refuta também aqueles falsos mestres que, para beneficio próprio, jogam com os intensos anseios das pessoas ainda imaturas e declaram-se habilitados para abrir os portões dos mundos invisíveis mediante uma taxa para obter a iniciação. Nosso exemplo mostra que isto é impossível, pois as leis imutáveis da natureza não permitem que isto aconteça.

Para uma melhor elucidação, vamos chamar nosso rio, de rio da vida, e nós, como indivíduos, somos os navios que nele navegam. O rio mais baixo é o mundo temporal e quando já o tivermos navegado em todo o seu comprimento e largura através de muitas vidas, inevitavelmente chegaremos à eclusa elevada que está localizada ao final. Podemos ficar muito tempo rondando a entrada, observando-a e sentindo uma força interior impelindo-nos a entrar, mas somos puxados, por outro impulso, para o largo rio da vida, o do lado de fora. Muitas vezes esta eclusa, com suas paredes altas e simples, parece-nos proibitiva e solitária em comparação com o alegre e divertido rio da vida, repleto de embarcações coloridas que vistosamente navegam pelo rio. Mas, quando o desejo interno se torna realmente intenso, dirigimo-nos à eclusa da elevação, imbuídos pela determinação de não voltar para o rio da vida mundana. Mesmo neste estágio existem alguns que vacilam em trilhar uma vida mais elevada, mas, só o fato de olhar para trás, para o rio da vida de prazeres, os faz sentir menos solitários. Assim, alguns ficam nestas condições por muitas vidas, questionando-se por que não progridem, por que não experimentam um influxo espiritual, por que nenhuma elevação lhes acontece. O exemplo seguinte torna a questão muito simples: não importa o quanto o capitão possa implorar, o encarregado da eclusa jamais pensaria em soltar a correnteza da água de cima até que o portão da eclusa estivesse totalmente fechado atrás do barco, pois o fluxo da água não poderia levantar a embarcação nem um só centímetro nessas condições, mas escoaria através dos portões abertos para perder-se no nível mais baixo do rio. Nem os guardiães dos portões dos mundos superiores nos abririam o fluxo da elevação - não importa o quanto rezemos - até que tenhamos fechado a porta do mundo atrás de nós, e fechado muito bem em relação à luxúria e ao orgulho da vida, pecados que tão facilmente nos envolvem e que cultivamos nestes descuidados dias de tentações. Precisamos cerrar a porta sobre todas elas antes que estejamos realmente em condições de receber o fluxo da elevação. Mas, uma vez que tenhamos fechado a porta e, irrevogavelmente, dirigimo-nos para frente, começamos a sentir o influxo espiritual, devagar mas de forma segura, assim como a correnteza da eclusa eleva a embarcação.

Tendo deixado o mundo temporal com todos os seus atrativos, e tendo voltado sua face para os mundos espirituais, o anseio do aspirante torna-se mais intenso. A medida que o tempo passa, sente, cada vez mais, um vazio que o atinge nos dois lados da sua vida. O mundo temporal e tudo relacionado a ele foram largados como uma roupa já usada. Pode estar fisicamente nesse mundo, desempenhando seus deveres, mas perdeu interesse; está no mundo mas não faz parte dele, e o mundo espiritual, onde aspira obter cidadania, parece igualmente distante. Sente-se sozinho e todo seu ser grita e estremece de dor, almejando a luz.

Então, chega a vez do tentador: "Tenho uma escola de iniciação e sou capaz de fazer com que meus alunos avancem rapidamente, mediante uma taxa", ou palavras semelhantes e geralmente mais sutis. Quem pode culpar os pobres aspirantes que caem diante da astúcia destes impostores? Felizes serão eles se, como normalmente acontece, passarem simplesmente por uma cerimônia onde lhes são conferidos algum grau sem valor. Mas, ocasionalmente, podem encontrar alguém que pratique a magia e que seja capaz de abrir os portões da correnteza que vem do nível superior. Então, o influxo da força espiritual despedaça o sistema do infeliz crédulo, do mesmo modo que o rio despedaçaria um navio no fundo da eclusa se uma pessoa ignorante ou mal intencionada abrisse os portões. O barco precisa ser elevado lentamente por motivos de segurança. Assim também deve ser com aquele que aspira uma elevação espiritual. Paciência e uma persistência inabalável em fazer o bem são atributos absolutamente indispensáveis, e a porta para os prazeres do mundo deve ser mantida fechada. Se agirmos assim, certamente conseguiremos ascender às alturas do mundo invisível para um posterior crescimento anímico com todas as oportunidades que lá encontraremos, porque isto é um processo natural governado por leis naturais, justamente igual à elevação de um barco para níveis superiores de um rio pelo sistema das eclusas.

Mas, como posso permanecer na eclusa da elevação e servir o meu próximo? Se o crescimento anímico vem somente através do serviço, como posso avançar, isolando-me? Estas são perguntas que podem naturalmente surgir diante dos estudantes. Para respondê-las, devemos mais uma vez enfatizar que nenhuma pessoa poderá elevar outra se ela própria não estiver num nível superior. Não tão alto a ponto de ser inatingível, mas suficientemente perto para poder ser alcançada. Infelizmente, existem muitos que professam os ensinamentos superiores, mas vivem ao nível de homens e mulheres vulgares do mundo ou mesmo abaixo desse nível. Suas afirmações fazem dos ensinamentos superiores um motivo de desprezo e atraem o escárnio dos céticos. Na realidade, aqueles que vivem os ensinamentos superiores não têm necessidade de professá-los oralmente; mantêm-se discretos, mas são notados apesar de tudo. Embora embaraçados devido às falhas dos "catedráticos", com o tempo ganham o respeito e a confiança daqueles que os cercam, e conseguem despertar neles o desejo de emulação, convertendo-os, e obtêm por este serviço um enorme crescimento anímico.

Esta é a época do ano (Natal) em que uma onda de força espiritual envolve o mundo. Culmina no solstício de inverno (Hemisfério Norte), quando o Cristo renasce em nosso planeta e, embora impedido pelas condições da deplorável guerra atual (sob o limitado ponto de vista), Sua vida, que nos é dada, pode ser neste período mais facilmente auferida pelo aspirante para assim impulsionar o seu desenvolvimento espiritual. Portanto, todos aqueles que desejam alcançar os níveis superiores agiriam corretamente se empregassem esforços especiais durante esta época do ano.


 

CAPÍTULO XX

 

O Significado Cósmico da Páscoa

Primeira Parte

 

Na manhã da sexta-feira Santa de 1857, Richard Wagner, o maior artista do século dezenove, sentou-se à varanda de uma vivenda suíça situada às bordas do lago de Zurique. O panorama que se descortinava ao redor estava banhado por um glorioso brilho do Sol; paz e boa vontade pareciam vibrar por toda a Natureza. A criação inteira palpitava de vida e o ar estava carregado da deliciosa fragrância dos bosques de pinho -bálsamo gratificante para um coração atormentado e uma mente agitada.

De súbito, como um raio caído do céu azul, surgiu na alma profundamente mística de Wagner a lembrança do execrável significado daquele dia - o mais sombrio e doloroso do ano cristão. Essa lembrança inundou-o de tristeza pelo contraste com o que via. Era uma incongruência marcante entre o alegre cenário que tinha diante de si, a atividade notável da Natureza em luta pela renovação da vida após o longo sono hibernal, e o mortal esforço do Salvador torturado na cruz; entre os gorjeios plenos de vida e de amor dos milhares de cantores de pena nos bosques, nas charnecas e nos prados, e os hediondos gritos de ódio duma turba enfurecida que insultava e zombava do mais nobre ideal que o mundo já conheceu; entre a maravilhosa energia criadora manifestada pela Natureza na primavera, e o elemento destruidor do homem que assassinou o caráter mais nobre que já agraciou a Terra.

Enquanto Wagner assim meditava sobre os paradoxos da vida, ocorreu-lhe a pergunta: "Há alguma relação entre a morte do Salvador crucificado na Páscoa, e a energia vital que se manifesta tão abundantemente na primavera, quando a Natureza começa a vida de um novo ano?"

Mesmo que Wagner não percebesse conscientemente o significado total da relação entre a morte do Salvador e o rejuvenescimento da Natureza, não obstante havia encontrado a chave de um dos mais sublimes mistérios com que o espírito humano já se deparou em sua peregrinação do barro a Deus.

Na noite mais escura do ano (Hemisfério Norte), quando a Terra dorme mais profundamente no abraço do frio Boreal, quando as atividades materiais descem ao nível mais baixo, uma onda de energia espiritual transporta em sua crista a "Palavra do Céu", divina e criadora, para um nascimento místico no Natal. Então, como uma nuvem luminosa, o impulso espiritual paira sobre o mundo que "não O conheceu", porque Ele "brilha nas trevas" do inverno, quando a Natureza está paralisada e muda.

Essa divina "Palavra" criadora contém uma mensagem e tem uma missão. Nasceu para "salvar o mundo" e "para dar sua vida pelo mundo". Deve necessariamente sacrificar sua palavra para conseguir o rejuvenescimento da Natureza. Gradativamente sepulta-se na Terra e passa a infundir sua própria energia vital nos milhões de sementes que jazem adormecidas no solo. Sussurra a "palavra de vida" nos ouvidos dos animais e pássaros, até que o evangelho das boas novas tenha sido pregado a todas as criaturas. O sacrifício completa-se totalmente na época do ano em que o Sol cruza seu nodo oriental no equinócio da primavera (Hemisfério Norte). Então, a divina palavra criadora expira. Num sentido místico, ela morre sobre a cruz da Páscoa, emitindo um último brado de triunfo: "Está consumado!" (Consummatum est).

Do mesmo modo que o eco volta a nós muitas vezes repetido, assim também o canto celestial de vida se repete sobre a Terra. A criação inteira entoa um cântico de louvor, que é repetido sem cessar pelo coro de uma legião de línguas. As pequeninas sementes no seio da Mãe Terra começam a germinar, brotando e despontando em todas as direções, e logo um maravilhoso mosaico de vida, um tapete verde aveludado, bordado de flores multicores, toma o lugar da mortalha do imaculado branco gelado. Dos animais de pelo e pena, em todos a "palavra de vida" ressoa como uma canção de amor, impelindo-os ao acasalamento. Geração e multiplicação tornam-se o lema em toda parte - O Espírito libertou-se para uma vida mais abundante.

Podemos observar todos os anos, misticamente, o nascimento, a morte e a ressurreição do Salvador -como o fluxo e o refluxo de um impulso espiritual que culmina no solstício do inverno - Natal - e sai da Terra logo após a Páscoa, quando a "palavra" sobe ao Céu no domingo de Pentecostes. Mas lá não fica para sempre. Disseram-nos que "dali retornará no Juízo". Portanto, quando o Sol desce pelo Equador, em Outubro, através do signo de Balança - época em que os frutos do ano são colhidos, pesados e classificados por tipos - começa a descida do espírito do novo ano, culminando esta descida no nascimento de Cristo no Natal.

O homem é uma miniatura da Natureza. O que acontece em grande escala na vida de um planeta, como a nossa Terra, ocorre em escala menor ao longo da vida do homem. Um planeta é o corpo de um grande, maravilhoso e exaltado Ser, um dos Sete Espíritos diante do Trono (do Pai Sol). O homem também é um espírito "feito à sua imagem e semelhança". Assim como um planeta gira em seu caminho cíclico ao redor do Sol de onde é emanado, assim também o espírito humano se move numa órbita em volta de sua fonte central - Deus. Sendo elípticas as órbitas planetárias, possuem pontos muitíssimo próximos e outros extremamente afastados dos seus centros solares. De maneira análoga, a órbita do espírito humano é elíptica. Estamos mais perto de Deus quando nossa jornada cíclica leva-nos à esfera de atividade celeste - o Céu - e estamos mais separados d'Ele durante a vida terrena. Tais mudanças são necessárias ao nosso crescimento anímico. Assim como as festividades do ano assinalam o caráter repetitivo de acontecimentos importantes na vida de um Grande Espírito, do mesmo modo nossos nascimentos e mortes são fatos de repetição periódica. E tão impossível para o espírito permanecer definitivamente no Céu ou na Terra, como o é para um planeta deter-se em sua órbita. A mesma imutável lei de periodicidade que determina a ininterrupta seqüência das estações - a alternação do dia com a noite e os fluxos e refluxos das marés - governa também a marcha progressiva do espírito humano tanto no Céu como na Terra.

Dos domínios de luz celestial onde vivemos em liberdade, sem as limitações do tempo e do espaço,. onde vibramos em uníssono com a infinita harmonia das esferas, descemos para nascer no mundo físico, onde nossa vista espiritual se torna obscurecida pelo anel mortal que nos agrilhoa a esta fase de limitações da nossa existência. Vivemos algum tempo aqui, depois morremos e subimos aos céus, para renascer e morrer outra vez. Cada vida terrena é um capítulo da história seriada da vida, extremamente humilde em seu começo, mas crescendo em interesse e importância à medida que ascendemos para estágios de responsabilidade humana cada vez mais altos. Nenhum limite é concebível, pois somos divinos em essência e, portanto, temos latentes em nós as infinitas possibilidades de Deus. Quando tivermos aprendido tudo o que este mundo tem para ensinar-nos, uma órbita mais ampla, uma esfera maior de utilidade sobre humana abrir-se-á às nossas maiores capacidades.


 

"Oh, Minh'alma! Constrói para ti mansões mais majestosas,
enquanto as estações passam ligeiramente!
Abandona o teu invólucro finalmente;
Ergue cada novo templo, mais nobre que o anterior
com cúpula celeste, com domo bem maior,
e que te libertes decidida
largando tua concha superada, nos agitados mares desta vida."


Assim escreveu Oliver Wendell Holmes, comparando a progressão espiral na ampliação do anel de um náutilo, com a expansão da consciência, que é o resultado do crescimento anímico num ser humano em evolução.

"Mas, e Cristo?" - pode alguém perguntar: "Você não acredita n'Ele? Você está discorrendo sobre a Páscoa, o feriado que comemora a morte cruel do Salvador e Sua gloriosa e triunfante ressurreição, todavia parece referir-se a Ele mais como uma alegoria do que como um fato real".

Certamente nós cremos em Cristo; arramo-Lo de todo o coração e com toda a nossa alma, mas queremos enfatizar a crença de que Cristo é a primícia da raça. Ele disse que nós poderíamos fazer as coisas que Ele fez, "e maiores ainda". Portanto, somos Cristos em formação.


"Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém
Se não nascer dentro de ti, tua alma ficará perdida.
Em vão olharás a Cruz do Gólgota
A menos que dentro de ti, ela seja novamente erguida".


Assim visualizou Angelus Silesius, com verdadeira compreensão mística dos requisitos essenciais para a realização de nossos desejos.

Estamos muito habituados a buscar um Salvador externo ao mesmo tempo que abrigamos um demônio interno, mas até que Cristo seja formado EM NÓS, conforme disse Paulo, buscaremos em vão. Assim como é impossível percebermos a luz e a cor ao nosso redor sem o registro de suas vibrações pelo nosso nervo óptico, e assim como permanecemos inconscientes do som quando o tímpano dos nossos ouvidos está insensível, do mesmo modo permanecemos cegos à presença de Cristo e surdos à Sua voz, enquanto não despertarmos nossa natureza espiritual interna. No entanto, uma vez despertada essa natureza espiritual, o Senhor do Amor revela-se como uma realidade primordial, baseado no princípio que, fazendo-se vibrar um diapasão, outro diapasão do mesmo tom começará também a vibrar, enquanto outros de tons diferentes ficarão mudos. Por isso, Cristo disse que Suas ovelhas conheciam-No pelo som de Sua voz,, à qual respondiam, mas a voz do estranho não ouviam (João 10:). Não importam nossos credos, todos somos irmãos em Cristo, portanto regozijemo-nos: o Senhor ressuscitou! Busquemo-Lo e esqueçamos nossos credos e outras diferenças de menor importância.


 

CAPÍTULO XXI

 

O Significado Cósmico da Páscoa

Segunda Parte

 

Mais uma vez chegamos ao ato final do drama cósmico que envolve a descida do Raio solar de Cristo ao interior da matéria de nossa Terra, o qual se completa no nascimento místico comemorado no Natal, e depois na Morte Mística e Libertação celebradas após o equinócio da primavera, quando o Sol do novo ano inicia sua ascensão às esferas superiores dos céus setentrionais, depois de verter sua vida para salvar a humanidade e revigorar todas as coisas sobre a Terra. Nessa época do ano, uma nova vida, uma energia intensificada circulam com força irresistível nas veias e artérias de todos os seres vivos, inspirando e instilando neles novas esperanças, novas ambições e nova vida, e impelindo-os à novas atividades pelas quais possam aprender novas lições na escola da experiência. Consciente ou inconscientemente, tudo o que tem vida beneficia-se desse manancial de energia fortalecida. Até a planta responde por um aumento de circulação da seiva, que resulta na renovação das folhas, flores e frutos, meios pelos quais esta classe de vida se expressa a si mesma e evolui para um estado superior de consciência.

Ainda que maravilhosas sejam essas manifestações físicas externas, e ainda que possa ser chamada de gloriosa essa transformação que converte a Terra de um deserto de neve e gelo num formoso jardim florido, isto é insignificante diante das atividades espirituais que se efetuam paralelamente. As características salientes do drama cósmico são idênticas, em termos de época, aos efeitos materiais do Sol nos quatro signos cardeais - Aries, Câncer, Libra e Capricórnio - porque os eventos mais significativos ocorrem nos pontos equinociais e solsticiais.

Realmente é um fato verdadeiro que "em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser". Fora d'Ele não poderíamos existir; vivemos por e através de Sua vida; movimentamo-nos e agimos por e através de Sua fortaleza; é o Seu poder que sustenta nossa morada, a Terra, e sem Seus incessantes e invariáveis esforços o universo desintegrar-se-ia por si mesmo. Sabemos que o homem foi feito à semelhança de Deus, e é-nos dado compreender que, consoante a lei de analogia, possuímos internamente certos poderes latentes idênticos àqueles que vemos tão poderosamente manifestados pela Deidade na obra do universo. Isso desperta em nós um particular interesse no drama cósmico anual que envolve a morte e a ressurreição do Sol. A vida do Deus-Homem, Cristo-Jesus, foi moldada de conformidade com a história solar e prenuncia de modo idêntico tudo o que pode acontecer ao Homem-Deus, a quem Cristo-Jesus profetizou quando disse: "As obras que Eu faço vós fareis também, e maiores ainda; para onde Eu vou agora vós não podeis ir, mas depois podereis seguir-Me".

A Natureza é a expressão simbólica de Deus. Ela nada faz em vão ou arbitrariamente, mas existe um propósito por trás de todas as coisas e de todos os atos. Por conseguinte, devemos estar alertas e considerar cuidadosamente os sinais nos céus, porque eles possuem um significado profundo e importante referentes às nossas próprias vidas. A compreensão inteligente desses propósitos capacita-nos a trabalhar mais eficazmente com Deus em Seus maravilhosos esforços para emancipar nossa raça da escravidão das leis da Natureza e, mediante essa liberação, alcançarmos a plena estatura de filhos de Deus, coroados de glória, honra e imortalidade, livres do poder do pecado, da doença e do sofrimento que agora encurtam nossas existências terrenas em razão da nossa ignorância e da inconformidade às leis de Deus. O propósito divino visa essa emancipação e, quer seja conseguida através do longo e tedioso processo evolutivo ou através do caminho muitíssimo mais curto da Iniciação, isso depende da nossa vontade de cooperar ou não. A maioria da humanidade atravessa a vida com olhos que não vêem e ouvidos que não ouvem. Segue absorvida em seus negócios materiais, comprando e vendendo, trabalhando e divertindo-se sem a devida apreciação ou compreensão dos propósitos da existência e, ainda que tais propósitos se tornassem claros, é provável que dificilmente se conformasse em virtude do sacrifício que isso envolve.

Não é de se estranhar que Cristo se dirigiu especialmente ao pobre e enfatizou a dificuldade do rico entrar no reino do céu, pois, mesmo hoje, quando a humanidade já avançou dois milênios na escola da evolução, vemos que a grande maioria ainda dá mais valor às suas casas e terras, às suas roupas e chapéus, aos prazeres sociais, festas e banquetes do que aos tesouros celestiais que se alcançam pelo serviço aos outros e auto-sacrifício. Ainda que possam perceber intelectualmente a beleza da vida espiritual, o desejo de alcançá-la desvanece-se quando comparado ao sacrifício exigido para praticá-la. Como o jovem rico, eles seguiriam voluntariamente Cristo, não fora a necessidade de tanto sacrifício. Preferem prosseguir assim quando percebem que o sacrifício é a única condição que os conduziria ao discipulado. Portanto, para tais pessoas, a Páscoa é somente uma ocasião de regozijo porque representa o fim do inverno e o começo do verão, estação que convida aos jogos e diversões ao ar livre (Hemisfério Norte).

Mas, para aqueles que escolheram definitivamente a senda do auto-sacrifício que conduz à libertação, a Páscoa é o sinal anual que evidencia as bases cósmicas de suas esperanças e aspirações. Como Paulo apropriadamente afirma no glorioso capítulo XV da Primeira Epístola aos Coríntios:


"Se Cristo não ressuscitou, é pois vã a nossa pregação, é também vã a nossa fé".

"Se somos assim considerados falsas testemunhas de Deus, porque demos testemunho contra Deus dizendo que ressuscitou a Cristo, ao qual não ressuscitou, se os mortos não ressuscitam".

"Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou".

"E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, porque ainda permaneceis nos vossos pecados".

"Se esperamos em Cristo somente nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens."

"Se como homem lutei com as feras em Éfeso, que vantagem tiro disto, se os mortos não ressuscitam?"

"Mas agora Cristo ressuscitou dos mortos, sendo Ele as primícias dos que dormem".


No Sol da Páscoa, que no equinócio da primavera começa a percorrer os céus setentrionais após verter sua vida na Terra, temos o símbolo cósmico da veracidade da ressurreição. Quando o considerarmos como um fato cósmico enquadrado na lei de analogia, que relaciona o macrocosmo com o microcosmo, teremos compreendido que algum dia alcançaremos a consciência cósmica e saberemos positivamente e por nossa própria experiência que a morte não existe, e o que isso parece, é apenas uma transirão para uma esfera mais sutil.

E um símbolo anual para fortalecer as nossas almas no afã das boas obras, para que possamos tecer o Dourado Manto Nupcial requerido para converter-nos em filhos de Deus no sentido mais elevado e mais santo. E literalmente verdadeiro que enquanto não andarmos na luz, como Ele na luz está, não seremos fraternais uns com os outros. Mas, fazendo sacrifícios e prestando serviço altruísta e desinteressado para ajudar a emancipação da raça humana, estamos assim construindo um corpo-alma de radiante luz dourada, que é a substância especial emanada do e pelo Espírito do Sol, o Cristo Cósmico. Quando essa substância dourada envolver-nos com densidade suficiente, então seremos capazes de imitar o Sol da Páscoa e pairar em esferas mais elevadas.

Com esses ideais fortemente impressos em nossas mentes, a época da Páscoa converte-se numa estação apropriada para revisarmos nossas vidas durante o ano que passou e tomarmos novas resoluções que adiantem nosso crescimento anímico no próximo ano. É uma época em que o símbolo do Sol ascendente deve levar-nos a uma compreensão profunda de que na Terra não somos mais que peregrinos e forasteiros; que, como espíritos, nossa verdadeira pátria é o Céu; e que devemos prosseguir para aprender as lições desta vida tão depressa quanto nos permitam os caminhos apropriados. O Dia da Páscoa marca a ressurreição e libertação do Espírito de Cristo dos planos inferiores, e essa libertação deve lembrar-nos de buscar continuamente a aurora do dia em que estaremos permanentemente livres das malhas da matéria do corpo de pecado e morte, juntamente com todos os nossos irmãos em escravidão. Nenhum aspirante sincero poderia conceber uma libertação que não incluísse todos que estivessem na mesma situação.

Esta é uma tarefa gigantesca. Enfrentá-la pode muito bem desalentar o mais valente coração, de modo que se estivéssemos sozinhos não poderíamos realizá-la, mas as Hierarquias Divinas, que têm guiado a humanidade no caminho evolutivo desde o começo da jornada, ainda estão ativas e trabalhando conosco desde os mundos siderais e, com sua ajuda, seremos futuramente capazes de conseguir o soerguimento da humanidade como um todo e alcançar uma condição individual de glória, honra e imortalidade. Com esta enorme esperança dentro de nós, com esta grande missão no mundo, trabalhemos como nunca para sermos melhores homens e mulheres e, por nossos exemplos, possamos despertar nos outros o desejo de levar uma vida que conduza à libertação.


 

CAPÍTULO XXII

 

O Cristo Recém-Nascido

 

Temos repetido com freqüência em nossa literatura, que o sacrifício de Cristo não foi um acontecimento que teve lugar no Gólgota, nem foi consumado de uma vez por todas em poucas horas, mas que os nascimentos e mortes místicas do Redentor são contínuas ocorrências cósmicas. Concluímos que esse sacrifício é necessário à nossa evolução física e espiritual durante a presente fase do nosso desenvolvimento. Como se aproxima a época do nascimento anual de Cristo, mais uma vez é-nos apresentado um tema para meditação, um tema que nunca envelhece e é sempre novo. Podemos tirar muito proveito refletindo sobre ele e dedicando-lhe uma oração, para que faça nascer em nossos corações uma nova luz que nos guie no caminho da regeneração.

O apóstolo deu-nos uma maravilhosa definição da Divindade quando disse: "Deus é Luz", pelo que a "Luz" tem sido usada para ilustrar a natureza do Divino nos Ensinamentos Rosacruzes, especialmente o mistério da Trindade na Unidade. As Sagradas Escrituras de todos os tempos ensinam claramente que Deus é uno e indivisível. Ao mesmo tempo verificamos que, do mesmo modo que a luz branca una se refrata nas três cores primárias - vermelho, amarelo e azul - Deus também revela-Se em papel tríplice durante a manifestação pelo exercício de três funções divinas: criação, preservação e dissolução.

Quando Ele exercita o atributo criação, Deus revela-se como Jeová, o Espírito Santo. Então, Ele é o Senhor da lei e da geração, projetando a fertilidade solar indiretamente através dos satélites lunares de todo planeta em que seja necessário fornecer corpos para seus seres evoluintes.

Quando Ele exercita o atributo preservação, com o propósito de sustentar os corpos gerados por Jeová sob as leis da Natureza, Deus revela-se como o Redentor, Cristo, e irradia os princípios de amor e regeneração diretamente a todo planeta, onde as criaturas de Jeová requeiram essa ajuda para libertarem-se das malhas da morte e do egoísmo, e alcançarem o altruísmo e a vida infinita.

Quando do exercício do divino atributo dissolução, Deus aparece como O Pai. Chama-nos de volta ao lar celestial para assimilarmos os frutos das experiências e do crescimento anímico que acumulamos durante o dia de manifestação. Este Solvente Universal, o raio do Pai, emana então do Invisível Sol Espiritual.

Esses processos divinos de criação e nascimento, preservação e vida, dissolução, morte e retorno ao Autor de nosso ser, nós os vemos em toda parte, em tudo o que nos cerca. Então, reconhecemos o fato de que são atividades do Deus Trino em manifestação. Porventura já nos demos conta de que no mundo espiritual não existem acontecimentos definidos nem condições estáticas; que o começo e o fim de todas as aventuras, de todas as eras estão presentes no eterno "tempo" e "espaço"? Gradativamente, tudo se cristaliza e se torna inerte, precisando dissolver-se para dar lugar a outras coisas e outros eventos.

Não há como escapar dessa lei cósmica que se aplica a tudo no reino do "tempo" e do "espaço", inclusive ao raio Crístico. Como o lago que se derrama no oceano volta a encher-se quando a água que o abandonou se evapora e a ele retorna em forma de chuva, para tornar novamente a correr implacavelmente em direção ao oceano, o Espírito do Amor, que nasce eternamente do Pai, derrama-se incessantemente, dia após dia, hora após hora, no universo solar para libertar-nos do mundo material que nos prende em seus grilhões mortais. Portanto, onda após onda partem do Sol em direção a todos os planetas, o que proporciona um impulso rítmico às criaturas que neles evoluem.

No sentido mais verdadeiro e literal, é um Cristo recém-nascido que saudamos em cada festa natalina, e o Natal é o mais importante acontecimento anual para toda a humanidade, quer tenhamos consciência disso ou não. Não se trata meramente de comemorar o aniversário de nascimento do nosso amado Irmão Maior, Jesus, mas sim da chegada da rejuvenescente vida-amor do nosso Pai Celestial, por Ele enviada para libertar o mundo do glacial abraço da morte. Sem esta nova infusão de vida e energia divinas logo pereceríamos fisicamente, frustrando o nosso progresso no que tange às atuais linhas de desenvolvimento. Esforcemo-nos por sentir e compreender muito bete este ponto, a fim de que possamos aprender a apreciar o Natal, da maneira mais profunda possível.

A este respeito, como em muitos outros, podemos aprender uma lição observando nossos filhos ou recordando a nossa própria infância. Como eram fortes nossas expectativas à aproximação dos festejos natalinos! Como ansiosamente esperávamos pela hora de receber os presentes que pensávamos serem deixados pelo Papai Noel, o misterioso benfeitor universal que distribuía os brinquedos! Como nos sentiríamos se nossos pais nos dessem apenas as bonecas estragadas e os tamborzinhos já gastos do ano passado? A sensação seria certamente de infelicidade total, além de uma profunda quebra de confiança em tudo, sentimentos que os pais achariam cada vez mais difícil restaurar. Isso nada seria comparado à calamidade cósmica que se abateria sobre a humanidade se o nosso Pai Celeste deixasse de enviar como Presente Cósmico de Natal, o Cristo recém-nascido.

O Cristo do ano anterior não nos pode livrar da fome física, como as chuvas daquele ano não podem agora encharcar o solo e desenvolver os milhões de sementes que dormitam na terra à espera de que as atividades germinadoras da vida do Pai as façam crescer. Assim como o calor do último verão já hão nos pode aquecer, o Cristo do ano passado não pode acender de novo em nossos corações as aspirações espirituais que nos impelem para cima em busca de algo mais. O Cristo do ano passado deu-nos seu amor e sua vida sem restrições ou medidas. Quando Ele renasceu na Terra no Natal anterior, Ele impregnou de vida as sementes adormecidas, que cresceram e muito gratamente encheram os nossos celeiros com o pão da vida física. O amor que o Pai Lhe deu, Ele derramou-o profusamente sobre nós, e do mesmo modo que a água do rio volta para o céu pela evaporação, assim também Ele se eleva outra vez ao seio do Pai, após esgotar toda a sua vida e morrer na Páscoa.

Mas o amor divino jorra infinitamente. Como um pai tem pena de seus filhos, assim também nosso Pai Celeste se compadece de nós, pois Ele conhece a nossa fragilidade e dependências física e espiritual. Por conseguinte, esperamos mais uma vez, confiantemente, o nascimento místico do Cristo que virá com renovada vida e renovado amor. O Pai no-Lo envia acudindo à fome física e espiritual que sofreríamos se não tivéssemos d'Ele essa amorosa oferenda anual.

As almas jovens, via de regra, acham difícil separar em suas mentes as personalidades de Deus, de Cristo e do Espírito Santo, de modo que algumas podem amar apenas a Jesus, o homem. Esquecem Cristo, o Grande Espírito, que introduziu uma nova era, na qual as nações estabelecidas sob o regime de Jeová serão destroçadas, a fim de que a sublime estrutura da Fraternidade Universal possa ser edificada sobre as suas ruínas. No devido tempo, o mundo inteiro saberá que "Deus" é espírito, para ser adorado em "espírito e em verdade". É bom que amemos Jesus e O imitemos; desconhecemos ideal mais nobre e alguém mais digno. Se pudesse ter sido encontrado alguém mais nobre, não teria sido Ele o escolhido para ser o veículo do Grande Unigênito, Cristo, em que reside a Divindade. Fazemos bem em seguir "Seus passos".

Ao mesmo tempo devemos exaltar Deus em nossas próprias consciências, aceitando a afirmação bíblica de que Ele é espírito e de que não podemos tentar representar a Sua imagem, nem retratá-Lo, pois Ele a nada se assemelha quer nos céus quer na Terra. Podemos ver os veículos de Jeová circulando como satélites em volta de diversos planetas. Também podemos ver o Sol, que é o veículo visível de Cristo. Mas o Sol Invisível, que é o veículo do Pai e fonte de tudo, este só pode ser visto pelos maiores clarividentes e apenas como a oitava superior da fotosfera do Sol, revelando-se como um anel de luminosidade azul-violeta por trás do Sol. Mas nós não precisamos vê-Lo. Podemos sentir Seu amor e essa sensação nunca é tão grande como na época do Natal, quando Ele nos está dando o maior de todos os presentes: o Cristo do novo ano.


 

CAPÍTULO XXIII

 

Porque sou um Estudante Rosacruz

 

Freqüentemente deparamos com uma pessoa que aproveita a oportunidade de estar conosco para dizer por que é Batista, Metodista, Católica ou outra religião que professe. Muitas vezes, nossos estudantes têm-nos perguntado como poderão explicar melhor porque abraçaram os Ensinamentos dos Irmãos Maiores, divulgados pela Fraternidade Rosacruz. Tentarei resumiras razões que me parecem suficientes, embora os estudantes devam igualmente encontrar outras, indubitavelmente boas ou até melhores, que possam ser somadas as que aqui serão expostas.

Antes de tudo, devo explicar que os estudantes da Fraternidade Rosacruz não se chamam a si mesmos de Rosacruzes, porque tal título somente é aplicado aos Irmãos Maiores, que são os Hierofantes dos Mistérios Menores, guardiães dos Ensinamentos da Sabedoria Ocidental e cuja elevação é superior, do ponto de vista de seu desenvolvimento espiritual, ao maior santo, assim como um santo é superior aos adoradores de ídolos.

Quando o barco de nossa vida navega ligeiro sobre o mar calmo e doce, soprado pelas estimulantes brisas da saúde e da prosperidade; quando os amigos estão sempre dispostos a compartilhar conosco dos prazeres que aumentam nossa alegria, prazeres que nos vêm dos bens do mundo; quando as honras sociais ou os poderes políticos nos são conferidos em esferas onde nossas inclinações e potencialidades possam expressar-se, então, podemos dizer sem medo de equívocos, com entusiasmo: "Este mundo é ótimo para mim". Mas, quando o mar de sucessos acaba e transforma o prazer anterior em padecimentos; quando o vento forte da adversidade sopra violentamente e a onda do sofrimento nos envolve; quando os amigos nos abandonam e toda a ajuda humana parece-nos longe e inacessível, então, como o marinheiro que luta contra o ímpeto das ondas, nós também buscamos a orientação nas estrelas.

Mas, quando o navegante investiga o céu em busca de uma estrela que o possa guiar, descobre que todo o céu está em movimento e que seguir simplesmente uma das miríades de estrelas visíveis, seria desastroso. O requisito para que uma estrela seja capaz de guiá-lo, que fundamente "sua perfeita imobilidade e firmeza", só é encontrado na Estrela Polar. Através da luz da Estrela Polar, o marinheiro pode, com total segurança, conduzir seu navio ao porto do descanso e da salvação. Da mesma forma, quem procura um guia em quem possa confiar nos dias de provação, deve abraçar uma religião fundada sobre leis eternas e com princípios imutáveis; que possa explicar o mistério da vida de uma maneira lógica para que seu intelecto fique satisfeito e que, ao mesmo temo, contenha uma forma de devoção que possa satisfazer o coração. Intelecto e coração: dois fatores gêmeos da vida que devem ser igualmente preenchidos. Só quando o homem tem uma concepção clara do esquema do desenvolvimento humano é que está apto a alinhar-se com ele. Quando compreender que esse esquema é benéfico e benevolente no mais alto grau e que está realmente regido pelo amor divino, cedo ou tarde esse entendimento produzirá nele uma devoção verdadeira e uma aceitação que transformar-se-á no desejo de ser um colaborador de Deus no trabalho do mundo.

Quando almas sofredoras se aproximam da Igreja pedindo uma trégua à dor, não podem satisfazer-se com a resposta de que é pela vontade de Deus que sofrem neste mundo; que Ele, em sua Divina Providência, entendeu que merecem esse sofrimento e que devem aceitá-lo como um indício de Seu Amor para com as criaturas e que devem ficar contentes, não importa o que lhes suceda. Não podem compreender a justiça de Deus, quando Ele torna uns ricos e outros pobres, uns saudáveis e outros enfermos. Muitas vezes, observam que a iniqüidade tornou uma pessoa próspera e a retidão levou outra à miséria.

Os Ensinamentos Rosacruzes dão uma idéia clara e lógica do mundo e do homem. Convidam à discussão em lugar de evitá-la, para que aqueles que buscam a verdade espiritual possam satisfazer amplamente seu intelecto, e as explicações que recebam sejam tão estritamente científicas, como reverentemente devocionais. Esses ensinamentos colocam os problemas da vida sujeitos às leis tão imutáveis em sua esfera de ação, como imutável é a Estrela Polar no céu.

Quando a Terra gira sobre seu eixo a uma velocidade incrível, nós permanecemos em pé sobre a sua superfície, porque o princípio de gravidade impede que sejamos atirados ao espaço por essa velocidade. Sabemos que essa lei de gravidade é eterna; não está em vigor hoje para ser suspensa amanhã. Se entrássemos num elevador hidráulico, permaneceríamos seguros sobre uma coluna de água, porque este fluído exerce menos pressão que os sólidos e esta propriedade foi a mesma ontem, é hoje e o será sempre. Se esta ação fosse suspensa, ainda que por segundos, milhares de pessoas morreriam, mas essa lei é firme e constante e nós acreditamos nela.

A Lei de Causa e Efeito também é imutável. Se atiramos uma pedra para cima, o ato não se completará até que, pela lei da gravidade, ela volte à terra. "Aquilo que o homem semeia, assim colherá", é a forma com que esta lei se expressa no reino moral. "Os moinhos de Deus moem devagar, mas moem extraordinariamente bem" e, uma vez que um ato se verificou, a reação virá em algum dia e de alguma maneira, nem mais nem menos, como a pedra que atiramos ao ar volta à terra.

E claro que nem todas as causas que nos impulsionam na vida têm seu efeito na presente existência, e daí deduz-se que devem produzir seus efeitos em alguma parte ou em outra ocasião, a menos que se invalide a lei. Isto seria tão impossível como a suspensão da força da gravidade, o que levaria o Cosmos ao caos. A Filosofia Rosacruz explica isto ao estabelecer que o homem é um espírito que veio à Escola da Vida com o propósito de desenvolver seu poder espiritual latente. Com esta finalidade, vive muitas vidas em corpos terrestres, cada um deles de textura mais fina que o anterior, o que o capacitará a expressar-se cada vez melhor. Nos primeiros graus desta escola de evolução, o homem vem à vida na manhã de sua infância e são-lhe dadas lições que precisa aprender e, à noite, quando a morte vem para fazê-lo dormir, descansará de seus trabalhos e esforços até o amanhecer de um novo corpo infantil em novo renascimento. Cada dia, a Experiência, a mestra de sua escola, irá ajudá-lo a aprender novas lições e, gradualmente, irá tornando-o mais proficiente. Algum dia completará este estudo e, assim como aprendeu a usar corpos, aprenderá a formá-los.

Portanto, quando vemos alguém que demonstra poucas qualidades, sabemos que é uma alma jovem que está freqüentando há pouco a escola da vida. Quando encontramos um caráter firme e belo, vemos que é uma alma experimentada, que já passou por muitas vidas aprendendo suas lições. Não duvidamos da bondade de Deus quando observamos as desigualdades que nos cercam. Sabemos que, algum dia, todos seremos perfeitos, como perfeito é nosso Pai Celestial.

Os Ensinamentos Rosacruzes também tiram os espinhos da dor que são causados pelas grandes provas que sofremos: a perda de nossos entes queridos e também a dos que se desencaminharam. É um fato que "em Deus vivemos, nos movemos e temos o nosso ser", portanto, se uma só alma se perdesse, uma parte de Deus se perderia e tal proposição é totalmente impossível. Sob a imutável Lei de Causa e Efeito, estamos destinados a encontrar esses seres no futuro, sob outras circunstâncias, e o amor que nos une continuará sempre até alcançar sua mais elevada expressão. As leis da Natureza seriam violadas se uma pedra atirada da terra ficasse suspensa na atmosfera e, sob essas leis imutáveis, aqueles que passam à esferas mais elevadas devem regressar. Cristo disse: "Necessário é nascer outra vez" e "Se vou ao Meu Pai, voltarei".

Ainda que nossa razão possa levar-nos a conhecer os mistérios da vida, há, sem dúvida, um estado mais elevado: o conhecimento direto, que é o mais alto grau de consciência, capaz de verificar as considerações precedentes por meio do sexto sentido latente em todos nós, que nos torna aptos a ver os mundos espirituais tão claramente como vemos o mundo temporal. Este sexto sentido é desenvolvido durante o curso da evolução, e existem agora alguns meios de desenvolvê-los para aqueles que se dedicam ao trabalho e reservam para isto um tempo necessário. Alguns alcançaram este resultado e falam-nos de suas viagens no mundo espiritual. Acreditamos neles, como acreditamos naqueles que nos descrevem a África ou a Austrália por onde viajaram. Igualmente podemos dizer: nós sabemos que a Terra gira sobre seu eixo e descreve uma órbita ao redor do Sol, porque assim o dizem os cientistas que fizeram tais investigações. Também dizemos que sabemos que o morto vive e que nós, mortos ou vivos, no corpo ou fora dele, descansamos no Amor de nosso Pai que está no Céu, "sem cuja Vontade nem a menor folha cai por terra". Ele cuida de todos e guia nossos passos de acordo com seu plano de desenvolver nossos poderes potenciais até à mais elevada espiritualidade.

Em conseqüência, sentimos uma grande satisfação quanto a filosofia de vida dada pelos rosacruzes, e seguimos seus ensinamentos preferindo-os a outros sistemas. Convidamos todos que desejem receber estes ensinamentos, a estudá-los e investigá-los.


 

CAPÍTULO XXIV

 

O Objetivo da Fraternidade Rosacruz

 

O objetivo da Fraternidade Rosacruz já foi claramente definido em nossa literatura, assim como já foram enunciados os meios pelos quais espera alcançar o fim a que se propõe; mas, em resposta a muitos pedidos, decidimos fazer um resumo deste assunto.

O mundo é a escola de ensinamento de Deus. No passado aprendemos a construir diferentes veículos, entre eles o corpo físico. Através deste trabalho somos promovidos de grau em grau e, em cada um, obtendo uma extensão maior de consciência. Desenvolvemos olhos para podermos ver, ouvidos para ouvir, e outros órgãos para possuirmos o paladar, o olfato e o tato. Mas nem todos os egos se elevaram ao mesmo tempo. Quando a neblina na Época Atlante condensou-se e encheu as bacias da Terra com oceanos de água, conduzindo os homens para as terras altas, muitos pereceram por asfixia, porque não tinham pulmões desenvolvidos. Não puderam passar pelo portal do arco-íris que foi, por assim dizer, o portão de entrada da nova era com suas condições atmosféricas secas.

Outra grande transformação do mundo está por vir, não sabemos quando. Mesmo Cristo confessou Sua ignorância quanto ao dia e à hora; Ele alertou-nos que o dia virá como o ladrão na noite, e Ele profetizou que as condições do mundo serão similares àquelas que prevaleceram nos dias de Noé. Eles viviam despreocupados e divertindo-se quando, de repente, as comportas do céu se abriram e a morte e a destruição propagaram-se diante deles.

Cristo disse-nos que é possível alcançar o reino de Deus e atingir a consciência e as condições que lá prevalecem. Mas Paulo informa-nos que a carne e o sangue não herdarão o reino de Deus; afirma que temos um corpo-alma (Soma psuchicon - 1 Cor. 15:44), e que encontraremos o Senhor no ar quando Ele vier. Este corpo-alma é tão necessário para a entrada na nova era do reino de Deus, como o corpo equipado com pulmões foi necessário para os habitantes de Atlântida que desejavam entrar na era que estamos vivendo agora. Portanto, façamos nossa parte, e trabalhemos pela nossa eleição preparando o Dourado Manto Nupcial, o corpo-alma. Só ele pode assegurar nossa admissão ao casamento místico.

A humanidade está, lentamente, movimentando-se na direção certa, conduzida pelas diferentes religiões, mas existe uma classe sempre crescente que sente as asas do corpo-alma brotarem, pessoas que têm uma necessidade interna de alcançar o reino de Deus. Embora alheias à qualquer ideal definido, sentem uma verdade maior e uma luz mais evidente do que aquela que a Igreja irradia; estão cansadas de parábolas e anseiam aprender os fatos essenciais aos pés de Cristo.

A Fraternidade Rosacruz começou com o propósito de alcançar essa classe de pessoas mostrando-lhes o caminho da iluminação, ajudando-as a construir seu corpo-alma e a desenvolver os poderes anímicos que as capacitarão a entrar conscientemente no reino de Deus e obter o conhecimento direto.

Esta é uma grande tarefa, a maior de todas, e mesmo sob as mais favoráveis condições existentes, o progresso deve ser lento. Mas, se o aspirante continuar com paciente perseverança em fazer o bem, isso pode ser realizado.

Os métodos são definidos, científicos e religiosos. Tiveram sua origem na Escola Ocidental da Ordem Rosacruz e são, portanto, especialmente adaptados para os povos ocidentais. Algumas vezes, mas muito raramente, trazem resultados a curto prazo; geralmente são necessários anos e até vidas antes que o aspirante atinja seu objetivo, mas, ao seguir este sistema, alcançaremos ao final a realização de tudo que o nosso coração deseja.

O Tabernáculo no Deserto era uma representação simbólica do caminho para Deus e, como diz Paulo, encerrava uma sombra das boas coisas que virão. Tudo nele tinha um significado espiritual. A mesa do pão da proposição dá-nos uma lição importante que se harmoniza com nossa atual situação. Os estudantes devem estar lembrados que os antigos israelitas eram instruídos a trazer o pão da proposição ao Tabernáculo a intervalos estabelecidos. O grão, com o qual este pão era feito, foi-lhes dado por Deus, mas eles precisavam preparar a terra na qual o grão iria crescer, tinham de plantar e cultivar, arrancar a erva daninha e regar o grão para garantir um maior crescimento; precisavam colher e debulhar, moer e cozer e, dessa forma, obtinham os pães que traziam ao Tabernáculo como o pão para mostrar o seu trabalho. Do mesmo modo, Deus dá a todos o grão da oportunidade de servir, mas é nosso dever cultivar essas oportunidades, acalentá-las e alimentá-las no solo adubado com amorosa bondade, de modo que possam alcançar um maior desenvolvimento. Precisamos ter sempre em mente as palavras de Cristo: "Eu vim para ministrar e servir". Portanto, qualquer um de nós que aspire seguir Seus passos e ser grande no reino de Deus, precisa estar sempre alerta às oportunidades de servir nosso semelhante. Cada dia deve ser amplamente preenchido com atos bondosos e prudentes, pois são a urdidura e a textura do tecido com que se tece o Dourado Manto Nupcial. Sem este "trabalho" de nada valeriam as orações, os jejuns ou qualquer outra obrigação religiosa. É inútil apresentar-nos ao templo sem este pão para mostrar, pois ele indicará que realmente trabalhamos no serviço do Mestre.

O precedente é também o ensinamento das igrejas exotéricas, mas o que exporemos são exclusivamente os métodos e os ensinamentos científicos dos Rosacruzes baseados no mais profundo conhecimento dos fatos espirituais, através dos quais o aspirante estará capacitado a alcançar um maior e mais amplo desenvolvimento em cada vida. Por esse caminho, o nosso avanço espiritual será acelerado muito além de nossos almejados sonhos. É o ensinamento espiritual mais importante dado ao homem nos tempos atuais, e ninguém que procure honestamente seguir esse método tão simples deixará de ser grandemente beneficiado.

O éter é o agente de transmissão da luz, e é o que grava a imagem numa película. Permeia o ar e com cada respiração que fazemos, do nascimento à morte, o éter entra em nosso sistema e grava cada cena de nosso meio-ambiente e das nossas ações num pequeno átomo no coração. Assim, todo ser humano carrega consigo um registro completo de sua vida, que é assimilado depois da morte. A expiação das más ações causará dor e angústia quando no purgatório. Este sofrimento será, então, transmutado em consciência para evitar a repetição dos mesmos erros em vidas sucessivas, assim como as boas ações serão transmutadas em amor e benevolência. No entanto, em vez de esperar que a transmutação do pão da proposição da vida seja realizada somente após a morte, o aspirante desejoso de conquistar o céu pode assimilar os frutos de cada dia depois de recolher-se à noite e antes de dormir, relembrando as ações praticadas. Os acontecimentos diários devem ser revistos e considerados na ordem inversa, isto é, revê-se primeiro o que foi feito nessa mesma noite, depois os acontecimentos da tarde, do meio-dia e da manhã. Isto é importante porque está de acordo com a forma pela qual o panorama da vida é revisto depois da morte, desenrolando-se primeiro os acontecimentos que precederam a morte e recuando, sucessivamente, até os dias da infância. O objetivo é mostrar os efeitos das ações praticadas e depois as causas que as originaram.

Nesta retrospecção, o aspirante não obterá um resultado eficaz se revir os acontecimentos do dia ligeiramente, sendo indulgente consigo pelos erros cometidos e louvando-se com entusiasmo pelas boas ações praticadas. Deve lembrar-se que está ante o altar dos sacrifícios, onde as ofertas pelos pecados cometidos eram queimadas. Primeiro, passavam-lhes sal e depois eram colocadas no altar para serem consumidas por um fogo divinamente ateado. Todos sabem que dor intensa é causada pelo sal quando é friccionado numa ferida e esta fricção simboliza a dor que o aspirante deve sentir pelas suas más ações. Observe que não era permitido depositar o sacrifício no altar sem que tivesse sido friccionado com sal. Deus não o aceitaria antes, mas, ao ser salgado, foi consumido por um fogo aceso pelo Próprio Deus.

Isto simboliza que, a menos que lavemos nossas más ações do dia com o sal de nossas lágrimas e com sincera contrição, Deus não aceitará nosso sacrifício e arrependimento. Mas, quando realmente nos arrependemos, os pecados serão lavados e nosso átomo-semente ficará tão branco como a neve. Quanto às nossas boas ações, lembremo-nos que existiam no Tabernáculo duas pequenas pilhas de incenso sobre o pão da proposição. Eram oferecidas no altar de incenso onde a fumaça ascendia com um suave aroma para o Senhor, bem diferente do odor nauseante que vinha do altar onde as oferendas pelos pecados eram queimadas. E de admirar que Deus não gostasse dos sacrifícios de touros e bezerros, mas sentisse prazer num coração arrependido e num espírito penitente?

É este extrato espiritual aromático de nossas boas ações que constroem nosso corpo-alma. Pelo processo natural comum, a nossa existência "post-mortem" transcorre num período de um terço dos anos que vivemos no corpo físico, para assim colhermos o que semeamos. Mas, quando um aspirante já assimilou os frutos da vida através da fiel retrospecção ao final de cada dia, torna-se livre logo após abandonar o corpo físico, e pode utilizar os anos que outros despendem no purgatório e no primeiro céu da maneira que lhe aprouver. Além disso, como não precisa de alimento, de abrigo ou de dormir, pode passar as vinte e quatro horas do dia fazendo o bem. Dessa forma, terá tantos anos. de serviço e de, crescimento anímico depois da morte, quanto os anos de sua vida na Terra. Tendo sido assim orientado, suas realizações serão, provavelmente, muito maiores , do que as que realizaria em várias vidas vividas de maneira comum.

Para auxiliar os aspirantes merecedores, ensinamentos ainda mais profundos e definidos são ministrados pelos Irmãos Maiores através da Fraternidade Rosacruz. Os estudantes que sentem esta chamada interna podem pedir informações à respeito desses ensinamentos.

 

FIM